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Campeão de tudo: como o Corinthians virou o melhor time feminino do país

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06/12/2020 21h42

Foto: Divulgação Corinthians

O Corinthians conquistou o bicampeonato brasileiro feminino neste domingo ao vencer o Avaí Kindermann por 4 a 2 (gols de Gabi Nunes, Gabi Zanotti duas vezes e Vic Albuquerque) na Neo Química Arena. Este foi o sexto título desde a retomada do investimento do clube no futebol feminino, em 2016 – primeiro na parceria com o Audax, depois com o Corinthians trazendo o time para a sua estrutura.

Neste período, o projeto encabeçado por Cris Gambaré e comandado dentro de campo por Arthur Elias colecionou troféus e recordes: dois Brasileiros, duas Libertadores, uma Copa do Brasil e um Campeonato Paulista.

Mais do que os títulos, o desempenho em números também impressiona. O Corinthians chegou a uma sequência de 48 jogos de invencibilidade entre 2019 e 2020. Assim como no ano passado, por enquanto tem apenas uma derrota na temporada. E o título deste domingo veio com a melhor campanha da história do Brasileiro feminino desde que ele existe num formato assim (2013): aproveitamento de 88%, com 18 vitórias, dois empates e uma derrota – 57 gols marcados, apenas 10 sofridos. Até então, a melhor campanha havia sido a do Santos em 2017, campeão justamente em cima das rivais corintianas, com 83,3% de aproveitamento de todos os pontos disputados.

Foto: Rodrigo Coca / Agência Corinthians

Não por acaso, naquele ano, era o Santos a grande referência do Brasil no futebol feminino. Com as Sereias da Vila, o time da Baixada Santista oferecia a melhor estrutura e as melhores condições de trabalho para as mulheres em campo. O cenário mudou nos últimos anos. Não que o Santos ainda não tenha um projeto relevante na modalidade, mas o Corinthians conseguiu se tornar, aos poucos, o principal time feminino do país.

Vale ressaltar que, no futebol masculino, tanto Santos quanto Corinthians vivem crises financeiras e de gestão. O time corintiano, porém, conseguiu deixar os problemas fora de campo, sem que eles tivessem algum reflexo na estabilidade da equipe feminina.

Gestão e trabalho a longo prazo

Há, talvez, dois nomes que ajudam a explicar esse sucesso: Cris Gambaré, diretora de futebol feminino, e Arthur Elias, técnico que completou, neste domingo, 200 jogos à frente da equipe.

Cris Gambaré (à direita) é responsável pela coordenação do futebol feminino no Corinthians (Foto: Roberta Nina/ Dibradoras)

Cris foi quem levou o projeto do futebol feminino corintiano para a diretoria alvinegra e fez com que ele saísse do papel na parceria com o Audax em 2016. Ela costuma dizer que "o Corinthians fez a lição de casa na casa dos outros", mas que foi um período de muito aprendizado, imprescindível para que, quando investisse na gestão própria, o clube já tivesse conhecimento para ter mais acertos do que erros

O trabalho dela passou também por convencer Andrés Sanchez, então presidente do Corinthians, a investir numa modalidade pela qual ele não tinha nenhuma simpatia. Por incrível que pareça, hoje, o cartola virou um fã declarado do time feminino.

"O Andrés, que não gostava, e a gente sabe muito bem do que aconteceu anos atrás, e ele não gostava. Hoje, ele fala de boca cheia, com emoção o quanto ele quer ajudar a gente, o quão satisfeito ele está com o que a gente está fazendo. Sem a estrutura que o Corinthians nos fornece, a gente não conseguiria fazer um grande trabalho", disse a zagueira corintiana Erika às dibradoras ainda em 2019, após o título Paulista.

Foto: Bruno Teixeira/Ag. Corinthians

Além da boa gestão, outro fator importante para tornar o Corinthians um time tão vencedor foi a manutenção do bom trabalho de Arthur Elias e sua comissão técnica. Hoje, muitas das jogadoras que atuaram com ele desde 2013 (quando foi campeão brasileiro com o Centro Olímpico) ainda estão na equipe, o que favorece um entrosamento impossível de ser encontrado em qualquer outra equipe do Brasil. Suas ideias de jogo já estão tão bem compreendidas pelo elenco. Nesta temporada, o Corinthians rodou ainda mais o time, variando as escalações, mas nunca a forma de jogar. Se em 2019, a atacante Millene destoou como a maior artilheira do campeonato, com 19 gols, neste prevalece o coletivo. A maior goleadora da equipe foi Crivellari, com sete gols.

"A sequência do trabalho, o fato de ser a mesma comissão técnica, uma base do grupo se mantendo, com contratações favoráveis para a adaptação a nossa maneira de jogar. O tempo de trabalho nos trouxe muita consistência tática, hoje trabalho com diferentes sistemas e estratégias e as atletas entendem e executam muito bem porque temos uma identidade de jogo muito bem formada. E também é importante ressaltar o trabalho em conjunto com a Cris (Gambaré), nossa diretora, que traz todo o suporte que precisamos", afirmou Arthur Elias às dibradoras.

Quem poderá derrubar o Corinthians?

Os resultados têm feito o Corinthians assumir uma hegemonia no futebol feminino nacional. Se antes, o Santos tinha tradição de investir na modalidade e montou times históricos como aqueles que tinham Marta, Cristiane e companhia e levaram o caneco da Libertadores em 2009 e 2010, atualmente é o clube do Parque São Jorge quem mais oferece estrutura e condições de trabalho para as jogadoras.

Deu Corinthians no primeiro dérbi do Brasileiro Feminino (Foto: Rodrigo Coca / Agência Corinthians)

Com nomes de destaque da seleção feminina, como a lateral esquerda Tamires, a zagueira Erika, a meio-campista Andressinha, a atacante Adriana, e a goleira Letícia a equipe corintiana mescla experiência com juventude e assume um protagonismo absoluto no futebol das mulheres.

E o sucesso do Corinthians faz com que seus rivais "se mexam" para tentar derrubar a hegemonia que começa a ser construída pelo time alvinegro. O Palmeiras, que voltou a ter uma equipe feminina em 2019, já fez um investimento maior em 2020 com mais contratações e uma estrutura melhor para as atletas. O São Paulo também busca se fortalecer, assim como o Santos, que apostou em Cristiane nesta temporada.

Ainda há equipes tradicionais do futebol feminino, como a Ferroviária, campeã em 2019, o Avaí Kindermann, vice em 2020, que prometem manter um alto nível de competitividade, tentando fazer frente aos times de camisa. O Campeonato Brasileiro feminino mais competitivo de todos os tempos terminou com o Corinthians campeão – mas o desafio da equipe de Arthur Elias tende a ser maior a cada ano.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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