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Perifeminas, o time de futebol que surgiu como resistência na comunidade

Roberta Nina

12/05/2020 04h00

Perifeminas onde tudo começou: no campo do Barragem, em Parelheiros (Foto: Divulgação/Perifeminas)

Sidinéia Chagas tem 28 anos e é uma das idealizadoras do Perifeminas F.C., time de futebol feminino localizado no bairro Barragem, em Parelheiros, Zona Sul paulista (a cerca de 49 quilômetros do centro de São Paulo). O coletivo surgiu em 2014 e, ao lado de outras três irmãs – Sideilde, Silvia e Silvani -, o principal objetivo delas era proporcionar lazer e esporte em uma área tão carente de atividades físicas e também empoderar as mulheres que viviam sob extrema violência.

"O time é um ato de resistência diante da invisibilidade e falta de incentivos, ausência de um espaço fixo para treinos e do limitado número de campeonatos femininos. No início tivemos conflitos com os homens, porque além de não aceitarem que utilizássemos o campo ou a quadra, não permitiam que jogássemos com eles, ou contra eles. Mas, caso dessem essa brecha, o discurso era que seriam violentos e veriam se 'aguentaríamos uma pancada de bola", contou Néia ao blog.

A maioria das participantes são moradoras da região: estudantes, desempregadas e educadoras sociais. E foi assim, brigando pelo uso do campo que elas se fortaleceram e hoje elas vão além dos terrões. À frente do projeto "Em Campos – do afeto, da empatia e sororidade", elas dialogam com mulheres e crianças, utilizando o futebol como forma de integração.

Perifemanos (Foto: Divulgação/Facebook Perifeminas)

Atualmente o Perifeminas F.C é composto por 20 meninas e mulheres, entre 10 e 39 anos, além de um time masculino infantil e juvenil (formado na maioria pelos filhos das atletas da equipe principal), o Perifemanos, com 29 garotos (de nove a 20 anos). Os dois times se reúnem aos finais de semana, na quadra da Escola Estadual Professor Joaquim Álvares Cruz, para treinar e participar de festivais e campeonatos.

"Uma das estratégias do projeto bastante utilizada tanto na modalidade quanto na participação é o envolvimento de todos nas rodas de conversas e passeios, estimulando que incentivem outras mulheres a jogarem bola", contou Néia.

Um desses passeios estimulantes que o Perifeminas teve o prazer de vivenciar aconteceu em setembro do ano passado. Néia e as atletas do time – com o apoio da Fundação Tide Setubal, que criou uma campanha para que fosse possível esse encontro – foram até o Morumbi para assistir ao treino do time feminino do São Paulo Futebol Clube e conhecer a jogadora Cristiane, um grande exemplo para todas as meninas.

Perifeminas com o elenco feminino do São Paulo (Foto: Mariana Rufino)

"Ter o contato com outras mulheres, com os mesmos sonhos, mas com realidades diferentes, permitiu que as Perifeminas entendessem que não existe uma história única, e a consciência da importância da identidade pessoal é um fator determinante para definir quem somos e aonde queremos chegar. E ainda ressaltamos que essa experiência foi maravilhosa, porque Cristiane é uma referência e o quanto fomos acolhida por todos", relembrou Néia.

Fortalecer as mulheres na comunidade

Usando a forte presença das mulheres em torno da prática esportiva, o Perifeminas ampliou sua voz e passou a conscientizar o público feminino em bate-papos.

"A importância de levar conhecimento para essas mulheres é para que elas possam se aprofundar mais na cultura e no empoderamento feminino. As metodologias utilizadas são rodas de conversas, inserção de novas meninas ao time, e ações afirmativas. Além disso, as jogadoras formam uma rede de apoio umas às outras, como forma de construírem um espaço seguro para as mulheres dentro da comunidade, permitindo que seja um espaço de acolhimento e também proporcionando passeios externos a espaços educacionais, culturais e esportivos", disse Néia.

(Foto: Divulgação/Facebook Perifeminas)

Mais do que um grupo em busca de lazer e esporte, a fundadora enxerga o coletivo como uma ferramenta de educação social e esportiva. "A prática esportiva desta modalidade contribui para o desenvolvimento de habilidades, como motivação, trabalho em equipe e principalmente se torna um espaço de acolhimento para mulheres vítimas de violências físicas, psicológicas. Há décadas o futebol feminino foi proibido por lei e atualmente estamos conquistando visibilidade e reconhecimento dentro e fora das quatro linhas."

Depois de alguns anos trabalhando ativamente na causa, Néia enxerga muitos avanços, entre os principais estão a garantia de que meninas e mulheres atuassem em times para competir e a transformação do campo e da quadra de futebol em espaços de valorização e visibilidade da mulher, além de fortalecer o protagonismo feminino, oportunizando espaços de fala e atuação.

"No Bairro não há escolinhas de futebol e muitas famílias, por falta de tempo, não conseguiam brincar com a garotada. E o esporte é fundamental no desenvolvimento físico e comportamental das crianças. Além de promover a saúde e o condicionamento físico dos pequenos, as atividades físicas exercem um enorme impacto no bem-estar psicológico e social delas e deles. Temos a visão de ser um bairro melhor e que as famílias tem confiança em deixar os filhos conosco ao finais de semana."

(Foto: Divulgação/Facebook Perifeminas)

Olhando para o futuro, as minas ainda tem objetivos para alcançar. Um deles é um espaço físico só delas, para fortalecer ainda mais o time com a presença de mais atletas competindo ativamente em campeonatos. Entre os apoiadores do coletivo estão a Centauro (com a compra de uniforme, equipamentos esportivos e doações de cestas básicas), além do patrocínio financeiro da Fundação Tide Setubal e mentoria da PonteAponte.

Perifeminas pelas Minas

Para ajudar mulheres que vivem em situações de vulnerabilidade nesses tempos de pandemia, o coletivo lançou a campanha "Pelas minas" como ação do projeto "Em campos – do afeto, da empatia e sororidade". As doações podem ser feitas em produtos de higiene pessoal, alimentos ou depósito em conta bancária para que as famílias possam comprar aquilo que realmente necessitam.

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As mobilizações não param.

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Néia também destaca o aumento de casos de violência contra a mulher durante a quarentena. "Certamente ficar em casa não é sinônimo de estar protegida. E diante disso tudo, ao doar os produtos, mostramos que somos uma rede de apoio e cuidar do bem-estar delas pode ser um fator para a auto estima. Não que isso seja decisivo para ela sair desta relação violenta, mas sim fortificá-las."

Mais do que ocupar e resistir, com certeza o papel do Perifeminas F.C na comunidade e para as mulheres é realmente esse: fortificá-las!

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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