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Inédita, peneira do Corinthians para sub-17 atrai mais de 800 meninas

Roberta Nina

30/01/2019 04h00

 

Divulgação/Corinthians Futebol Feminino

Com o time principal de futebol feminino consolidado há três anos, disputando – e vencendo! – as principais competições do Brasil, Corinthians aposta também na formação de seu elenco de base.

No início deste ano, o clube divulgou em seus canais que promoveria uma peneira para compor a equipe sub-17 do Timão e as garotas inscritas estão passando por uma avaliação da comissão técnica nesta semana, entre os dias 29 e 31 de janeiro.

Capitaneado pela ex-jogadora da seleção brasileira, Daniela Alves, o time de base da Zona Leste está selecionando garotas com idade entre 13 e 18 anos. Neste primeiro dia, foram avaliadas pela manhã as meninas nascidas entre 2001 e 2003 e, durante o período da tarde, àquelas que nasceram entre 2004 e 2006.

Daniela Alves, ex-jogadora da seleção brasileira comandará a equipe sub-17 do Corinthians (Foto: Divulgação/Corinthians Futebol Feminino)

As ex-jogadoras do clube, Alline Calandrini e Milene Domingues acompanharam o primeiro dia de peneira que aconteceu no Parque São Jorge. Pelo site, o clube recebeu 800 inscrições de garotas interessadas em fazer o teste – o que mostra a alta demanda de meninas que buscam clubes para jogar na base. Infelizmente são raros os times que oferecem equipes femininas nas categorias juniores, um problema que acaba afetando a formação delas para o profissional

"Quem dera se na minha época tivesse uma peneira sub-17", reforçou Milene durante a cobertura que fazia pelo seu Instagram. 

Durante o período da manhã de terça-feira (29/01), 34 meninas compareceram no teste. Para participar da peneira, as garotas precisaram levar alguns exames médicos recentes, como o de aptidão física e eletrocardiograma, além de documentação.

A treinadora Daniela Alves valorizou o bom número de garotas que participaram da seletiva no primeiro horário do dia de ontem. "A expectativa foi boa. Sabemos que teriam baixas porque elas precisavam correr atrás de autorização e exames e não é fácil. Mas creio que na próxima seletiva que iremos fazer, elas possam se organizar melhor. E das 34, eu consegui selecionar 12 meninas de qualidade, então o nível foi bem legal", disse a ex-jogadora ao site do Corinthians.

Divulgação/Corinthians Futebol Feminino

"Na minha época tinha seletiva, mas a qualidade era muito baixa. E hoje, por ser categoria de base, o nível de qualidade está bem alto. São meninas que tem bastante noção, tem técnica, que sabem dominar a bola, que orientam, totalmente diferente de 1997. Futebol feminino tá evoluindo, tá crescendo e vai crescer cada vez mais", afirmou.

Ao final do primeiro dia, a peneira corinthiana avaliou um total de quase 100 meninas.

As dificuldades e a emoção das peneiras

Por conta da imposição da Conmebol, que obriga clubes masculinos a manterem times profissionais e de base entre as mulheres para poderem disputar competições como a Libertadores e a Copa Sul-Americana, a base feminina está começando a nascer no Brasil. 

Santos e São Paulo já começaram a se movimentar para cumprir a exigência e agora, o Corinthians também faz parte do grupo. No Rio de Janeiro, o Vasco da Gama e o Fluminense também.

Seletiva realizada pelo São Paulo Futebol Clube (Foto: dibradoras)

Aline Calandrini valorizou a oportunidade oferecida pelo Corinthians e reforçou como era difícil encontrar seletivas quando era mais nova. A história da ex-jogadora é bem diferente – e surreal – comparando com os dias de hoje. A ex-zagueira nasceu em Macapá e lá praticava futebol de salão e beach soccer. Queria ser jogadora profissional, mas saiba que as chances eram praticamente nulas.

Tudo aconteceu por acaso. Quando tinha 16 anos, a família toda de Alline se mudou para o Rio de Janeiro porque o pai iria fazer um curso na cidade. Durante o mês de julho, eles quiseram conhecer lugares mais frios, e decidiram ir passar uns dias em Petrópolis e Teresópolis (cidades serranas do Rio de Janeiro).

"Alugamos um hotel que ficava bem no alto e, no caminho da subida para o hotel, olhamos para baixo e vimos a Granja Comary. E lá estava a seleção feminina sub-20 treinando", contou. A equipe citada por Alline e que estava treinando no campo naquela época era formada por jogadoras como Maurine, Érika, Fabiana e Fran. 

Alline já vestiu a camisa da seleção (Foto: Rafael Ribeiro)

"Nem fomos para o hotel. Meus pais deram meia volta e me levaram lá. Ou seja, meu primeiro teste foi na seleção sub-20, pisei num gramado pela primeira vez ali, porque eu praticamente só jogava salão. E meu pai implorou para o coordenador de futebol feminino para me deixar fazer um teste, e eles diziam que não tinha como, que eu deveria ir para um clube. Aí contamos que vim de longe, o cara ficou de saco cheio e eu participei do treino no dia seguinte", disse.

Alline disse às dibradoras que ficou muito emocionada ao acompanhar a peneira no Corinthians e classificou a iniciativa como muito significativa para o clube. Durante os treinos e o coletivo realizados no primeiro dia, Calandrini conseguiu observar meninas diferenciadas. "Sempre tem meninas com potencial. Muitas precisam ser lapidadas, mas uma delas me chamou a atenção. Ela é alta, a maior de todas, é canhota, muito boa jogadora e ela se destacou. Vi meninas de Tocantins, de Curitiba. E vi pais dividindo sua histórias com as filhas, de viajar com elas, apoiar. Isso ficou marcado, tudo que eles fazem para ajudar as filhas", contou a ex-atleta.

Alline também exaltou a competência de Daniela Alves que, após se aposentar precocemente dos gramados por conta de uma grave lesão, voltou a trabalhar com o futebol em 2015, quando foi auxiliar técnica da seleção sub-20 na CBF.

A ex-jogadora Daniela Alves (de branco) foi auxiliar técnica do treinador Doriva Bueno (Foto: CBF)

"A Dani foi uma baita jogadora, uma das melhores que o Brasil já teve e que eu vi jogar. Ela se preparou para assumir esse cargo e tem experiência. Ela já sentiu os dois lados da situação e eu acho a Dani muito justa e competente. Ela sabe lidar com as meninas, tem moral, total respeito e qualidade. Vai conseguir implantar uma boa geração e tem potencial pra ser uma das melhores técnicas do Brasil, sem dúvida"

Segundo Alline, o trabalho de montagem da equipe corinthiana será feito integralmente com as meninas que passarem na seletiva. "Não vai ser fácil. Ela não está pegando nenhuma menina indicada. Ela vai montar a equipe do zero. Vai ser o maior desafio da vida dela, mas tenho certeza que ela vai conseguir".

Daniela Alves disputou três olimpíadas e dois mundiais pela Seleção Brasileira. Conquistou uma medalha de prata nos Jogos de 2004 e um vice-campeonato no Mundial de 2007. Agora, comandando o sub-17 do Corinthians, terá a chilena Macarena Celedon na função de auxiliar, a preparadora física Luana Miessa e o preparador de goleiras Ricardo Navarro completando, inicialmente, sua comissão técnica. 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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