Final do Paulista muda placar para mostrar que mulheres ganham menos
Corinthians e São Paulo se enfrentam neste sábado na Arena Corinthians valendo o título do Campeonato Paulista feminino, e na transmissão online da partida, chamou a atenção um placar diferente do habitual. Quando o Corinthians fez o primeiro gol, aos cinco minutos do primeiro tempo com Victoria Albuquerque, em vez de mostrar 1 a 0, o placar foi alterado para "0,8 a 0". O jogo terminou 3 a 0 para as corintianas com Juliete e Millene marcando para o time da casa no segundo tempo – o clube alvinegro foi campeão com esse resultado.
A iniciativa fez parte de uma ação da Federação Paulista de Futebol (FPF) com a ONU Mulheres e a agência de publicidade BETC/Havas para evidenciar uma desigualdade presente todos os dias na vida das mulheres brasileiras: a diferença salarial com relação aos homens. Os dados mais recentes do IBGE mostram que elas recebem 20,5% a menos do que eles pelo exercício da mesma função.
Sendo assim, o placar tirou 20% do primeiro gol marcado e apontou no marcador: 0,8 a 0 em vez de "um", como estaríamos habituados a ver. E assim foi feito consecutivamente nos outros gols, marcando 1,6 x 0 quando Juliete fez o segundo e 2,4 quando Millene completou o terceiro.
"Acreditamos que a decisão do Paulista Feminino, que termina com uma visibilidade recorde histórica, é uma oportunidade para questionarmos o fato de que as mulheres ainda têm remuneração menor em relação aos homens no mercado de trabalho. É imprescindível, principalmente nos dias atuais, trazer à tona discussões importantes para o crescimento da nossa sociedade", disse Aline Pellegrino, diretora de Futebol Feminino da Federação Paulista de Futebol.
"Nossa ideia foi fazer com que cada gol tivesse o mesmo valor do salário das mulheres, quando comparado ao dos homens, para jogar luz nessa questão e chamar a atenção para essa desigualdade", afirmou Milena Cabral, que faz parte da equipe criativa da agência BETC/Havas, de onde partiu a iniciativa.
O Campeonato Paulista feminino deste ano teve uma visibilidade histórica, batendo recordes de audiência nas transmissões realizadas pelas redes sociais da FPF e também conquistando números importantes nas emissoras que mostraram alguns jogos – Rede Vida, Cultura e Sportv. O canal pago chegou a liderar a audiência entre as TVs esportivas no primeiro jogo da final, no mesmo horário que a concorrência passava Premier League e Bundesliga. A final também bateu o recorde de público do futebol feminino entre clubes no Brasil, com mais de 28,6 mil pessoas no estádio.
Aproveitando toda essa visibilidade, a iniciativa em parceria com a ONU Mulheres é de extrema importância para chamar a atenção para um problema recorrente no Brasil: a desigualdade salarial entre gêneros. Ela já foi maior, por muito tempo permaneceu em 30% e agora está em 20,5%. Isso significa que, atualmente, se uma empresa tem dois gerentes de vendas, um homem e uma mulher, os dois desempenhando a mesma função, com as mesmas horas trabalhadas e a mesma entrega, a mulher terá um salário 20,5% menor apenas por ser mulher.
Esse é um problema que se reflete em todas as profissões no mundo inteiro, em diferentes níveis – alguns países já conseguiram diminuir bem essa diferença, outros a mantêm em valores altíssimos. Há alguns países que obrigaram as empresas a revelarem salários para evidenciar a diferença de pagamento – foi o que aconteceu, por exemplo, no Reino Unido em 2017, quando uma nova lei trabalhista obrigou empresas que tinham mais de 250 empregados a publicarem a diferença salarial entre homens e mulheres que trabalham ali.
No Brasil, a pesquisa do IBGE divulgada em 2018 mostra que as mulheres recebem menos que os homens em todas as ocupações de trabalho.
O futebol não é só sobre bola rolando e é imprescindível que ele também se preste a levantar debates sobre problemas urgentes na sociedade, como é a desigualdade salarial. O gol mais bonito dessa final, sem dúvidas, foi esse.
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