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Vadão consegue feito inédito no Brasil. 9 derrotas seguidas e sem demissão

Renata Mendonça

08/04/2019 18h09

A seleção brasileira de futebol feminino saiu derrotada mais uma vez sob o comando de Vadão. Diante da modesta Escócia, que ocupa a 20ª colocação no ranking da Fifa e que vai disputar seu primeiro Mundial neste ano, o Brasil mais uma vez demonstrou pouco rendimento em campo e perdeu por 1 a 0. Essa foi a nona derrota consecutiva da equipe que estreará na Copa do Mundo dia 9 de junho diante da Jamaica – a última vitória brasileiro em jogos oficiais aconteceu somente em julho de 2018.

 

O gol marcado pelas escocesas veio de uma bola na área, num contra-ataque pelo lado direito (esquerdo da defesa brasileira) – a bola foi para Little que, mesmo marcada na pequena área, conseguiu empurrar para o gol ainda no primeiro tempo. Até aí, o Brasil jogava bem e pressionava, tendo desperdiçado pelo menos três chances de abrir o marcador. Mas depois do placar inaugurado, a seleção pouco conseguiu produzir. Faltava criação no meio-campo e ousadia nas jogadas ofensivas para furar as linhas de defesa da Escócia. Além disso, faltava o acerto: mais uma vez, foram muitos passes errados e cruzamentos para ninguém.

Diante de tudo isso, fica cada dia mais questionável a permanência de um treinador que já está há um ano e meio na sua segunda passagem pela seleção brasileira e só faz cair o rendimento de suas comandadas em campo. Já em novembro, defendemos aqui que Vadão não poderia ser o treinador do Brasil em mais uma Copa do Mundo. Agora, faltando dois meses para a estreia, isso fica ainda mais evidente – não só pela série de derrotas, que é a pior da história, mas principalmente pelo que o time apresenta (ou melhor, não apresenta) dentro de campo.

Brasil teve derrota inédita para Espanha (Foto: Laura Zago/CBF)

O prazo até o Mundial é curto e o questionamento que se faz é se valeria a pena trocar o comando neste momento. Mas vale a reflexão também sobre por que valeria a pena manter um comando que só acumula maus resultados e performances sofríveis em campo. Não há nenhum setor do Brasil que esteja efetivamente funcionando bem sob o comando de Vadão. A defesa acumula erros básicos de marcação em bolas paradas. O meio-campo não consegue abrir os espaços para fazer uma boa transição ofensiva. E o ataque erra passes e finalizações excessivamente. E tudo isso considerando que, nos clubes, todas essas jogadoras apresentam um rendimento melhor, mas na seleção não conseguem um bom desempenho. Oras, a principal função de um técnico não seria tirar o melhor de suas jogadoras?

No último mês, após o retorno da seleção da She Believes Cup, conversamos com Vadão sobre a avaliação dele a respeito dos jogos e a resposta foi que o Brasil "estava jogando de igual para igual com as principais seleções". Só que não foi isso que se viu em campo. E quando questionado sobre os ajustes que ele precisaria fazer no time, a resposta foi vaga: "ajustes de maneira geral". Se o atual treinador sequer consegue apontar os ajustes que ele precisaria fazer até o Mundial, por que ele é mantido no cargo?

(Foto: Laura Zago/CBF)

Só haveria uma explicação para justificar a permanência de Vadão hoje: o fato de restar pouquíssimo tempo para o Mundial. Mas em contrapartida, os números, os resultados e, principalmente o desempenho deveriam ser motivos de sobra para colocar o nome dele em xeque. A análise pode ser bem mais simples que isso: alguém imagina esse mesmo cenário na seleção masculina, com um treinador acumulando 9 derrotas consecutivas às vésperas de uma Copa, e a CBF decidindo mantê-lo no comando? Isso seria impensável no universo da seleção pentacampeã do mundo. E o fato de estar acontecendo na seleção feminina mostra o descaso da CBF e também a falta de pressão por parte da mídia, que não acompanha (e, consequentemente não cobra) o futebol feminino.

Em contato com as dibradoras, o coordenador do futebol feminino da CBF, Marco Aurélio Cunha, afirmou que a seleção "tem competido bem" e ressaltou os desfalques no ataque. "Não gosto do que tem acontecido, tenho cobrado firmemente a comissão técnica, os porquês, os comos, os objetivos. Tenho um critério de análise que perdemos os jogos com diferença mínima. Creio que a seleção tem competido bem. Está faltando encontrar a equipe certa, a forma de jogar, o posicionamento adequado. Espero que nesse período com mais treinos que teremos a gente possa melhorar. A exigência é muito alta", avaliou.

Questionado o que ainda justificaria a permanência de Vadão no cargo, Marco Aurélio respondeu: "A confiança que possa melhorar e o trabalho que faz, a proximidade da Copa e tudo que já observou aliado à sua experiência como treinador. Não considero o desempenho tão ruim, e sim os resultados. Vários jogos que perdemos jogamos bem".

Nunca se investiu tanto na modalidade como foi feito nos últimos cinco anos. Vadão pegou os tempos áureos da CBF, em que houve dinheiro para montar uma seleção permanente, depois para organizar um campeonato melhor, com premiação, etc. Nunca o futebol de clubes foi tão desenvolvido para as mulheres deste país. E nunca se viu um desempenho tão pífio da seleção brasileira.

 

O cenário que se vê hoje é que o Brasil chega para a Copa do Mundo sob o comando de um técnico que recebeu duas chances de liderar a seleção do país em Mundiais mesmo sem ter apresentado resultados que o credenciassem para isso. E, no intervalo em que Vadão esteve fora, o Brasil teve uma treinadora que teve apenas 10 meses para apresentar resultados milagrosos em amistosos. Com o aproveitamento superior a 50% ela foi demitida na passagem mais breve que se viu nos últimos anos de um técnico pela seleção feminina. Chamaram o antigo treinador de volta, ele acumulou resultados ruins, derrotas inéditas (para Espanha e Escócia) e, ainda assim, permanece inabalável no cargo.

Foto: CBF

A perspectiva para a Copa do Mundo da França dificilmente poderia ser pior. O Brasil teve a sorte de cair num grupo tranquilo, com a estreante Jamaica, com uma Itália em reconstrução e a poderosa Austrália. Era pra ser simples a classificação com pelo menos o segundo lugar do grupo, imaginando duas vitórias sobre as primeiras adversárias e uma eventual derrota para a melhor do grupo. Mas neste cenário, já dá para esperar coisa pior. Torcemos para que a seleção se remonte principalmente pela união de suas jogadoras e que consiga superar essas adversidades para fazer um bom Mundial. Mas a expectativa hoje é pior que se poderia ter.

Resultados do Brasil desde julho de 2018

Torneio das Nações
Brasil 1 x 3 Austrália
Brasil 2 x 1 Japão
Brasil 1 x 4 EUA

Amistosos
Brasil 0 x 1 Canadá
Brasil 1 x 0 Canadá (amistoso não oficial a portões fechados)
Brasil 1 x 3 França
Brasil 0 x 1 Inglaterra

She Believes Cup
Brasil 1 x 2 Inglaterra
Brasil 1 x 3 Japão
Brasil 0 x 1 EUA

Últimos jogos
Brasil 1 x 2 Espanha
Brasil 0 x 1 Escócia

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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