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1ª mãe a ter 100 jogos pela seleção, Tamires fica sem homenagem da CBF

Renata Mendonça

19/12/2019 04h00

Foto: Mowa Press

A lateral esquerda Tamires completou, na semana passada, ao entrar em campo no amistoso do Brasil diante do México na Arena Corinthians, 100 jogos pela seleção brasileira. A primeira convocação da jogadora foi em 2013 e, desde então, ela conquistou duas Copas Américas, um ouro no Pan-Americano, e disputou duas Copas do Mundo e uma Olimpíada.

Única atleta da seleção feminina que tem um filho, Tamires teve todas as suas convocações após o nascimento dele. Isso porque antes ela chegou a parar de jogar duas vezes. Quando Bernardo nasceu, em 2009, a jogadora teve a certeza de que o futebol tinha acabado para ela. Somente em 2011 ela conseguiu voltar plenamente à ativa e, dois anos depois, foi chamada pela primeira vez para a seleção principal. Hoje, a lateral é considerada um dos pilares do time comandado por Pia Sundhage, encerrando um ano praticamente perfeito, com excelentes atuações na Copa do Mundo da França e também pelo Corinthians, onde conquistou a Libertadores e o Paulista nesta temporada.

Tamires foi convocada pela primeira vez em 2013 (Foto: Mowa Press)

Mas se na seleção masculina é comum ver a CBF homenagear os jogadores que completam uma marca importante como essa, no feminino isso não acontece. A entidade alega não ter computado os dados das jogadoras no passado para ter certeza dessas estatísticas hoje – há cerca de um ano, a entidade está fazendo um trabalho para resgatar essas informações e contabilizá-las oficialmente.

Assim, a primeira mãe a completar 100 jogos pela seleção brasileira feminina ficou sem o reconhecimento da entidade. Mas, ainda assim, ela recebeu a camisa com o número 100 após a Nike ter autorizado a própria assessoria de Tamires a gravar o número no uniforme com o nome da lateral.

O fato de a CBF não ter registrado dados das jogadoras que já passaram pela seleção feminina é, por si só, um absurdo. Para se ter ideia, a entidade não confirma nem mesmo o número de gols de Marta (que já superou Pelé na artilharia com a camisa amarela) ou o número de jogos de Formiga (que também já superou Cafu e se tornou a atleta que mais vezes entrou em campo pela seleção na história). Mas o que agrava ainda mais isso é saber que a primeira convocação de Tamires veio em 2013. Faz "só" seis anos, e nem assim a CBF consegue levantar os dados para fazer uma justa homenagem a alguém que se entrega tanto em campo pelo Brasil.

 

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Vestir a camisa da seleção brasileira por 100 jogos como mãe e atleta, somando longas viagens distante do filho pequeno, é uma conquista enorme que, até agora, só a Tamires conseguiu na história do futebol feminino no Brasil.

Na primeira vez que ela foi chamada para representar a seleção, Bernardo, seu filho, tinha 3 anos. Na segunda-feira, ele mesmo entregou a camisa amarela tão simbólica pra ela. O número 100 nas costas é um detalhe muito representativo para uma mulher que lutou tanto pelo direito de ocupar esses gramados, que parou de jogar duas vezes quando teve filho e ouviu de tanta gente "você não tem juízo, seu sonho acabou".

Tamires recebeu a camisa com a homenagem produzida por sua assessoria (Foto: Arquivo Pessoal)

Essa conquista não é só da Tamires. É de todas as mães que todos os dias batalham para conseguir conciliar a carreira e os filhos numa sociedade que a todo tempo tenta impedi-las de fazer isso. Para se ter ideia, metade das mulheres que têm filhos perdem o emprego em até dois anos depois da licença-maternidade (dados da pesquisa da FGV). Conseguir trabalhar e criar filhos é um grande desafio para as mulheres brasileiras – conseguir jogar futebol por um dos melhores clubes do país, pela seleção brasileira e criar um filho é uma conquista enorme da Tamires, que merece ser muito aplaudida e reconhecida por isso.

É triste saber que essa homenagem para a Tamires não tenha partido da CBF, entidade que comanda o futebol brasileiro e que deveria prezar pela história das mulheres na seleção assim como preza pela dos homens.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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