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Pai e irmão tentaram, mas foi ela quem se realizou no futebol e virou filme

Roberta Nina

12/09/2019 09h37

(Foto: Divulgação)

O futebol sempre fez parte da família Nunes como se fosse mais um integrante da casa. A paixão que começou no pai também contagiou o filho, mas foi pelos pés de uma menina que o sonho de vestir a camisa de um grande clube e chegar à seleção brasileira se tornou real.

A protagonista da história é Gabi Nunes, de 22 anos e atacante do Corinthians. E todo esse envolvimento familiar com a bola estará nas telas do Cinefoot em São Paulo, no próximo sábado (14/9), no auditório do Museu do Futebol. O curta-metragem "Nunes FC" tem direção de Cristiano Fukuyama, Edson de Lima e Luiz Nascimento.

"Nós (diretores) moramos próximos da família Nunes e a ideia de fazer o filme surgiu de nossa interação com eles. Primeiramente falaríamos da redenção da Gabi após a primeira contusão que a tirou da seleção brasileira, na época sob o comando de Emily Lima. E depois, com a troca mais íntima com eles, a gente viu que a história era muito maior do que abordar somente a menina prodígio da família", declarou Edson, um dos diretores do filme e responsável por "A Vitrine do Futebol Feminino", espaço que reúne informações e histórias sobre o futebol feminino.

Gabi Nunes, a craque do Corinthians, declarou que vive um "momento único"  ao ver a história de sua família ser retratada em um filme. "Fiquei muito feliz e gostei do que foi apresentado. Meus pais sempre me incentivaram e me treinaram. Eles foram fundamentais para a minha carreira e por tudo que sou hoje", declarou.

De pai para filho, de irmão para irmã

O sonho de se tornar jogador de futebol começa com o Roberto Nunes da Silva, pai de Gabi. Mas por falta de apoio e oportunidades, o desejo não se torna realidade. Depois, quem tenta seguir a trajetória incompleta pelo pai é o filho Roberto Nunes da Silva Junior, que chega a se tornar atleta profissional e tem conquistas importantes, mas foi com Gabi que família alcançou o auge.

(Foto: Divulgação)

Mas é claro que, por ser uma garota, a luta de Gabi não foi tão simples como a dos homens que compõe a sua família. Se a inspiração veio de casa, a sua maior luta começou fora dela, quando precisou encontrar um lugar para jogar ao lado de outras meninas. "Acompanhava meu irmão em seus jogos como profissional desde pequenininha e pedi uma bola de presente para meus pais", revelou a atleta no podcast gravado com as dibradoras em abril de 2016. 

O lugar onde Gabi deu seus primeiros chutes foi na quadra de futsal do Grêmio Filsan, na Zona Norte de São Paulo, região onde morava. Ela tinha apenas sete anos quando precisou enfrentar – ainda tão nova – a primeira barreira. "Fui proibida de jogar porque comecei a me destacar e os dirigentes do time não queriam que meninas jogassem com meninos. Fiquei triste porque gostava muito", revelou.

Anos depois, encontrou espaço no Macabi, do Clube Hebraica de São Paulo. Ela pagava uma mensalidade e jogava com mulheres mais velhas e amadoras – com cerca de 40 anos – e foi a ali a maneira que ela encontrou de estar perto da bola, sem precisar sofrer com proibições. 

Sereias da Vila: bicampeãs (Foto: Reprodução Twitter / Santos FC)

Com 12 anos seu sonho tomou forma. "Fui até Santos assistir a um jogo de futebol feminino. Estava acontecendo a Libertadores da América e eu vi a Marta e a Cristiane em campo e adorei", contou. Embalada pela inspiração e com a ajuda de seu irmão que descobriu o trabalho do Centro Olímpico, Gabi passou a fazer parte das categorias do clube.

Começou no sub-15, passou pelo sub-17 e foi adquirindo experiências. No ano de 2015, foi artilheira do Campeonato Paulista com 12 gols defendendo o Osasco Audax. No final do mesmo ano, voltou para o Centro Olímpico e foi artilheira do Brasileiro Feminino com 14 gols em 12 jogos. E a partir daí, sua carreira ganhou notoriedade, chegou à seleção brasileira e enfrentou lesões que atrapalharam muito seu desenvolvimento.

Lutas e glórias

Gabi Nunes chegou ao Corinthians em 2016 e naquele mesmo ano já foi campeã da Copa do Brasil com direito a gol marcado na final contra o São José.

Pela seleção, defendeu a sub-17 e na sub-20 em 2016, foi vice-artilheira do Mundial da categoria marcando 5 gols em 4 jogos , recebendo a chuteira de prata como prêmio da Fifa. O troféu foi entregue por Marta enquanto Gabi disputava o Torneio Internacional de Manaus, já na seleção principal.

(Divulgação/CBF)

Em 2017, enfrentou o primeiro grande baque de sua carreira. Defendia a seleção quando rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo em um duelo contra os Estados Unidos. Passou por cirurgia e se afastou dos gramados por sete meses. Mas o pesadelo voltou no início no ano seguinte, quando rompeu o mesmo ligamento em um amistoso defendendo o Corinthians. Mais uma vez foi operada e enfrentou mais sete meses de recuperação. 

Seu retorno ao futebol foi no início deste ano e, com força total, Gabi ajudou demais o Corinthians no começo do Paulista e do Brasileiro – chegando a brigar pela artilharia ao lado de Millene e Adriana.

Às vésperas da Copa do Mundo, mais uma lesão. Pela terceira vez a atleta lesionou o joelho, desta vez, o ligamento cruzado anterior do joelho direito. E novamente, a jogadora vêm enfrentando a mesma rotina de cirurgia, fisioterapia e paciência. 

"A lesão é um momento muito complicado porque você fica longe do que você mais ama, que é jogar futebol. É um momento muito triste quando a gente fica sabendo, mas tem que se levantar. Minha família sempre está ao meu lado me apoiando e também me aguentando porque não é fácil, um dia você tá feliz, no outro de mau humor. Estou me recuperando para voltar mais forte", declarou Gabi às dibradoras.

(Foto: Bruno Teixeira)

O retorno de Gabi deve acontecer somente no ano que vem e, até mesmo pensando nas dificuldades enfrentadas pela jogadora, Edson pensa em preparar uma continuidade para o filme. "É um conteúdo que não é datado, ele pode ter uma sequência porque a Gabi está em atividade. Ela tem quebrado recordes e conquistado marcas importantes. Agora teve mais um problema de contusão, mas nossa ideia é que o filme seja atemporal e, na medida do possível, nós tenhamos a sequência dessa história. E ela também vai escrever por si só a história dela", afirmou o diretor.

Gabi Nunes espera o que o filme possa inspirar as meninas e também as famílias."Muitas meninas ainda não recebem o apoio dos pais e algumas delas falam sobre isso comigo pelo Instagram. Então acho que o filme que pode mostrar que o apoio da família é super fundamental para o crescimento de uma atleta e para apoiarem o sonho delas", finalizou.

EXIBIÇÃO

Data: 14/09/2019
Local: Museu do Futebol
Endereço: Praça Charles Miler, s/n
Horário: 16h
Entrada: gratuita (ordem de chegada)

FICHA TÉCNICA

Título: Nunes FC
Direção: Cristiano Fukuyama, Edson de Lima e Luiz Nascimento
Produção: Acervo da Bola e A Vitrine do Futebol Feminino
Duração: 21 minutos
Site: http://www.acervodabola.com.br/nunesfc/

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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