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Pela primeira vez, CBF fará premiação igual para homens e mulheres

Renata Mendonça

09/12/2019 04h00

(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)


Com o fim do Campeonato Brasileiro, a segunda-feira traz a festa de premiação tradicional organizada pela CBF desde 2005. Mas só neste ano, pela primeira vez, haverá uma distribuição igual de prêmios para homens e mulheres na festa. 

Em 2018, a CBF unificou as premiações que fazia para o Brasileiro masculino e para o Brasileiro Feminino e convidou as mulheres para participarem da festa. Houve, inclusive, uma homenagem à atacante Marta, que conquistou naquele ano pela sexta vez o prêmio da Fifa de melhor jogadora do mundo. No entanto, havia dois troféus que só existiam na versão masculina: o de craque da galera e de gol mais bonito.

Desta vez, serão 16 categorias para os homens e 16 categorias para as mulheres e todos receberão os troféus na mesma festa, nesta segunda-feira, na zona portuária do Rio de Janeiro. 

Incluir as mulheres na já tradicional festa promovida para os homens é uma atitude simples, mas significativa. A própria Fifa, por exemplo, não separa as premiações femininas e masculinas em festas diferentes. Celebrar os melhores jogadores e as melhores jogadoras no mesmo evento é uma forma de valorizar ambos de maneira igual.

Além disso, essa é uma estratégia que acaba trazendo mais visibilidade para o futebol feminino. Com a presença de toda a mídia no evento, fica quase impossível para os veículos "ignorarem" as jogadoras na premiação. 

Em um ano considerado histórico para o futebol feminino, o Campeonato Brasileiro feminino também teve marcas importantes. Foi a primeira edição com 52 times (36 na A2 e 16 na A1) e o primeiro com transmissão semanal na TV aberta em muito tempo. A Band adotou o horário de 14h aos domingos para transmitir os jogos das mulheres e obteve grandes saltos de audiência com isso. Na final, o Parque São Jorge ficou pequeno para a quantidade de corintianos tentando entrar para acompanhar Corinthians x Ferroviária. Craques da seleção voltaram a atuar no país, e os jogos tiveram altíssimo nível.

(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Sendo assim, diante de tanta evolução, o mínimo de reconhecimento é importante e necessário. O fato de a CBF ampliar a premiação das mulheres e fazê-la exatamente igual a dos homens agora mostra ao menos uma intenção de valorizar o campeonato feminino, que ela mesma organiza. 

Referências

Além de fazer justiça à dedicação das mulheres no Campeonato Brasileiro, premiações como essa ajudam a criar no imaginário infantil referências também femininas no futebol. Todo menino cresce jogando bola e vestindo a camisa de seus ídolos. No caso das meninas, elas também crescem com as referências masculinas. Jogam futebol sonhando em ser Neymar ou Ronaldinho, em vez de pensarem em Marta e Cristiane. 

Eisso acontece também porque elas não têm como criar referências de algo que não conhecem. Agora, com o futebol feminino ganhando a visibilidade que merece, é possível já imaginar (e até ver) meninas (e também meninos) vestindo as camisas com nomes de Marta, Cristiane e outras craques.

Foto: Divulgação Ferroviária

No ano passado, ao receber a homenagem da CBF das mãos de sua mãe, Marta não conteve a emoção.

"É uma batalha muito difícil, mas não impossível. E essas ações que vêm acontecendo constantemente, por exemplo hoje, a CBF poder fazer isso, premiar as meninas do (campeonato) Brasileiro juntamente com os meninos, é um incentivo muito grande. Como a Djeni (jogadora do Iranduba) falou aqui, tantas meninas têm os nossos atletas, os meninos, como ídolos. Então, cada vez nos motiva a seguir em frente, seguir lutando e buscando, principalmente, a igualdade de gênero", disse.

Por isso, essa festa não será apenas simbólica para as mulheres. Ela é também essencial para dar continuidade ao crescimento do futebol feminino, que demorou demais a chegar – superou tantos percalços no caminho, até mesmo uma proibição por lei -, mas finalmente começa a dar sinais de que veio para ficar.

Que venha um Campeonato Brasileiro ainda mais forte para as mulheres, com outros quatro times de camisa presentes (São Paulo, Cruzeiro, Grêmio e Palmeiras) e muitas emoções por vir. 

 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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