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Um raio-X da final da Champions League feminina

Renata Mendonça

22/05/2018 07h45

Wolsfburg e Lyon se enfrentam para decidir o título da Champions na quinta (Foto: Getty)

É semana de decisão na Champions League e, conforme anunciamos nesta segunda-feira, este blog estará nas duas finais que acontecem em Kiev – a feminina na quinta-feira, e a masculina no sábado.

Como o jogo das mulheres acontece primeiro, vamos começar falando sobre elas, com este raio-X da partida que valerá a taça entre Lyon e Wolfsburg.

Não dá para dizer que essa final é surpreendente. Se alguém que acompanha o futebol feminino europeu tivesse entrado em uma aposta no início da temporada 2017-2018 para adivinhar quem seriam os finalistas, certamente ou um, ou outro, ou os dois estariam no palpite.

São atualmente os dois times com mais "tradição" entre os clubes europeus – e também os mais experientes nesse tipo de competição.

Por parte do Wolfsburg, que conquistou suas duas Orelhudas nas temporadas 2012-13 e 2013-14, quatro jogadoras que entrarão em campo na quinta-feira estavam nas duas conquistas. A defensora Luisa Wensing, as meio-campistas Lena Goessling e Anna Blässe, e a atacante Alex Popp.

Já por parte do Lyon, bicampeão nas duas últimas temporadas e detentor de quatro títulos no total (2010-11 e 2011-12), outras quatro jogadoras que disputaram todas essas finais estarão em campo: a goleira Sarah Bouhaddi, a zagueira Wendie Renard, a meio-campista Camille Abily e a atacante Eugénie Le Sommer.

O confronto é equilibradíssimo, algo que fica claro considerando o histórico das duas equipes na Champions League nos últimos oito anos: Lyon e Wolfsburg "trocaram" títulos em todas as temporadas desde então, sendo que apenas a edição de 2014-2015 não teve nenhum dos dois times na final.

O maior segredo para ambas foi a continuidade de um trabalho bem feito e da base do elenco. Enquanto o time alemão se firmou no comando do técnico Ralf Kellermann entre 2008 e 2017, no lado francês foi Gerard Prêcheur quem treinou o Lyon na ascensão recente do time desde 2014.

No entanto, por coincidência, as duas equipes perderam seus comandantes antes de iniciar a temporada atual. Kellermann assumiu o posto de Diretor Esportivo no clube alemão, enquanto Prêcheur assumiu um novo desafio na China após ter conquistado tudo pelo Lyon.

No novo desafio, assumiram Stephan Lerch no Wolfsburg e Reynald Pedros no Lyon, mas o que os adversários torciam não aconteceu: as duas equipes mantiveram o altíssimo nível e construíram campanhas sólidas até a final.

IMPORTANTE: a Espn Extra vai transmitir a decisão, assim como ESPN Play e Watch Espn. Com a narração de Luciana Mariano 🙂

As armas do Lyon

O nome é Lyon, mas pode chamar também de máquina! Esse time se tornou praticamente imbatível nos últimos anos e costuma não tomar conhecimento dos adversários. Para se ter uma ideia, a campanha na Champions League teve 8 jogos e 34 gols (sim, TRINTA E QUATRO, média de mais de 4 por partida).

Você vai dizer: claro, mas futebol feminino é fraco, os adversários são muito mais limitados, não têm recursos, etc. Parte disso é verdade mesmo. Mas não é só contra time mais fraco tecnicamente que o Lyon consegue se impor. Na semifinal do torneio em 2016, por exemplo, o time venceu o grande rival, PSG, que já tinha um alto investimento na equipe feminina e contava com a craque brasileira Cristiane no elenco, por simplesmente 7 a 0.

"Foi um resultado que ninguém imaginava. Principalmente porque o time que a gente tinha no papel era um baita time. Foi até desanimador, uma coisa que pegou todo mundo de surpresa", disse a atacante brasileira às dibradoras sobre aquela partida à época.

Mas há um segredo para tanta eficiência: velocidade e qualidade na saída de bola. Cristiane ficou "especialista" no Lyon depois de tantos confrontos diretos no Campeonato Francês, na Copa da França e na própria Champions – no ano passado, quando ainda estava no PSG, a atacante brasileira perdeu a final para as rivais nos pênaltis. E por que é tão difícil jogar contra elas?

"Elas gostam de abrir bem a zaga pra receber bola, e aí quando elas abrem o time, elas acabam querendo abrir a sua equipe junto. Se você não está bem compactada taticamente, elas abrem teu time todinho e colocam a bola pras meninas rápidas, as meias", disse Cris ainda antes da decisão de 2017.

O time todo é muito bem organizado, por isso é difícil "furar" a defesa do Lyon ou mesmo surpreendê-lo – elas gostam de ditar o ritmo do jogo (quem não gosta, né?) e fazem isso muito bem. Mas é importante ressaltar que, para conseguir tantos títulos recentemente, duas armas dessa equipe têm sido vitais: Le Sommer e a jovem fenômeno da Noruega, Ada Hegerberg.

Le Sommer já é veterana e experiente, uma meia-atacante de velocidade que já disputou duas Olimpíadas e uma Copa do Mundo pela França. Ela representa a armação de boas jogadas ofensivas pelo Lyon, enquanto sua companheira, Ada Hegerberg, de apenas 22 anos, é a matadora que não perde um gol sequer. Sua temporada na Champions League tem números de Cristiano Ronaldo – são 14 gols marcados em 8 jogos (o português tem 15 gols em 12 jogos). No ano passado, já em excelente fase, ela foi eleita a jogadora do ano em uma pesquisa da BBC envolvendo jogadoras do mundo todo. Certamente se o título vier para o Lyon na quinta, ele deverá passar pelos pés (ou pela cabeça, joelho, etc) dela.

Além das duas, o poderoso (e dá para dizer favorito) Lyon ainda conta com mais uma craque no meio-campo, Dzsenifer Marozsán. Habilidosa que só ela, a jogadora foi definida pela americana Alex Morgan como "o motor" da equipe do Lyon no ano passado.

E pensar que em 2017, mesmo com um timaço desses, a torcida fez uma manifestação extremamente machista num jogo da equipe masculina no Lyon – que, por sinal, ao contrário da feminina, nunca chegou nem perto de um título de Champions League.

As armas do Wolfsburg

Acontece que, se o Lyon é um time ofensivo, as adversárias alemãs também não ficam atrás. Foram 33 gols marcados nos 8 jogos disputados até aqui, e também sem perder assim como as francesas.

Foto: Getty

A esperança maior do Wolfsburg, curiosamente, também está nos pés de uma estrangeira: Pernille Harder, a dinamarquesa de 25 anos, artilheira da equipe com 7 gols marcados nesta edição da Champions.

Ela não estava na última decisão de Champions que o Wolfsburg jogou, mas já mostrou sua estrela no ano passado quando foi a capitã da Dinamarca em uma campanha histórica na Eurocopa, quando liderou a equipe até a final contra a Holanda e chegou a marcar um gol na decisão – que acabou com o título das adversárias.

A habilidade para os chutes de fora da área e a precisão na hora de finalizar são as melhores características de Pernille Harder que dão esperança ao Wolfsburg para conseguir esse título.

Além dela, porém, o time conta com a meio-campista islandesa Sara Bjork Gunnarsdóttir, outra jogadora hábil e veloz para surpreender o Lyon no ataque. Ela estava em campo na derrota por 2 a 0 nas quartas-de-final no ano passado (quando o Wolfsburg foi eliminado pelas rivais francesas) e certamente está mordida para finalmente derrotar o poderoso Lyon e conquistar o título.

E por último, Alex Popp é a outra atacante essencial desse time. Uma jogadora versátil e decisiva, que inclusive marcou o gol de empate para levar para os pênaltis a decisão contra o mesmo Lyon na Champions de 2016.

Confronto direto entre as duas equipes:

2017 – quartas-de-final
Wolfsburg 0 x 2 Lyon
Lyon 0 x 1 Wolfsburg

2016 – final
Wolfsburg 1 x 1 Lyon (decisão nos pênaltis deu título para as francesas)

2013 – final
Wolfsburg 1 x 0 Lyon (título do time alemão)

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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