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Quem é Pia Sundhage, a nova técnica da seleção feminina de futebol

Renata Mendonça

25/07/2019 10h42

Pia Sundhage foi eleita a melhor técnica do mundo em 2012 (Foto: Fifa)

A CBF anunciou nesta quinta-feira Pia Sundhage como a nova técnica da seleção feminina de futebol. A sueca, que teve sua passagem mais vitoriosa nos Estados Unidos, chega para um contrato de longo prazo, com promessa de uma reformulação no futebol feminino do país.

Pia esteve no Brasil no mês de abril para o seminário "Somos Futebol", organizado pela CBF, e foi questionada pela reportagem do dibradoras sobre como se sentiria caso recebesse um convite para comandar a seleção brasileira. À época, ela já não escondeu seu interesse.

"Se eu tivesse essa oportunidade, eu ficaria muito orgulhosa se eu recebesse esse convite, claro…você pode ver meu sorriso, estou sorrindo", brincou ela.

A técnica sueca tem um currículo de dar inveja a qualquer profissional. Bicampeã olímpica, vice-campeã mundial, levou o limitado time da Suécia à prata olímpica em 2016 e agora comandava um trabalho diferente na seleção sub-15 e sub-17 de seu país de origem. Com vasta experiência, tanto no futebol profissional quanto no de base, Pia é um nome que com certeza qualquer seleção gostaria de ter no comando e sempre teve trabalhos longos e bem-sucedidos na carreira – foram cinco anos nos Estados Unidos e outros cinco na Suécia.

Falamos aqui um pouco sobre a história da treinadora, que será a segunda mulher na história a assumir uma seleção de futebol no Brasil.

+ Por que uma das técnicas mais vencedoras do mundo não pode comandar homens?

Jogadora

Pia Sundhage é um dos principais nomes que já vestiu a camisa da seleção sueca. Ela começou a jogar futebol internacionalmente em uma época que esse era um esporte proibido para mulheres e chegou a se fingir de menino por orientação de um treinador para poder jogar um campeonato, quanto tinha 7 anos de idade.

(Foto: Getty Images)

Em 1975, com 15 anos, ela representou pela primeira vez a Suécia dentro de campo. Jogou de atacante, mas também foi meio-campista e acumulou 146 partidas na seleção sueca, tendo marcado 71 gols – é uma das maiores artilheiras da história do país.

Ela jogou a primeira Copa do Mundo oficial feminina em 1991, quando ficou em terceiro lugar, e a de 1995, além dos Jogos Olímpicos de 1996.

Início como treinadora

Quando já pensava em parar de jogar, Pia iniciou sua transição para atuar como técnica. Isso aconteceu em 1992, quando foi "jogadora e treinadora" no Hammarby Fotboll da Suécia, onde ficou até 1994 fazendo essa dupla função.

Ainda em seu país, foi assistente no Vallentuna BK, depois no AIK Fotboll Dam, até receber a oportunidade de ser auxiliar de uma equipe na Liga Americana de futebol feminino. Mudou-se para lá para trabalhar no Philadelphia Charge, depois foi contratada pelo Boston Breakers para ser treinadora efetiva – conquistou o título nacional nos EUA e se tornou "a técnica do ano" por lá em 2003.

A oportunidade de comandar a seleção dos EUA veio em 2007, depois que ela havia sido assistente na seleção chinesa na Copa do Mundo. Foi naquele ano que ocorreu a última derrota americana no tempo regulamentar em fase de mata-mata (e foi para o Brasil, quando elas acabaram eliminadas na semifinal com uma goleada por 4 a 0 para Marta e companhia). Os Estados Unidos queriam novos ares para a seleção, e a sueca foi anunciada para o principal cargo de comando em novembro de 2007. Menos de um ano depois, já era campeã olímpica em Pequim, vencendo inclusive a própria seleção brasileira na decisão.

Foto: Fifa

Em 2011, chegou à final da Copa do Mundo e acabou derrotada para o Japão nos pênaltis. Mas Pia parece boa mesmo em revanches, porque deu o troco no ano seguinte, também na Olimpíada, ao vencer as japonesas na final em Londres.

Pouco mais de um mês após o bicampeonato olímpico, a técnica anunciou que deixaria os Estados Unidos para assumir um novo desafio em seu país de origem. Não deixou as americanas mal-servidas – Jill Ellis, que hoje é bicampeã mundial com as americanas, foi assistente dela e foi efetivada com sua saída.

Na Suécia, também teve um trabalho de longo prazo e chamou a atenção sua campanha no Rio de Janeiro, na Olimpíada, quando não chegou como favorita, acabou goleada para o Brasil por 5 a 1 na primeira fase, mas sequer esperou o ano seguinte para dar o troco. Lembra como ela é boa em revanches? Pois as suecas eliminaram primeiro os Estados Unidos nas penalidades nas quartas-de-final, e depois a seleção brasileira nas semis, também nos penais. Só não deu para vencer a final contra a Alemanha – mas a prata ficou de bom tamanho para uma seleção que era pouco acreditada naquele torneio.

Foto: Getty

"Uma vez Abby Wambach (atacante dos EUA) disse uma coisa interessante. Ela falou 'tudo bem se você falhar, mas faça com que isso seja seu combustível'. É isso que fizemos quando fomos derrotadas pelo Brasil (na primeira fase da Olimpíada de 2016)."

'Segredo' do trabalho bem-sucedido

Não dá para negar que Pia Sundhage é uma das técnicas mais vitoriosas do mundo – foram 3 finais olímpicas consecutivas. E tudo isso trabalhando com perfis bem diferentes de equipes nas mãos. A treinadora fala muito em "tirar o melhor de suas atletas", o que parece óbvio, mas ela tem uma certa estratégia para conseguir isso.

 

"O segredo é unir o time e respeitá-lo, porque eu acredito que eu preciso manter minha personalidade e minha filosofia como técnica e, ao mesmo tempo, respeitar o conhecimento das jogadoras. Porque elas são vencedoras, quem sou eu para mudar isso do dia para a noite. Eu faço com que elas fiquem conscientes sobre a forma como elas jogam e elas precisam ser responsáveis por essa forma de jogar. E aí é a questão de olhar no espelho: é isso que você quer fazer? Isso é bom? Ou é suficiente? E tento falar de uma forma positiva. E mostrar a elas que elas podem ter sucesso. Isso ajuda a trazer a melhor performance para o campo", descreveu ela quando esteve no Brasil em abril.

À época, a seleção feminina acumulava 9 derrotas em 9 jogos e ela deu a dica sobre o que fazer para reverter essa situação. "Você precisa reunir comissão técnica e as jogadoras, com coragem para olhar para si mesmos e dizer: ok, nós temos que mudar, precisamos olhar no espelho e perceber qual é a participação de cada um nesses resultados que estão ruins. Você precisa confrontar essa imagem (de derrota). É difícil, muito difícil, mas é possível."

A visão sobre a base

Desde que decidiu deixar a seleção principal da Suécia em 2017, Pia Sundhage decidiu que sua forma de contribuir com o futebol seria atuando na base. Conversando com ela em sua visita à CBF, a treinadora demonstrou que tinha encontrado um novo prazer ao atuar na formação de jogadoras e uma forma muito mais gratificante de "devolver ao futebol tudo o que recebeu dele".

"Você tem um impacto muito grande numa menina de 16 anos, na forma como posso inspirar e motivá-la a treinar mais. Quando é um time profissional, é aqui e agora, você tem que vencer o jogo. E para jovens você tem um pouco mais de tempo para desenvolver", disse.

Foto: Getty

Ainda não se sabe sobre a maneira como Pia Sundhage trabalhará na seleção principal, mas a ideia da CBF é que a atuação dela se alinhe com as comissões que cuidarão das seleções de base. A julgar pela visão que ela tem de futebol feminino e formação de atletas, isso pode ser muito positivo para que o Brasil consiga tirar o melhor proveito dos inúmeros talentos espalhados pelo país que acabaram desperdiçados por conta do descaso com o futebol feminino.

Vale destacar também a importância da presença de Pia no comando de uma seleção em um contexto ainda tão masculino como é o do futebol brasileiro. "Há um desperdício de boas técnicas se você não cuidar dos dois gêneros, homens e mulheres. Então acho que é bom que tenha mais mulheres como técnicas. Muitas vezes eu enfrentei esse preconceito."

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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