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Confuso, calendário do futebol feminino faz time esperar 40 dias por final

Roberta Nina

26/09/2019 15h38

Corinthians e Ferroviária disputaram fases finais de Paulista, Brasileiro e irão para a Libertadores em outubro (Foto: dibradoras)

Campeonato Brasileiro, Campeonato Paulista, Libertadores da América e amistosos da seleção brasileira. Nas últimas semanas, as competições do futebol feminino se cruzaram e isso virou tema de debate entre os clubes, Federações e torcedores.

Se, no futebol masculino, já existe polêmica e muita reclamação pelo calendário, com o feminino não é diferente. O agravante é que, no caso delas, a temporada é mais curta e, no caso dos times de menor expressão, é quase impossível manter o futebol ativo por mais de seis meses.

Neste ano, o problema se acentuou na reta final de Campeonato Paulista e Brasileiro. As duas principais competições do país tiveram sua fase mata-mata acontecendo ao mesmo tempo. A situação embolou ainda mais pelo fato de a Libertadores ter sido marcada para outubro. Diante desse imbróglio, a final do estadual só irá acontecer em novembro e, se isso ocorrer, levará um dos finalistas a ficar quase 40 dias sem jogos esperando a decisão.

O cruzamento de datas aconteceu por inúmeros fatores, mas a falta de organização, ausência de diálogo com os clubes e a definição tardia por parte da Conmebol sobre a Libertadores são os principais pontos que precisam ser melhorados.

Como é a temporada do futebol feminino?

No futebol feminino, as duas maiores competições do ano acontecem simultaneamente. Neste ano, o Campeonato Paulista começou em abril e tinha previsão de ser encerrado em setembro. Já o Brasileiro teve início em março e tinha previsão de término em outubro.

Audax/Corinthians vencedor do título em 2017 (Foto: AFP)

A CBF, confirmou o calendário de suas competições de 2019, em fevereiro. O Campeonato Paulista, que dependia da definição do calendário nacional, teve suas datas acertadas com os clubes em março. Um pouco em cima da hora, é verdade, mas o problema maior veio quando a Conmebol anunciou em junho que faria a Libertadores em outubro – diferente dos outros anos em que o torneio costumava acontecer após a temporada dos clubes em seus países.

Existe uma hierarquia entre as Federações e Confederações, então se a Conmebol define as datas de suas competições, a CBF e a FPF precisam se adequar. Essa demora da Conmebol em definir o início da Libertadores se deve ao formato da competição, que acontece em apenas duas semanas em um país-sede que precisa demonstrar interesse em realizar toda a logística do campeonato.

Manaus sediou a Libertadores em 2018 (Foto: RuiCosta Iranduba)

A Conmebol destina uma quantia em dinheiro para o país-sede e ele fica responsável por organizar a chegada das equipes, hospedagens, alimentação, arbitragem, campos para acontecer os jogos e etc. E, por partir de interesse voluntário de um país, a definição da data do torneio pode acontecer tardiamente e prejudicar o andamento das competições que foram previamente definidas.

Corinthians x Ferroviária: quatro confrontos seguidos + Libertadores

Pelo regulamento, campeão brasileiro e vice ficariam com as vagas do Brasil na Libertadores – seriam Corinthians e Rio Preto em 2018. Mas a equipe do interior interrompeu seu projeto no futebol feminino, e repassou o direito ao terceiro colocado, Flamengo/Marinha. O clube carioca abriu mão de participar da competição sul-americana por conta dos Jogos Militares e, sendo assim, a Ferroviária (4ª colocada em 2018) ficou com a vaga.

Corinthians e Ferroviária, coincidentemente, são os finalistas do Brasileiro 2019 e também semifinalistas do Paulista – o que geraria uma série de quatro confrontos seguidos entre as duas equipes.

Foto: Felipe Blanco / Ferroviária

Em reunião com a FPF, os 4 clubes semifinalistas do Paulista propuseram realizar as finais do estadual nos dias 25/9 e 28/9 (antes da Libertadores) deixando as finais do Brasileiro para depois do torneio sul-americano. Houve, então, um contato da federação com a CBF pedindo esta mudança no calendário, mas a CBF negou.

Com isso, a decisão do Campeonato Paulista acontecerá após a Libertadores da América, e o São Paulo – o primeiro finalista definido – precisará aguardar quase 40 dias para disputar o título já que não tem mais nenhuma competição para jogar.

Em nota, a CBF afirmou que "a adaptação (do calendário) levou em consideração o desejo dos clubes, a programação de Datas FIFA (30 de setembro a 8 de outubro e 4 a 12 de novembro) e o contrato de transmissão de TV. A partir deste cenário a CBF visualizou os dias 22 e 29 de setembro como as melhores opções para as partidas decisivas Brasileiro Feminino A1."

Organizar e dialogar

A reportagem entrou em contato com os clubes envolvidos nessa situação (Corinthians, Ferroviária e São Paulo) e todos eles reclamaram da falta de organização no calendário e pediram mais diálogo entre os órgãos e as equipes.

Elenco são-paulino, finalista do Paulista de 2019 (Foto: Divulgação São Paulo FC)

"O calendário feminino no Brasil é desorganizado há um tempo. Acredito que a melhor forma para ajustar é a Confederação, Federações e Conmebol alinharem em conjunto com os clubes para transformar o cenário. Tenho uma preocupação com o planejamento dos clubes e atletas (para final do Paulista). Deixar um time parado por quase quarenta dias para uma decisão é inviável. O Corinthians e a Ferroviária estão em duas decisões – estadual e nacional – consecutivas, com o mesmo time, disputando quatro vezes em menos de duas semanas, enquanto o São Paulo ficará parado por 38 dias, perdendo ritmo de jogo e tendo que retrabalhar o fator psicológico", analisou a diretora do futebol feminino no Corinthians, Cris Gambaré.

Amauri Nascimento, supervisor do futebol feminino do São Paulo declarou que houve uma melhora na organização dos campeonatos, trazendo mais visibilidade e atenção ao futebol feminino, mas que mesmo assim, ainda é preciso evoluir. "É uma mudança gradativa. Para os próximos anos, acredito que podemos melhorar a organização do calendário com melhor alinhamento de datas dos campeonatos, o respeito a Datas FIFA, e a criação de um conselho técnico do Campeonato Brasileiro.

Ferroviária de Araraquara: campeã em 2016 (Foto: Conmebol)

Ana Lorena Marche, coordenadora da modalidade na Ferroviária, reforçou que o diálogo com a FPF tem sido mais frequente, com a realização de um Conselho Técnico para o campeonato. Ela destaca, porém, que falta a CBF ouvir mais os clubes.

"Tentamos uma linha de diálogo, reunimos todos os clubes para tentar algo em comum e não fomos ouvidos. Achamos que esse adiamento da final do Paulista não foi bom. Prejudica as equipes, principalmente o São Paulo que ficará muitos dias sem jogar, só treinando. Mas não só isso, foi prejudicial para Ferroviária e para o Corinthians que tiveram que jogar quatro jogos seguidos e é preciso dar prioridade para um campeonato ou outro. Acho que o principal problema foi a Conmebol marcar a Libertadores em outubro, pegando todo mundo de surpresa", concluiu a dirigente da Ferroviária.

Definição

O primeiro jogo da final do Brasileiro Feminino aconteceu em Araraquara no último domingo (22) e a partida acabou empatada em 1×1. O confronto final acontece no próximo domingo, dia 29/9, às 14h, na Fazendinha, em São Paulo.

As finais do Paulista Feminino serão disputadas por São Paulo e Corinthians ainda sem definição das datas – mas é bem provável que aconteçam na última semana de outubro e na primeira de novembro. A outra opção é usar datas Fifa de outubro, mas com isso o Corinthians seria prejudicado, já que quatro atletas do time paulista estarão servindo a seleção brasileira em amistosos (Lelê, Erika, Tamires e Victoria).

E a Libertadores começa no dia 11 de outubro e chega ao fim no dia 27 do mesmo mês. Corinthians e Ferroviária são as equipes brasileiras que disputarão as competições.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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