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Por igualdade, jogadoras dos EUA dizem que vão lutar até o fim na Justiça

Renata Mendonça

15/03/2019 15h58

Foto: AP

Elas não estão dispostas a recuar. Há uma semana, de maneira bastante simbólica no Dia Internacional da Mulher, as jogadoras de futebol da seleção americana entraram na Justiça contra a US Soccer (a "CBF" dos Estados Unidos) exigindo tratamento igualitário da entidade entre elas e a seleção masculina.

Nesta semana, duas das principais atletas campeãs mundiais com a camisa dos Estados Unidos na última Copa do Mundo, Alex Morgan e Megan Rapinoe, falaram abertamente sobre o tema e explicaram o que levou a seleção a apelar para o tribunal.

+A lição da seleção feminina dos EUA na luta das mulheres por igualdade

"Estou muito confiante. Primeiro de tudo que, para levar um caso desses à Justiça, você tem que estar certo de que seus argumentos são fortes. Estou nesse time há muito tempo e sei que nós estamos muito organizadas, muito unidas e nós sentimos que esse é o momento certo pra fazer isso. Esse é mais um passo adiante e nós vamos lutar até o fim", afirmou Rapinoe. 

O processo fala em "anos de discriminação institucionalizada de gênero". Segundo as atletas, são atitudes que não só afetaram os ganhos financeiros delas na seleção (em comparação com a seleção masculina), mas também os lugares onde jogavam, onde treinavam, o tratamento médico, os técnicos que tinham e até a forma como viajavam para os jogos

A reivindicação das atletas começou, na verdade, em 2016, quando os principais nomes da seleção americana foram à Comissão de Igualdade de Oportunidades de Trabalho nos Estados Unidos para protestar contra a diferença de pagamentos feitos a elas, tricampeãs mundiais, em comparação com a seleção masculina, que ainda não tem títulos relevantes no futebol internacional.

Só que suas vozes não foram ouvidas e houve pouca mudança na situação até aqui. Sendo assim, a própria Comissão recomendou às jogadoras que o melhor caminho seria procurar a Justiça. Foi o que elas fizeram: as 28 jogadoras que fazem parte da seleção atual concordaram em entrar com um processo contra a US Soccer pedindo igualdade.

"Quando eu era criança, eu sempre tive o sonho de jogar bola no mais alto nível. Mas hoje eu penso que, quando eu estiver mais velha, quero olhar para trás e sentir orgulho do que eu deixei para o esporte. E acho que essa luta é enorme e talvez represente uma conquista ainda maior do que as que temos no campo", observou Alex Morgan.

Morgan e Rapinoe são duas das principais jogadoras da seleção americana (Foto: Streeter Lecka/Getty Images)

O protesto das jogadoras reverberou nos Estados Unidos e no mundo inteiro. Elas tiveram o apoio da lendária tenista Billie Jean King, que aconselhou as atletas: "não se contentem com nada menos do que a igualdade. Não se contentem com as migalhas pelas quais o mundo acha que as mulheres deveriam ser gratas. Reúnam apoio e sigam em frente, lembrando que vocês merecem igualdade. Lembrem-se do objetivo final e não aceitem nada menos do que isso", escreveu a ex-tenista em seu Twitter. No passado, foi Billie Jean King quem uniu as atletas de sua modalidade e fundou a WTA (Associação Mundial das Tenistas) numa tentativa de pressionar o mundo do tênis por igualdade. Deu certo, já naquela época.

As americanas, de fato, não parecem dispostas a desistir e querem que esse exemplo que estão dando sirva para todas as mulheres ao redor do mundo.

 

"As mulheres devem lutar por aquilo que acreditam que merecem e nunca devem desistir. Para nós, não é apenas para lutar por uma melhoria para o nosso esporte e deixá-lo melhor para as meninas que vierem. É também para inspirar mulheres a lutar por aquilo que acreditam", pontuou Rapinoe.

As jogadoras disseram que contam com o apoio da própria seleção masculina dos Estados Unidos e também dos principais patrocinadores da equipe. A principal reivindicação é que elas precisam jogar mais vezes que os homens ao longo do ano e colecionam muito mais conquistas do que eles, mas ainda assim seguem recebendo menos por isso.

"Os jogadores também vieram a público dizer que eles nos apoiam e nós temos o máximo respeito por eles por isso. É muito importante ver o apoio deles, de muitos de nossos patrocinadores e de muitas mulheres ao redor do mundo, sejam elas esportistas ou não", observou Morgan.

"Você sabe que está fazendo algo certo quando você ganha o apoio das pessoas que te ajudam a seguir em frente".

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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