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Com clássico na final e jogos na TV, futebol feminino quer romper barreiras

Renata Mendonça

01/10/2018 14h04

Foto: Divulgação Santos FC

O Campeonato Paulista de futebol feminino chega ao fim nesta semana com uma final inédita entre Santos e Corinthians.  O tradicional clássico do futebol brasileiro agora acontece também entre as mulheres e promete grande público para a decisão que começa nesta terça-feira, com o jogo de ida na Vila Belmiro, e terminará no próximo sábado, no Parque São Jorge.

No ano passado, Santos e Corinthians protagonizaram uma final histórica do Campeonato Brasileiro, que teve recorde de público na Vila Belmiro. O estádio ficou completamente lotado (mais de 16 mil pessoas na arquibancada) para acompanhar a partida, que terminou em 2 a 0 para as Sereias e garantiu grande vantagem do time santista para a conquista do título nacional inédito, confirmado no segundo jogo em Osasco.

Desta vez, o reencontro dos dois gigantes paulistas acontecerá na final do Estadual e teve o reforço da transmissão televisiva que deve impulsionar o envolvimento da torcida com os dois jogos. Começando pela mudança de horário, que vai ajudar os dois times a atraírem mais público para a decisão. As partidas de futebol feminino acontecem muitas vezes em dias de semana às 15h, um horário complicado para as pessoas poderem ir ao estádio. Desta vez, o Santos chegou a um acordo com a ESPN, que transmitirá as duas finais, e definiu um novo horário para o jogo: 20h30 da próxima terça-feira, 2 de outubro.

O segundo jogo da decisão vai acontecer no sábado, 6 de outubro, às 11h da manhã no Parque São Jorge, que também tem uma boa capacidade (18 mil pessoas) e espera receber um bom público de corintianos – as duas finais terão torcida única, como determinação da FPF (Federação Paulista de Futebol).  As entradas serão gratuitas tanto em Santos quanto em São Paulo.

Vila Belmiro lotou na final do Brasileiro feminino entre Santos e Corinthians em 2017 (Foto: Ricardo Xis, Rádio Coringão)

Um clássico desse tamanho em uma decisão de campeonato pode ajudar a quebrar as barreiras do preconceito com o futebol feminino. Tanto Santos quanto Corinthians têm grandes torcidas para apoiá-los e confrontos assim podem alavancar a popularidade da modalidade e despertar o interesse dos torcedores também pelo futebol das mulheres.

Para convocar a torcida para o jogo, o Santos está usando algumas celebridades, jogadores e ex-jogadores como estratégia para divulgar a final. O cantor Supla e a modelo e atriz Pathy Dejesus já gravaram vídeos convocando os torcedores e torcedoras para comparecerem à Vila Belmiro e apoiarem as Sereias. Além deles, o lateral Dodo, e o ex-jogador e atual executivo do Santos, Renato, também estão nas redes sociais do clube divulgando a partida.

Mais de 16 mil pessoas estiveram na Vila em 2017 para o clássico e expectativa do Santos é lotar estádio novamente (Foto: Divulgação Santos FC)

O clube também sorteará ingressos para jogos do Santos no Brasileiro, camisas oficiais do clube e visitas ao CT Rei Pelé no intervalo da partida como parte das ações de marketing usadas para atrair mais público nesta terça-feira.

A campanha das Sereias no Paulista é quase perfeita no Paulista, com 26 pontos conquistados em 12 jogos da primeira fase, sendo oito vitórias, dois empates e duas derrotas. O time santista terminou a segunda fase invicto e eliminou nas semifinais o Rio Preto, que foi campeão paulista no ano passado vencendo justamente o Santos na decisão.

Já o Corinthians faz uma temporada irreparável. O time comandado por Arthur Elias sofreu apenas uma derrota no ano todo, que veio na semana passada para o Flamengo no jogo de ida da semifinal do Brasileiro. No Paulista, a campanha ainda está perfeita, com 20 jogos, dois empates e absolutamente nenhuma derrota.

"É uma final mais do que merecida. Dois clubes que tem dado grande apoio ao feminino, as duas equipes que tiveram o melhor desempenho ao longo da competição com ótimas jogadoras dos dois lados. A expectativa é de uma excelente final", disse Arthur Elias em entrevista aqui.

"É uma final inédita e que esperamos ver mais daqui para frente, com clubes grandes, tradicionais no futebol, levando ao seu torcedor a possibilidade de conhecer, se aproximar, torcer e gostar cada vez mais do feminino", concluiu o treinador corintiano.

A decisão coloca frente à frente dois dos melhores times do país que oferecem as melhores estruturas para o futebol feminino nacional. O Santos está um pouco à frente do Corinthians nesse sentido, já que profissionalizou efetivamente sua equipe feminina nos últimos anos, garantindo carteira assinada e registro na CBF para todas as atletas. Já o time feminino do Corinthians ainda é considerado "amador" por ainda não ter regularizado suas atletas como funcionárias oficiais do clube, assinando a carteira e fazendo o registro delas na confederação. O plano do clube é fazer isso até 2019.

"O Santos mudou muito e evoluiu bastante nos últimos anos. Quando eu comecei lá, em 2006, não tinha salário. Fui para não ganhar nada. O teto salarial do futebol feminino lá era R$ 500, mas tinha só uma ou outra jogadora que ganhavam, a maioria jogava de graça", contou às dibradoras Alinne Calandrini, ex-jogadora do time da Vila Belmiro. Ela viu tudo mudar lá nos últimos anos, com o Santos passando a oferecer ao time feminino a mesma infraestrutura de treinamentos que havia para o time masculino, os salários crescendo e chegando ao teto dos R$ 6 mil e o marketing passando a divulgar mais os jogos delas.

O Corinthians recriou o time feminino em 2015 em uma parceria com o Audax e, desde o início deste ano, assumiu o controle sozinho da modalidade, sem a participação de outro clube. De lá até aqui, a equipe já conquistou um título da Copa do Brasil e um título da Libertadores e busca agora a conquista inédita do Paulista e do Brasileirão.

Transmissão na TV

A novidade para esta edição do Paulista feminino foi a transmissão dos jogos das semifinais e finais na televisão. A ESPN fez uma parceria com a FPF e passou a transmitir as partidas nas últimas fases do torneio com equipes 100% femininas.

 

Acostumada a narrar jogos de futebol feminino no ápice da modalidade no Brasil, quando havia muitos times grandes envolvidos e a Bandeirantes transmitia os campeonatos, Luciana Mariano conta que a experiência agora tem sido emocionante.

"Olha eu achei (a experiência na semifinal) muito positiva. Todos que participaram ficaram felizes com a sensação de que estávamos contribuindo para algo muito significativo. Havia dentro da cabine uma alegria que não dava pra disfarçar. A gente sabe o quanto as jogadoras batalham pra entrar em campo, assim como nós lutamos por espaço", afirmou a narradora, que teve a ex-capitã da seleção brasileira Juliana Cabral e a comentarista Bibiana Bolson ao seu lado na transmissão, além de Marília Galvão na reportagem do campo.

Foto: Arquivo Pessoal

"Eu vi um grupo de mulheres dentro e fora das quatro linhas  atingindo um objetivo que há pouco tempo parecia inatingível!E confesso que em alguns momentos eu olhei em volta e me emocionei. Pra quem viu o futebol feminino e o jornalismo esportivo há 23 anos atrás e está vendo hoje foi a realização de um sonho", finalizou.

A transmissão das finais do Paulista feminino acontecerão na ESPN Extra e Watch ESPN – na terça às 20h30 e sábado às 11h. A FPF TV também mostrará os jogos ao vivo. Para os interessados em ingressos, o Santos fará a distribuição a partir de 18h30 na própria Vila Belmiro e o Corinthians está oferecendo um sistema de reserva online aqui.

 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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