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Bicampeã mundial, jogadora da seleção americana quer tentar carreira na NFL

Renata Mendonça

15/04/2020 04h00

Foto: AP / Matt Rourke

Bicampeã olímpica, bicampeã mundial, melhor jogadora do mundo em 2015 e 2016, a meio-campista Carli Lloyd já conquistou tudo o que poderia sonhar no futebol. Craque da seleção americana, ela chega as 37 anos ainda com o objetivo de jogar mais uma vez os Jogos Olímpicos para depois, quem sabe, tentar uma carreira inusitada na aposentadoria.

Nem dá para dizer exatamente que Lloyd vai "pendurar as chuteiras". Isso porque ela quer tentar ser "kicker" em um time da NFL (liga de futebol americano) quando terminar seu ciclo nos gramados do futebol da bola redonda. A ideia não veio do nada. Tudo começou quando, depois da Copa do Mundo do ano passado, a craque americana visitou o Philadelphia Eagles e acertou um chute de 55 jardas marcando um "field goal" – o nome dado ao gol marcado pelo kicker na NFL que pode render o ponto extra depois de um touchdown.

Na época, o vídeo viralizou e muita gente passou a especular sobre ela ter uma chance na NFL. Lloyd não descartou a possibilidade, mas disse que, no momento, ainda estava focada no futebol. Depois, veio um comercial no intervalo do SuperBowl deste ano em que ela apareceu chutando a bola oval ajeitada por Crystal Dunn (também jogadora da seleção americana) para um field goal e o assunto voltou à tona. E aí na última semana, Lloyd participou de uma live promovida pela Women's Sports Foundation dos Estados Unidos e voltou a ser questionada sobre a ideia.

 

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Thank you @nfl for including me in your #SBLIV commercial! Tune in right before kickoff to see it. #NFL100

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"Primeiramente, e acima de tudo, estou focada no futebol neste momento. Mas sempre fui uma pessoa que ama um desafio. Nunca fugi de nenhum desafio na minha vida", disse a jogadora.

"Eu sei que com o treinamento correto e a técnica certa e com alguém me orientando, eu conseguiria fazer isso. Não vou descartar isso, quem sabe".

Primeira mulher na NFL?

É verdade que Lloyd já está com 37 anos e, com a Olimpíada tendo sido adiada, ela só pensaria em parar de jogar aos 38, depois dos Jogos. Isso significaria começar uma carreira tardia como kicker – ainda assim, essa é uma posição que costuma ter jogadores mais velhos na NFL – já que exige menos fisicamente.

Além disso, nunca dá para duvidar de uma atleta do nível de Carli Lloyd. Um dos principais nomes da geração americana bicampeã olímpica (em 2008 e 2012) e contando com um grande protagonismo no título mundial de 2015 conquistado no Canadá, a meio-campista se mantém em alto nível sempre querendo mais – não à toa, ela não ficou nem um pouco satisfeita como reserva no time de Jill Ellis que acabou campeão da Copa no ano passado. Seu papel no futebol não só é importante dentro de campo, como também fora, já que ela é uma das líderes do grupo que entrou na Justiça contra a US Soccer (Confederação Americana de Futebol) contra discriminação de gênero e pedindo igualdade de tratamento e de pagamento com relação à seleção masculina.

Sendo assim, o nome de Lloyd já está na história do esporte. Mas se ela conseguir entrar para um time da NFL, quebrará uma barreira que nenhuma mulher antes conseguiu romper.

A americana Lloyd marcou um golaço do meio de campo na final de 2015 contra as japonesas (Foto: Elaine Thompson/ AP Photo)

"Eu sei que há muitos desafios envolvidos nisso e sei que alguns jogadores e torcedores vão pensar que isso é uma loucura. Mas eu também vejo por outra perspectiva. Talvez isso é algo que pode quebrar barreiras e dar para as mulheres, especialmente, a confiança que elas precisam para saber que podem fazer parte de um time da NFL como kicker".

"Não vou tentar ser um running back ou um quarterback, isso seria uma falha épica. Mas eu sei que eu posso chutar uma bola bem e eu tenho orgulho da minha técnica, então é realmente sobre treinar", reforçou.

A imprensa americana menciona algumas sondagens que a jogadora teria recebido de equipes da NFL para arriscar um field goal em um jogo de pré-temporada do ano passado. Caso invista mesmo nessa carreira, Carli Lloyd seria a primeira mulher na história da NFl a jogar uma partida.

Nos últimos anos, barreiras têm sido quebradas por mulheres fora do campo na NFL. Já houve a primeira mulher a narrar um jogo, a primeira a fazer parte do corpo técnico, a primeira a fazer parte de uma comissão técnica de um time campeão do Super Bowl. Mas a conversa sobre mulheres disputarem a NFL como jogadoras ainda está longe da realidade. No ano passado, ganhou repercussão a história de Toni Harris, também utilizada em uma propaganda do intervalo do SuperBowl – a jovem conseguiu uma bolsa na universidade para jogar como safety no time de futebol americano ao lado dos homens. Ela é uma que sempre diz sonhar em disputar a liga.

"Gosto de provar que as pessoas estão erradas. Meu plano é ser a primeira mulher a jogar a NFL", disse Harris, na época.

Mas é possível que Lloyd consiga abrir esse caminho para ela. "Sei que não é simples. Eu tenho que tentar de verdade. Vestir o capacete, o uniforme, aprender a técnica, treinar e aí entender se é possível. Eu recebi mensagens de meninas que jogam por times de high school dizendo que minha presença ali deu confiança para que elas tentassem ir mais longe. Esse é o tipo de coisa que você quer ouvir. Claro que há um desafio enorme de jogar um esporte totalmente dominado por homens, nenhuma mulher conseguiu isso no nível profissional. Mas nós estamos em outros tempos. Acho que tudo é possível. E alguém tem que ser a primeira, né?", finalizou.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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