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Futebol feminino lota estádio também na Itália com recorde para a Juventus

Roberta Nina

25/03/2019 09h06

(Foto: Twitter/L Football Magazine)

O futebol feminino atingiu mais uma marca histórica neste final de semana e desta vez foi na Itália. O Allianz Stadium recebeu 39.027 pessoas para o clássico Juventus x Fiorentina em partida válida pelo Calcio Femminile, a Série A do campeonato italiano. Todos os ingressos disponíveis para a partida se esgotaram. 

A capacidade do estádio é de 41.507 espectadores e o recorde de público no estádio foi de 41.470 pessoas em dezembro de 2016, quando o time masculino da Juventus jogou contra a Roma. 

Mulheres, homens e crianças estavam presentes no estádio de Turim neste final de semana, e as fotos e vídeos demonstram um pouco da atmosfera do local em um domingo à tarde (o jogo aconteceu às 15h).

Como bem lembrou Sergio Arenillas, narrador do Grupo Globo em seu Twitter, este é mais um recorde alcançado pela modalidade, contrariando a opinião de algumas pessoas que insistem em afirmar que o futebol feminino não é interessante.

O jogo 

A expectativa para o confronto era altíssima, já que as duas equipes brigam ponto a ponto pelo título. A diferença entre os times antes do jogo era de apenas um ponto e, após a vitória da Juve por 1×0 – com um gol marcado aos 39 minutos do segundo tempo por  Sofie Pedersen -, as bianconere abriram quatro pontos de vantagem, faltando apenas três rodadas para o fim do campeonato.

A Juventus é comandada por Rita Guarino, ex-jogadora que fez história no futebol feminino italiano. Como atacante, conquistou títulos nacionais e Copa da Itália quando jogou pelos times Reggiana e Torres na década de 1990.

Rita Guarino, treinadora da Juve (Foto: Juventus.com)

Pela seleção italiana, Rita jogou duas Copas do Mundo (1995 e 1999) e três Euros (1993, 1997, vice-campeã em ambas, e 2001). Se aposentou em 2006, se graduou em Psicologia e cursou mestrado em Psicologia do Esporte. 

A oportunidade para atuar como treinadora apareceu e o início de Rita foi como auxiliar técnica da seleção italiana feminina sub-17. Em seguida, assumiu treinadora onde permaneceu de 2015 a 2017, deixando o cargo para comandar o primeiro time feminino da Juventus em 120 anos de história do clube. 

Para ela, o último domingo foi emocionante. "Jogar em um estádio tão lotado causou um pouco de emoção no começo e as equipes estavam contraídas. Foi um jogo muito aguardado e fundamental para dar um passo em direção ao título. Estar à frente no placar e ganhar diante de tantas pessoas foi emocionante. Olho para trás e penso em todas as pessoas que estão lutando para tornar esse esporte mais apreciado e seguido. Foi um dia realmente importante", afirmou ao site da Juventus.

Allianz Stadium com mais de 39 mil pessoas (Foto: Twitter/Juventus)

O jogo foi truncado, bem ao estilo italiano. Cristiana Girelli, a camisa 10 da Juve carimbou o travessão por duas vezes com uma cabeçada em cada tempo. A Viola também criou boas chances e viu um chute de Alia Guagni, dentro da área, bater no travessão e não ultrapassar a linha do gol no segundo tempo.

E foi no detalhe que o jogo foi decidido. A defensora Lisa Boattin levantou a bola na área e Durante, a goleira da Fiorentina, saiu mal do gol, não achou a bola e a meio-campista dinamarquesa, Sofie Junge Pedersen, de cabeça, abriu o placar para a Vecchia Signora.

Juventus lidera o Calcio (Foto: Twitter/Juventus)

"O gol mais importante da minha carreira", declarou Pedersen ao site co clube. "Não jogamos nossa melhor partida, mas foi ótimo fazer isso (o gol) diante deste público. Estou feliz que todas essas pessoas vieram nos ver", afirmou.

Sara Gama, zagueira e capitã da Juventus, declarou que encher o estádio foi um sonho e afirmou que o título está mais perto, mas ainda não garantido. "Quando entrei em campo, tentei olhar mais para o campo do que para as arquibancadas, porque com tantas pessoas no estádio o mais difícil é manter o foco. Conseguimos uma vitória importante que nos dá mais serenidade, mas agora já temos mais uma partida na quarta-feira e jogar tão cedo depois de um dia como hoje não será fácil, por isso teremos de manter o foco. Deste dia trarei comigo a emoção das minhas companheiras, o público e a vitória", afirmou ao site da Juventus.

Sara Gama, zagueira e capitã da Juve durante o clássico com a Fiorentina (Foto: Juventus.com)

Sara, tem 30 anos, nasceu em Trieste e é filha de uma italiana com um congolês. Tem mais de 100 partidas pela seleção italiana – onde também é capitã – e é uma das conselheiras da AIC (Associação Italiana de Jogadores). 

A representatividade de Sara é tão grande que, no ano passado, a jogadora foi homenageada pela Mattel no Dia Internacional da Mulher e foi uma das 17 mulheres escolhidas pela fabricante que compuseram uma linha de Barbies inspiradoras.

A notícia triste para a Juventus foi a lesão da zagueira Cecilia Salvai que, após exame de ressonância magnética, foi constatada uma lesão do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. A jogadora da Juventus será submetida a cirurgia nos próximos dias e, com isso dá adeus à temporada e à Copa do Mundo na França. O grupo fez questão de homenagear Salvai e a carregaram nos braços após a vitória em casa. 

(Foto: Reprodução Twitter)

O próximo jogo da Juventus será contra a equipe do Sassuolo, na quarta-feira (27/3), em Reggio Emilia. Já a Fiorentina recebe o Florentia, equipe que também é de Firenze e que ocupa a 6º posição na tabela.

Futebol feminino na Itália

A Série A  Femminile existe desde 1987, mas foi a partir desta temporada que passou a ser gerenciada pela FIGC (Federação Italiana de Futebol). São 12 times que compõem a Serie A. As duas melhores colocadas se classificam para a Champions League e as duas piores são rebaixadas. O mesmo acontece com a Série B, onde os dois primeiros sobem para a elite e os dois últimos caem para o Campionato Interregionale.

(Foto: Juventus.com)

Mas,  assim como acontece no Brasil, o futebol feminino da Itália ainda é considerado amador. Ou seja, são poucas as jogadoras que atuam como profissionais e contam com benefícios de registro em carteira, FGTS e garantias em situações de lesão ou gravidez. Os campeonatos de base também estão começando a surgir agora.

Mesmo assim, é preciso reconhecer alguns fatores que ajudaram a impulsionar o futebol feminino na Velha Bota, como a participação de grandes clubes – como a Juventus, o Milan e a Roma – e a divulgação que passou a ser feita em seus canais oficiais. Com isso, o torcedor é informado sobre a equipe, os jogos e resultados.

Equipe italiana comemora a classificação para a Copa (Foto: FIGC)

A grande mídia (sites e jornais esportivos) também tem noticiado com frequência o Calcio Femminile e as transmissões feitas pela Sky Sport (o principal canal esportivo da Itália) também ajudam a difundir o futebol das mulheres. O canal – que comprou os direitos de transmissão da Serie A nesta temporada -, exibe uma partida do campeonato aos domingos, às 12h30 (horário de Roma). Além disso, o canal conta com uma programação exclusiva sobre futebol feminino onde especialistas da modalidade debatem o tema. 

Outro ponto importante foi a classificação antecipada da seleção italiana para a Copa do Mundo deste ano, fato que não acontecia há duas décadas. A azzurra feminina é comandada por Milena Bertolini desde 2017 e será uma das adversárias do Brasil no Mundial da França, pelo grupo C, ao lado de Austrália e Jamaica.

Os recentes recordes de público na Espanha (Madrid e Bilbao), Inglaterra, México e agora Itália provam que com divulgação, apoio da mídia e uma liga estruturada, é possível fazer com que os torcedores apoiem seus times dentro de campo. Para isso, também é necessário que a oportunidade seja oferecida de maneira acessível: jogos aos finais de semana ou em horários compatíveis com o dia-a-dia das pessoas.

Foto: Divulgação Atlético de Madri

Para efeito de comparação, na semana passada, o confronto entre o atual campeão brasileiro, Corinthians e o atual campeão paulista, Santos, aconteceu em uma quinta-feira, às 15h. É humanamente impossível pedir que os torcedores estejam presentes em um horário como este. Nem o futebol masculino conseguiria tal façanha.

Sem contar que por aqui são raras as equipes femininas que têm a oportunidade de jogar dentro do próprio estádio do clube que defendem. Com isso, o torcedor também precisa adaptar sua rotina para estar em um lugar incomum para ele.

Aqui no Brasil, clubes e CBF ainda precisam pensar o futebol feminino como produto e oportunidade. Não é justo cobrar apoio e recordes se ainda é tão difícil acompanhar as partidas, especialmente em dias e horários que não condizem com a realidade do futebol.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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