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Pan começa com novo protagonismo das mulheres no esporte

Renata Mendonça

26/07/2019 08h59

Foto: Divulgação

Os Jogos Pan-Americanos começam oficialmente nesta sexta-feira com uma nova perspectiva para as mulheres no esporte. A começar que, pela primeira vez na história, o Brasil terá representantes femininas carregando a bandeira do país na cerimônia de abertura – a dupla da vela que foi ouro na Rio-2016, Martine e Kahena.

Além disso, a delegação brasileira está quase dividida igualmente entre homens e mulheres – elas representam 48% do total de 486 atletas.

O momento, em comparação com o Pan de 2015, é bastante diferente para as mulheres. Elas assumiram maior protagonismo e passaram a ter mais voz, principalmente para reivindicar uma representação menos sexualizada e mais esportiva na mídia. Um caso quatro anos atrás é simbólico se pensarmos nas tantas mudanças que aconteceram de lá para cá: a "polêmica" foto da atleta Ingrid Oliveira, dos saltos ornamentais.

Tinha tudo para ser apenas uma postagem normal de expectativa para os Jogos, mas virou um espaço para comentários assediosos que ganharam repercussão também na imprensa. Ingrid falou sobre isso em um importante depoimento ao Uol Esporte neste ano e mostrou o quanto isso teve impacto na sua performance à época.

No Pan-Americano de Lima, que está para começar, as mulheres chegam para finalmente ter o protagonismo que merecem – dentro das quadras, piscinas, tatames. Deixemos as musas para as passarelas, aqui o negócio delas é pódio. Destacamos alguns dos principais nomes entre as mulheres que representarão o Brasil em Lima.

Mayra Aguiar (judô)

Foto: Divulgação

Quem olha para Mayra Aguiar nos tatames na categoria de 78kg do judô não imagina que aqueles mesmos pés usados para derrubar as adversárias em ippons perfeitos um dia vestiram sapatilhas. Com seis anos, seus pais queriam que a menina fizesse algum esporte e aí a colocaram no ballet e no judô. O que decidiria seu destino seria, na verdade, uma característica que até hoje lhe é peculiar: o gosto pela competição. A escolha não poderia ter sido melhor.

Mayra Aguiar conquistou em 2017 o bicampeonato mundial de judô, a primeira mulher a atingir o feito – que só é igualado por João Derly. Ela se tornou a maior medalhista do país na competição, somando cinco pódios: ouro em 2017, ouro em 2014, prata em 2010, dois bronzes em 2011 e 2013. Tem no currículo também o bronze olímpico em 2012 e, nos Jogos Pan-Americanos acumula duas pratas (2007 e 2015) e um bronze (2011) – agora em Lima é uma das favoritas em busca do ouro.

Rafaela Silva (judô)

Foto: Divulgação

Rafaela Silva emocionou o Brasil inteiro em 2016, quando conquistou o ouro em sua cidade-natal nos Jogos Olímpicos naquelas voltas por cima que só o esporte pode proporcionar. Campeã Mundial na categoria até 57kg do judô em 2013, ela ainda busca o ouro inédito no Pan-Americano – tem uma prata (2011) e um bronze (2015) na competição. A história da judoca, que saiu da Cidade de Deus, uma das comunidades mais violentas do Rio de Janeiro, para ganhar o mundo lutando judô é uma grande inspiração e hoje ela é uma das vozes mais importantes para reforçar o protagonismo das mulheres no esporte.

"Muitas pessoas falaram que lugar de macaco era na jaula, não numa Olimpíada. Que eu era uma vergonha pra minha família, que era pra eu voltar rastejando de Londres. E quando eu voltei eu disse que não queria mais praticar esportes. Voltei a competir em abril de 2013. Se eu tivesse parado em Londres, eu não estaria aqui, falando sobre o movimento feminino no esporte. Quando eu cheguei na seleção, a equipe masculina tinha todo o investimento, enquanto a feminina, que não tinha tantos resultados, não recebia. Era difícil a gente crescer. Eu tive gente que investiu em mim, como meu treinador. Se não tivesse, eu não chegaria onde cheguei hoje", disse em 2018.

Rafaela Silva tentará sua medalha inédita no Pan no dia 9 de agosto.

Ana Marcela (maratona aquática)

Foto: Satiro Sodré/rededoesporte

Ana Marcela é a única brasileira com vaga nominal garantida na Olimpíada de Tóquio e ela vai a Lima também como favorita ao pódio mais uma vez – e com uma motivação extra: a atleta nunca conquistou uma medalha nos Jogos Pan-Americanos e agora, no auge da carreira, sonha em somar mais essa medalha.

Com 12 pódios em mundiais – sendo os últimos dois conquistados neste mês, com o ouro nos 5km e nos 25km -, ela terá 15 dias de descanso com a família antes de começar seu novo desafio no Peru, em 4 de agosto.

Etiene Medeiros (natação)

(Foto: Satiro Sodré / SSpress)

Etiene chega ao Pan-Americano com status de favorita absoluta após ter conquistado a medalha de prata nos 50m costa no Mundial. Foi a terceira vez consecutiva que ela garantiu pódio nesta prova. A pernambucana segue acumulando conquistas históricas: foi a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha de ouro em um Mundial de piscina longa (em 2017); já havia sido a primeira a conquistar um pódio na mesma competição, com a prata que veio em 2015 na mesma prova; foi antes a primeira a conquistar um ouro em Mundial de piscina curta (foram 3, dois em Doha-2014 e um em Windsor-2016), a primeira a conquistar um ouro em Pan-Americanos (100m costa em Toronto-2015) e agora vai a Lima em busca de mais pódios para colecionar.

Chloe Calmon (surfe)

Modalidade recém-adicionada ao programa olímpico, o surfe também fará parte pela primeira vez de um Pan-Americano. E o Brasil tem grandes chances de subir ao pódio com a surfista de longboard Chloe Calmon, líder do ranking mundial na sua categoria. Carioca de 24 anos, ela está desde os 16 disputando na elite da modalidade e já soma dois vice-campeonatos mundiais. A atleta foi campeã da primeira etapa do Circuito Mundial em Noosa, na Austrália, no início deste ano, e vive enorme expectativa por disputar pela primeira vez os Jogos Pan-Americanos ao lado da equipe brasileira de surfe.

 

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Ana Sátila (canoagem slalom)

Foto: Divulgação

Ouro no Mundial sub-23 de canoagem slalom no C1 e no K1 nos últimos dias, Ana Sátila chega favorita para o Pan-Americano. Filha de um ex-atleta amador de natação, ela foi incentivada a praticar esporte desde sempre e, ao lado da irmã, começou na canoagem ainda na infância, no Rio das Mortes em uma cidade do interior do Mato Grosso – o lugar é cheio de correntezas e já fez as duas pegarem gosto pela aventura. Hoje, elas disputam medalhas juntas nas principais competições mundiais de slalom.

O currículo de Ana é recheado de pódios, tanto na base, quanto no adulto. Ela já conseguiu um bronze no C1 do Mundial da categoria principal, quatro medalhas em Mundiais sub-23 e duas em Mundiais Júnior. Em 2012, foi aos Jogos de Londres como a atleta mais jovem da delegação brasileira aos 16 anos, esteve também no Rio e se prepara para representar o Brasil em Tóquio no ano que vem.

Handebol feminino

Foto: Divulgação

A seleção feminina de handebol é absoluta nos Jogos Pan-Americanos, atual pentacampeã do torneio e busca seu hexacampeonato nesta edição em Lima. A estreia já aconteceu na última quarta-feira diante de Cuba, quando as brasileiras saíram de quadra com a vitória por 29 a 20.

Campeã mundial em 2013, a seleção brasileira tenta recuperar seu prestígio no cenário mundial após a saída do técnico Morten Soubak em dezembro de 2016 e a diminuição da verba destinada à modalidade. À época, o Brasil havia sido eliminado nas quartas-de-final da Olimpíada do Rio, o que foi uma certa decepção para um time que vinha em ascensão. No último Mundial, em 2017, a seleção sequer passou de fase e agora o Pan será um bom teste para que elas cheguem mais preparadas na próxima edição, que acontece em dezembro deste ano. Além disso, o ouro em Lima garante uma vaga olímpica para as brasileiras.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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