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As invenções de Vadão na seleção feminina fazem Brasil passar vergonha

Renata Mendonça

06/03/2019 00h47

Foto: Divulgação

A seleção brasileira encerrou sua participação no torneio amistoso "She Believes Cup" com três derrotas em três jogos. A equipe comandada pelo técnico Vadão perdeu para os Estados Unidos por 1 a 0 ontem e deixa o país tendo tomado seis gols e marcado apenas dois – sendo um deles de pênalti.

Com mais esse resultado negativo, o Brasil acumula cinco derrotas consecutivas nas últimas partidas desde outubro. Considerando o retrospecto desde a Copa América do ano passado, quando a seleção foi heptacampeã e teve excelente performance contra as fracas equipes da América do Sul, foram sete derrotas em oito jogos.

Mais do que os resultados, preocupam as atuações do Brasil sob o comando de Vadão que, mais uma vez, inovou na escalação. Se diante de Inglaterra e Japão na última semana ele já havia escalado a atacante Andressa Alves no meio-campo, para fazer uma função de segunda volante – bem diferente da posição onde ela costuma jogar no Barcelona e como sempre jogou na seleção, lá na frente, no ataque -, desta vez a opção foi por colocá-la de lateral esquerda.

+Vadão não pode ser o técnico da seleção feminina em mais uma Copa do Mundo

Não, você não leu errado. Vadão escalou uma atacante para jogar de lateral. Mesmo tendo duas outras laterais no banco à disposição, Jucinara e Tamires. Andressa Alves até chegou a atuar nessa função há bastante tempo, no seu início, mas desde 2012 não joga mais assim. Obviamente a opção acabou se mostrando esquisita já nos primeiros segundos de jogo, quando a atacante errou um passe na lateral e viu as americanas terem sua primeira chegada.

Andressa até se esforçou e melhorou ao longo do jogo, mas não rendeu bem nessa posição. Quando foi substituída por Jucinara no segundo tempo, saiu bastante irritada e até chutou o banco.

 

Com essa mudança na escalação, Vadão colocou Thaísa no meio, como volante (que realmente é) e manteve o esquema no 4-2-4 nada moderno e pouco organizado. Um sistema que não permite qualquer criação no meio-campo – já que a escalação tem duas volantes nesse setor – e que favorece os erros de passe, dado que as jogadoras atuam em linhas muito distantes umas das outras. Foi o que aconteceu ao longo de 80% do jogo. O Brasil errava passes, os Estados Unidos se aproveitavam e, em velocidade, se lançavam ao ataque para encontrar uma defesa também perdida – principalmente pelos lados do campo, tanto no esquerdo, quanto no direito.

Não demorou muito para Rapinoe achar sua primeira possibilidade de balançar as redes. Para a sorte do Brasil, ela estava em impedimento e teve o gol anulado. Aliás, a seleção teve bastante sorte já que esse foi um ponto em que as americanas pecaram muito. Tanto Morgan, quanto Rapinoe apareciam seguidas vezes em impedimento e isso anulava mais as jogadas das adversárias do que a própria defesa brasileira.

 

As chances do Brasil no primeiro tempo não existiram. Mais uma vez o time precisou que as atacantes voltassem ao meio-campo para pegar a bola e tentar trabalhar o ataque. Foram muitos erros de passe, inúmeros, e nenhuma oportunidade criada.

O gol da vitória americana apareceu aos 20 minutos da primeira etapa, quando Heath acertou um belo chute na oportunidade que teve de frente para a meta livre de Aline – a goleira havia saído para defender uma bola na entrada da área e não conseguiu voltar a tempo.

Os Estados Unidos ainda tiveram diversas oportunidades para ampliar. Aline fez algumas boas defesas e também faltou pontaria às americanas.

No segundo tempo, por algum tempo o jogo parecia de ataque (dos Estados Unidos) contra defesa (do Brasil), mas aos poucos as americanas foram diminuindo o ritmo. Na metade final, com as entradas de Geyse e Ludmilla, o ataque brasileiro ganhou mais velocidade e movimentação e chegou a ameaçar o gol de Harris. No entanto, o Brasil não conseguiu sair do zero.

O que mais preocupa na seleção feminina não são as derrotas a 3 meses da Copa do Mundo. O que mais preocupa é ver que o time está a três meses do torneio mais importante do ano sem algumas definições básicas, como por exemplo qual será o esquema que irá adotar no torneio e como fazê-lo funcionar – porque o 4-2-4 claramente não funcionou.

O Brasil tem acumulado atuações pífias, sem sequer oferecer resistência às adversárias, e sem qualquer poder de reação para mudar um cenário desfavorável. A seleção tem dependido muito de talentos individuais, mas simplesmente não está funcionando como coletivo. E isso passa muito pelas decisões equivocadas de um treinador que está tendo sua segunda chance à frente da seleção brasileira mesmo sem ter demonstrado qualquer qualidade para isso. Desde 2014, quando Vadão assumiu pela primeira vez, a seleção tem jogado pior a cada dia. Se na Olimpíada conseguimos chegar às semifinais na raça, dificilmente esse cenário se repetirá em uma Copa do Mundo tão competitiva como se desenha o Mundial da França.

Quando um técnico decide escalar uma atacante de lateral, ele precisa ser questionado por isso. Sobre seus motivos, sua lógica, qual era a ideia dessa "estratégia". Mas a imprensa infelizmente ainda não acompanha a seleção feminina como faz com a masculina e, por conta disso, essa cobrança não existe.

De qualquer forma, para quem está olhando de perto o que acontece no futebol feminino do Brasil nos últimos quatro anos, está muito claro o que vai acontecer na Copa do Mundo. É muito difícil apostar num cenário diferente diante do que tem se apresentado até aqui.

Vamos ver o que se apresentará nos próximos amistosos. O Brasil entrará em campo de novo nas duas datas Fifa de abril e está negociando amistosos com Espanha e com alguma outra seleção europeia em preparação para o Mundial. A seleção feminina estreia no torneio da França dia 9 de junho contra a Jamaica.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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