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O que dizem as estatísticas da seleção feminina sob o comando de Pia

Renata Mendonça

20/02/2020 18h10

Foto: Mauro Horita / CBF

A CBF compartilhou com a imprensa nesta semana dados de análise de desempenho da seleção feminina. Isso pode parecer bobagem no contexto da seleção masculina, onde os jogadores são monitorados por centenas de ferramentas estatísticas e têm os dados mais básicos sempre divulgados e esmiuçados (desde número de finalizações num jogo até quanto cada atleta correu). Mas, no futebol feminino, ainda é difícil encontrar tantos detalhes. Nesse caso, dados estatísticos ajudam a entender o conceito do trabalho aplicado – e foi por isso que a própria técnica Pia Sundhage pediu para alguns deles serem compartilhados com a imprensa.

Vale destacar que ela esmiúça cada uma dessas análises com as atletas em grupo e individualmente. Conversamos com o analista de desempenho da seleção (que já acompanhou o trabalho de técnicos no comando desde 2013) Ricardo Pombo, ela tem três momentos de conversas táticas com o time: uma é a geral, com toda a equipe, depois a conversa é feita por setor do campo (separadamente com jogadoras de defesa, de meio e de ataque) e há ainda a conversa individual para falar com cada atleta onde ela pode melhorar. Pia acredita que, quanto mais as jogadoras absorverem seu conceito de jogo e quanto mais enxergarem suas melhorias próprias em campo, mais vão "comprar a ideia" e executá-la em campo.

Os dados fornecidos pela ferramenta Instascout mostram um comparativo do Brasil com as outras seleções top 10 do mundo. Os números das outras seleções são considerando a média de todos os jogos delas em 2019. No caso do Brasil, há o destaque do número até o último jogo da Copa e depois o número atual considerando os oitos jogos da era Pia.

Seis atletas da seleção foram citadas no gráfico mostrando um comparativo de como elas rendiam antes e como estão rendendo agora. A base para esse número é 220: toda jogadora começa uma partida com 220 "pontos". Ela vai ganhando ou perdendo pontos de acordo com acertos e erros em TODAS as suas ações: ofensivas e defensivas, com e sem a bola. A atacanteBia Zaneratto tinha uma média de 168 pontos por jogo até o Mundial. Com Pia, passou para 256 (o fato de ela ter feito muitos gols ajudou nisso). A meio-campista Formiga tinha 193, foi para 236. A zagueira Erika tinha 200 e foi pra 234.

Foto: Dibradoras

Aí vem a evolução ofensiva, que leva em consideração todas as ações de ataque de um time e, em cima disso, há um cálculo da probabilidade de fazer gols. A da seleção era de 1,67 antes de Pia e está em 2 agora. Além disso, dentro do setor ofensivo, foram apresentados dados de aproveitamento de chances de fazer esses gols. Antes, o Brasil precisava de mais de quatro chances claras de gols para balançar as redes. Agora, os dados mostram que a seleção converte um gol com menos de 3 (2,5) chances claras produzidas.

Foto: Dibradoras

A defesa foi o setor que mais evoluiu, segundo os dados da Instascout. Essa estatística é analisada com base nas informações dos nossos adversários nos jogos. Ela calcula, com base nas ações ofensivas dos adversários, a probabilidade que eles tiveram de fazer um gol no Brasil. Antes de Pia, o Brasil liderava negativamente essa estatística com 1,58 – era a seleção mais fácil de tomar gol entre as top 10. Esse número baixou para 0,56.

Nenhum desses números soltos significam nada se não forem devidamente interpretados e passados para as jogadoras para que elas possam melhorar dentro de campo em todos os aspectos. Pia disse: "esperamos que esses números possam incentivar o time a render ainda mais". Quanto mais as atletas virem que a ideia está dando certo (no sentido de que está fazendo todas melhorarem), mais elas confiarão no projeto e levarão o conceito para dentro de campo.

Foto: Dibradoras

Diante do que se viu até agora no trabalho de Pia, há ainda muita coisa a ser feita. O Brasil dificilmente consegue manter o mesmo nível de atuação nos dois tempos do jogo e isso faz com que sofra sustos muitas vezes. Os erros defensivos diminuíram, mas ainda existem – e, com a estratégia de marcação alta da treinadora, a defesa fica ainda mais exposta, então o cuidado tem que ser dobrado. Um dos pontos positivos (e uma das coisas mais trabalhadas pela técnica nos treinos) é a finalização. O Brasil errava demais esse fundamento e perdia muitos gols com isso. A própria atacante Debinha é um dos melhores exemplos de aproveitamento com Pia: na Copa de 2019, ela saiu sem balançar as redes, mesmo sendo uma das melhores jogadoras do Brasil. Sob o comando da sueca, a camisa 9 já tem seis gols.

Os próximos jogos serão ótimos testes para entender se o Brasil consegue mesmo fazer frente aos adversários top 10 do ranking. A seleção enfrenta a Holanda no próximo dia 4, a França no dia 7 e o Canadá no dia 10.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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