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Brasileiro feminino tem a mesma premiação há 4 anos; campeão levou 120 mil

Renata Mendonça

01/10/2019 10h09

Foto: Divulgação Ferroviária

O Campeonato Brasileiro feminino é recente, e existe neste formato há somente seis anos. Inicialmente, ele foi criado com 20 equipes em divisão única e, pasmem, sem qualquer premiação para campeão e vice. Só a partir de 2016, o torneio organizado pela CBF passou a premiar as equipes de acordo com o desempenho delas no torneio. Desde então, lá se foram quatro edições da principal competição do futebol feminino no país e nenhum aumento de premiação de lá para cá.

Como campeão brasileiro deste ano, a Ferroviária levou R$ 120 mil em premiação da CBF. O Corinthians, que foi vice, levou R$ 60 mil. São exatamente os mesmos valores que levaram Corinthians e Rio Preto (campeão e vice) no ano passado, e os mesmos valores que são oferecidos pela confederação desde 2016.

A desculpa para não oferecer dinheiro aos participantes do torneio costumava ser o fato de o Campeonato Brasileiro feminino não dar nenhum lucro à entidade, só despesas. De fato, a realidade do futebol feminino ainda requer investimento antes de dar retorno – é assim que acontece em todo lugar. A Inglaterra, por exemplo, é um dos países que mais tem investido na liga local e já ganhou um patrocínio milionário da Barclay's para a Women's Super League, que já conta com a participação de todos os principais times de camisa ingleses.

No Brasil, o futebol feminino ainda é uma modalidade em constante transformação. Com o sucesso da Copa do Mundo feminina neste ano, mais marcas passaram a se interessar pela modalidade. O Brasileiro feminino ganhou um patrocinador oficial – a Uber. Tanto na final da série A2 quanto na final da A1 no último domingo, foi possível perceber a presença de placas de patrocínio contornando todo o campo. Houve também transmissão dos jogos no Twitter e na TV aberta (ainda sem pagamento de direitos, como acontece no masculino). O retorno começa a aparecer e, para a roda girar, é preciso também a CBF investir na premiação com um incentivo a mais para os clubes, que são os responsáveis por elevar a cada ano o nível das competições.

Foto: Divulgação Ferroviária

Os números desta edição do torneio dão mostras do sucesso crescente da competição. Neste ano, na A1 (primeira divisão), foram 134 jogos e mais da metade deles (79) tiveram transmissões online ou na TV. A Band se tornou a emissora oficial da competição, mostrando as partidas do futebol feminino todo domingo às 14h, e o Twitter também fez uma parceria com a CBF para mostrar os jogos pela rede social.

No total, foram quase 13 milhões de pessoas alcançadas com as transmissões. Na final deste domingo, a Band registrou recorde de espectadores e chegou a figurar no terceiro lugar de audiência em todo o país. A emissora triplicou, aliás, a pontuação no Ibope que costumava atingir antes das transmissões do futebol feminino nesse mesmo horário.

Tudo isso mostra que o campeonato está crescendo e, com isso, nada mais justo do que fazer crescer também a recompensa dos clubes pela conquista.

A CBF alega, porém, que o pensamento é de "fazer um investimento na competição como um todo. Aumentou o número de jogos, transmissões, aporte financeiro aos clubes. Outras competições também cresceram, como a A2, e o Brasileiro sub-18, então a prioridade foi investir na modalidade".

"Na primeira divisão, as premiações aos clubes serão de R$ 15 mil para a primeira fase, R$ 20 mil para quem avançar à segunda, R$ 30 mil para jogar a terceira fase, R$ 60 mil para o vice-campeão e R$ 120 mil para o clube que assegurar o título. Além das premiações, os times ainda têm uma ajuda de custo – em formato de reembolso – com o pagamento de R$ 5 mil aos visitantes e R$ 10 mil aos donas da casa para os custos operacionais e pequenas despesas. O custo de viagens, logística e hospedagem a entidade também arca."

Corinthians foi campeão brasileiro feminino em 2018 (Foto: dibradoras)

A principal questão aqui é que a CBF demorou demais para começar a investir na modalidade. A seleção feminina existe desde 1988, foi vice-campeã mundial em 2007, conquistou duas pratas olímpicas (2004 e 2008) e, ainda assim, o futebol feminino só ganhou um campeonato de verdade em 2013. Antes disso, o que havia era uma Copa do Brasil sem muita organização e, nas décadas de 1980 e 1990, havia um Brasileiro que durava uma ou duas semanas, acontecendo em uma cidade-sede, com as atletas alojadas em escolas e jogando praticamente todos os dias sob o sol de 12h.

Não dá para desenvolver uma modalidade desse jeito. É preciso de campeonato sério para jogar para que os clubes possam investir, montar seus times e acreditar no retorno que um dia pode vir. Não há negócio nenhum no mundo que tenha dado lucro sem que tenha existido investimento antes. Por isso, é importante demais que o futebol feminino acompanhe essa lógica.

É claro que não dá para comparar com o universo do futebol masculino. Um campeonato que existe desde 1959, que tem 60 anos de história e que contou com investimento da CBF também para hoje render valores milionários de direitos de transmissão da TV, que geram uma premiação ao campeão que, neste ano, chegou aos R$ 33 milhões (quase o dobro do ano passado, que era de R$ 18 milhões).

O que se espera é que, no Brasileiro feminino, que tem crescido mais a cada ano, mostrando seu potencial e recebendo mais visibilidade da mídia, também haja essa evolução. Os clubes têm investido cada vez mais, o nível técnico tem aumentado cada dia mais, então é justo que haja uma valorização para todo esse trabalho com uma premiação maior.

Vale lembrar que o Campeonato Paulista de futebol feminino, que existe desde 1984, teve uma pausa de 1988 a 1996 e, desde então, seguiu como um dos mais tradicionais da modalidade, ainda não oferece premiação às equipes.

 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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