Copeiras e experientes: como a seleção americana chega ao Mundial da França
Foi a primeira seleção a ser campeã mundial e é também a atual vencedora do torneio. Além disso, contam com mais uma taça levantada nesse intervalo de tempo: estamos falando da seleção americana, sempre favorita quando o assunto é Copa do Mundo.
Com a forte popularidade da modalidade e o fomento massivo do esporte no país onde futebol é coisa de menina, a equipe norte-americana é exemplo de vitórias dentro e fora de campo, demostrando também engajamento na busca por igualdade entre homens e mulheres.
Há pouco mais de um mês para o início da 8ª Copa do Mundo Feminina que acontecerá na França entre os dias 07 de junho e 07 de julho, é importante falar sobre a maior vencedora do campeonato (1991, 1999 e 2015) e como as norte-americanas chegam para a disputa.
Copeiras e estrelas
Depois do terceiro título conquistado no Mundial do Canadá, as americanas passaram por alguns momentos conturbados dentro de campo durante seu caminho de renovação, uma delas foi a eliminação nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, nas quartas-de-final para a Suécia, nos pênaltis.
"Após essa eliminação precoce a seleção enfrentou alguns percalços. Desde a queda na Olimpíada até uma tentativa de golpe das jogadoras veteranas na técnica Jill Ellis. Em 2017 elas pediram a saída da técnica diretamente para o presidente da federação americana, e ouviram um não", recorda-se Amanda Marinho, que ao lado de Duany Khydac e Letícia Lázaro conduzem o podcast Passa no DM, onde discutem bastante sobre a NWSL, a liga de futebol norte-americano que acompanham há muitos anos. Elas também são colaboradoras do site Planeta Futebol Feminino que está no ar há sete anos.
Vale lembrar também que em 2016, cinco jogadoras fizeram uma reclamação formal à Comissão De Igualdade de Oportunidades de Trabalho nos Estados Unidos exigindo "direitos iguais". Recentemente, 28 integrantes da equipe nacional dos Estados Unidos decidiram entrar na Justiça contra a US Soccer (Federação Americana de Futebol) alegando discriminação por gênero na instituição. O processo fala em "anos de discriminação institucionalizada de gênero" que não só afetaram os ganhos financeiros delas na seleção (em comparação com a seleção masculina), mas também os lugares onde jogavam, onde treinavam, o tratamento médico, os técnicos que tinham e até a forma como viajavam para os jogos.
Agora, falando especificamente sobre a preparação do time para a o Mundial deste ano, os Estados Unidos deram um show. Implantaram uma contagem regressiva em forma de 10 amistosos preparatórios e se apresentaram em campo em 10 estados do país. Dessa forma, é impossível não gerar uma forte relação entre o público e a equipe nacional.
"Jogar em casa e com apoio massivo da torcida é um luxo que infelizmente nem todos os times do futebol feminino tem. As americanas aproveitam muito desse fator, e é uma questão cultural. O futebol feminino é mais popular nos Estados Unidos do que no Brasil, por exemplo. Futebol é coisa de menina por lá. Isso é normal. Aqui não", afirmou Amanda ao blog.
A partida contra a Bélgica realizada no início de abril foi pra lá de especial. Antes do jogo começar, as campeãs de 1999 entraram em campo, foram apresentadas uma a uma e ovacionadas diante do público de Los Angeles. A conquista de Brandi Chastain, Mia Hamm, Julie Foudy e outras atletas revolucionou há duas décadas o esporte feminino no país. Reconhecer quem fez parte dessa história é uma atitude muito digna e as ex-atletas não esconderam a emoção.
"É um padrão americano essa proximidade com o país, é importante até para o marketing da seleção. A USNWT faz muito bem a mescla de amistosos fortes com outros considerados mais fracos, isso não cria desgaste no elenco e nem desgaste perante a torcida", opinou Duany.
E o ano de 1999 foi tão simbólico que a atual seleção disputará o Mundial da França vestindo um uniforme que faz referência ao modelo que foi usado pela equipe campeã 20 anos atrás.
"Os EUA competirão na França usando uma nova coleção que canalizam a energia da equipe de 1999 e toda a sua glória no campeonato", destaca o site da Federação. As três estrelas – que representam os títulos conquistados -, aparecem em cima do escudo da seleção, no shorts e nas costas da camisa, onde há também uma impressão de cor cinza destacando cada um dos 50 estados do país. É algo bem simbólico que reflete o apoio de toda uma nação ao time.
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Favoritas, sim!
Não é possível descartar mais uma conquista das norte-americanas em Copas de Mundo. Amanda e Duany também concordam com essa afirmação, mesmo com algumas invenções que a técnica Jill Ellis implantou durante a preparação da equipe. "A base do time segue forte, com jogadoras campeãs do mundo, mas chama atenção a improvisação de algumas atletas fora de suas posições de origem, como Crystal Dunn na lateral esquerda e Lindsey Horan pelo meio. Mudanças que dão muita velocidade para o ataque das americanas, mas fica a dúvida se as jogadoras estão sendo utilizadas em todo seu potencial", analisou Amanda.
Para Duany, o crescimento foi gradativo e a seleção norte-americana conseguiu encontrar um padrão de jogo. "Inicialmente a seleção oscilou muito, demonstrou queda de rendimento, mas não deixou de enfrentar grandes equipes por isso. Agora nessa fase final, a seleção já mostra um estilo de jogo bem definido e vê um crescimento de algumas atletas, o que ajuda diretamente no futebol da equipe", disse Duany.
Para ficar de olho
O elenco é muito competitivo e é muito fácil falar de Tobin Heath, Megan Rapinoe, Carli Lloyd e Alex Morgan. Sem dúvidas, são quatro líderes decisivas que podem desequilibrar dentro de campo e resolver qualquer resultado adverso em questão de minutos – algo bem característico na história desse time.
Falando especialmente sobre Morgan, a atacante chegou ao seu 100º gol marcado com a camisa da seleção no início de abril, durante a vitória por 5×3 contra as australianas .
"Não se pode deixar de notar a evolução da Alex Morgan. Talvez seja o melhor momento da atacante depois daquele 2012 fantástico que ela viveu", pontuou Duany. Amanda completou dizendo que essa Copa será muito especial para a camisa 13. "Finalmente Alex Morgan será protagonista desse time, não mais na sombra da grande Abby Wambach. É dela a responsabilidade de ser artilheira."
A marca de Morgan foi reconhecida por uma das atletas mais reverenciadas da história do futebol feminino nos Estados Unidos. Mia Hamm parabenizou a atacante via Twitter e declarou estar muito feliz por ela.
Além das mais conhecidas entre o público, Amanda destaca outros nomes. "A Lindsey Horan é daquelas jogadoras que joga fora de posição, mas é boa demais para ficar fora do time. Ela oferece a Jill Ellis variações táticas no decorrer da partida, e não me surpreenderia vê-la como segunda atacante, reprisando um papel que já foi feito por Wambach, numa dobradinha com Morgan. Entre as jovens, Rose Lavelle é a grande aposta. Característica de camisa 10, tem sido titular durante a preparação para a Copa, e se tudo seguir normal, deve ser titular na Copa do Mundo, a não ser que Ellis prefira a experiência de Carli Lloyd", palpitou.
Duany fez questão de lembrar de Mallory Pugh, atacante de 21 anos. "Merece um olhar especial. Entrou na equipe e joga como veterana, mas ainda é jovem."
Na história dos Mundiais, as americanas sempre estiveram no pódio em todas as sete edições da Copa do Mundo Fifa. Este ano, na França, elas estão no grupo F e na fase de grupos farão sua estreia contra a Tailândia, no dia 11 de junho. Depois, enfrentam o Chile (13/6) e a Suécia, no dia 20 de junho, podendo se vingar da amarga eliminação no Rio 2016.
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