Topo

Dibradoras

Com geração promissora, Brasil demonstra pouca evolução no Mundial Sub-20

Roberta Nina

13/08/2018 04h30

 

Equipe brasileira no Mundial Sub-20 na França (Foto: Reprodução/CBF)

Neste domingo (12), a seleção feminina do Brasil foi derrotada pela equipe da Coréia do Norte por 2×1 e se despediu do Mundial Sub-20 realizado na França ainda na primeira fase. A equipe comandada pelo treinador Doriva Bueno acabou o torneio com duas derrotas (México e Coréia) e um empate contra a seleção da Inglaterra.

Esperava-se mais desta jovem seleção.  Esperava-se que a equipe pudesse avançar da fase de grupos e disputar os jogos eliminatórios e mostrar um futebol mais bem armado, mais seguro.

(Foto: FIFA/Getty Images)

O título viria como consequência de uma boa apresentação da equipe que foi campeã sul-americana com muita autoridade no início deste ano, no Equador, mas não foi isso que aconteceu.

No primeiro jogo contra o México, a seleção começou atrás no placar, mas terminou o primeiro tempo na frente, vencendo por 2×1 com bom desempenho da atacante Kerolin que marcou por duas vezes. As jogadoras pareciam bem tranquilas, jogando com velocidade e mostrando todo talento que sabemos que essa geração tem.

Kerolin, autora de dois gols contra o México (Foto: FIFA/Getty Images)

Foram surpreendidas logo no início do segundo tempo, quando as mexicanas viraram o placar e, na base do abafa, tentavam sufocar as adversárias. Muitas chances foram criadas pelo Brasil, mas a oportunidade mais concreta de empate apareceu aos 50 minutos, com um pênalti marcado a favor da seleção brasileira. No último lance do jogo, Victória desperdiçou a cobrança com um chute que parou no travessão.

O segundo confronto contra a Inglaterra era importantíssimo e o Brasil precisava vencer para seguir vivo no Mundial. Aos 11 minutos do primeiro tempo, as inglesas abriram o placar após pênalti bem infantil cometido pela jogadora brasileira. Na base do desespero – novamente – o Brasil se lançou ao ataque. E foram muitas as tentativas, poucas delas criadas com a bola no chão.

(Foto: FIFA/Getty Images)

A defesa da Inglaterra estava muito bem postada e as brasileiras iam pressionando a adversária de todas as formas, mas de maneira muito desorganizada. O empate veio nos acréscimos da partida – na base da raça – quando após boa jogada de Kerolin, Ariadina marcou o gol e livrou o Brasil de sua segunda derrota.

O terceiro jogo era decisivo e o Brasil precisava fazer sua parte e ainda depender de uma combinação de resultados para seguir em frente. Como nos jogos anteriores, o Brasil criou boas jogadas e desperdiçou cerca de três chances de abrir o placar. Na única oportunidade que teve, aos 43 do tempo inicial, a Coréia do Norte fez 1×0 após cruzamento na área.

No segundo tempo, a pressão brasileira continuou. A goleira asiática era muito fraca e depois de muito martelar, o empate veio aos 22 minutos com jogada envolvendo Brenda, Isabella, Valéria até Geyse chutar para o gol.

Brasil tentou a vitória contra a Coréia do Norte a todo instante (Foto: FIFA/Getty Images)

Com cinco atacantes em campo, o Brasil tentava a vitória de todas as maneiras, mas a bola parou na goleira e no travessão aos 45 minutos após chute de Kerolin. A Coréia do Norte liquidou a fatura aos 48 do segundo tempo, em gol de cabeça após cobrança de falta.

As meninas do Brasil terminaram o Mundial com uma campanha bem abaixo do que poderiam conquistar. Com duas derrotas e um empate, a equipe comandada por Doriva Bueno demonstrou muita raça, talento individual, mas abusou dos lançamentos para ligar o ataque, demonstrou um sistema defensivo muito vulnerável e muitos gols perdidos.

Os números da partida do Brasil contra a Inglaterra mostram o poder ofensivo do Brasil, mas uma deficiência que precisa ser melhorada: a conclusão da jogada. Foram 21 finalizações brasileiras, contra apenas seis das inglesas. A posse de bola também foi maior para o Brasil (59%) e a equipe ainda cobrou 11 escanteios contra dois por parte da Inglaterra. Mesmo com tanta pressão, o gol de empate saiu apenas aos 47 do segundo tempo.

Histórico brasileiro

Há alguns anos que o desempenho da seleção brasileira nos Mundiais da categoria não é positivo. Assim como aconteceu este ano na França, o Brasil não passou da primeira fase da competição em três edições seguidas: 2010, 2012 e 2014.

Na última Copa do Mundo Sub-20, em 2016, a equipe – que já era comandada por Doriva Bueno – só conseguiu a classificação para as quartas-de-finais por conta do saldo de gols. A pontuação foi a mesma da Suécia (4 pontos), mas por conta da goleada que aplicou sobre a equipe da Papua-Nova Guiné (9×0), se classificou para as quartas.

As jogadoras desta seleção são bem promissoras e muitas delas são titulares nas equipes em que atuam. Alguns exemplos: a goleira Kemelly joga no Flamengo/Marinha, Kerolin atua na Ponte Preta, a meio-campista Victória atua no Minas/Icesp (time de Brasília e atual campeão da Série B do Brasileiro Feminino), a também meio-campista Ariadina e a zagueira Thaís Regina defendem o Sport Recife, a volante Angelina joga no Santos Futebol Clube, a atacante Brenda e a lateral Monalisa são do Iranduba de Manaus, Valéria é atacante do Tiradentes do Piauí e a capitã Ana Vitória jogou no profissional do Corinthians/Audax (veja vídeo abaixo sobre a jogadora).

São jogadoras que atuam em grandes equipes do Brasil e, de certa forma, contam com a experiência de disputarem grandes competições.

O treinador Doriva Bueno está no cargo desde 2014 e seu desempenho no comando da equipe feminina sub-20 em Mundiais é bem fraco. O treinador participou de três edições de Copa do Mundo e conquistou apenas uma vitória em 2016, contra a fraquíssima Papua-Nova Guiné.

Com Doriva, a seleção sub-20 disputou 10 jogos: perdeu seis (Estados Unidos, Alemanha, duas vezes para a Coréia do Norte, Japão e México), empatou três vezes (China, Suécia e Inglaterra) e goleou a Papua-Nova Guiné. O aproveitamento do treinador em uma das mais importantes competições é de 20%.

Doriva Bueno está no cargo há quatro anos (Foto: Reprodução/CBF)

A seleção de base brasileira venceu todas as edições do Campeonato Sul-americano (2004, 2006, 2008, 2010, 2012, 2014, 2015 e 2018), mas é importante lembrar que essa hegemonia toda é permanente. O Brasil sempre foi superior nesta competição porque é o país que conta com melhor estrutura de futebol feminino na América do Sul. A diferença comparada a outras seleções é gritante.

O melhor desempenho da equipe brasileira em Mundiais Sub-20 segue sendo a campanha de 2006, quando o elenco formado por jogadoras como Francielle, Mônica, Fabi Simões, Maurine e Erika conquistaram a terceira colocação (saiba mais sobre o retrospecto da seleção feminina sub-20 aqui).

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

Dibradoras