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EUA na final: 'Chamam de arrogância, para nós é autoconfiança e preparação'

Renata Mendonça

03/07/2019 09h57

Foto: Reuters

Os Estados Unidos estão em mais uma final de Copa do Mundo. Em oito edições do torneio, nunca as americanas ficaram fora das semifinais, e em cinco oportunidades, elas foram para a final. Os resultados não vieram por acaso. São fruto de um trabalho muito forte feito no futebol feminino do país desde a base, com muita disciplina e excelência.

É comum ver as jogadoras dos Estados Unidos, seja dessa geração ou das anteriores, falando com muita naturalidade sobre a força que elas têm no cenário mundial e sobre o fato de serem favoritas ao título. E tem muita gente que vê tudo isso como um certo tom de "arrogância". Muito se falou sobre isso nas vésperas do confronto da semifinal com a Inglaterra, com os jornalistas britânicos questionando as jogadoras e a técnica Jill Ellis sobre esse tom de "superioridade" que pairava sobre a equipe americana. Após a classificação delas para a decisão, questionamos algumas das jogadoras dos Estados Unidos sobre isso.

"Eu diria que as pessoas devem estar confundindo arrogância com autoconfiança. Nós somos um time muito confiante, nós sabemos o quanto nós trabalhamos, sabemos o quanto nos sacrificamos, sabemos o nosso DNA. Se as pessoas veem isso como arrogância, nós vemos como preparação. Nós acreditamos umas nas outras e isso é só o que precisamos", disse a zagueira Becky Sauerbrunn.

A atacante Alex Morgan, aniversariante do dia e uma das artilheiras dessa Copa com seis gols em cinco jogos, também nos respondeu sobre isso.

"Acho que as pessoas gostam de falar de coisas que não existem, especialmente numa Copa do Mundo onde todos os olhos estão nos times que ficam para as finais. Para nós é só deixar essas coisas entrarem por um ouvido e sair pelo outro e saber que nós jogamos e trabalhamos duro, isso é um jogo confiante, não é um jogo arrogante", sintetizou ela.

Podem chamar de arrogantes ou do que quiserem, mas a verdade é que o time americano é realmente muito difícil de ser batido. Para se ter uma ideia, os Estados Unidos acumulam 16 partidas sem perder na Copa, somados os jogos de 2011 (vice-campeãs, perderam nos pênaltis), 2015 (campeãs) e 2019 (estão na final). A última derrota delas em mata-mata foi justamente para o Brasil na semifinal de 2007, quando Marta e companhia fizeram um jogaço e aplicaram uma goleada de 4 a 0 em cima das americanas. De lá para cá, elas estão invictas na fase eliminatória, tendo perdido pela última vez um jogo de fase de grupos em 6 de julho de 2011.

Por todo o trabalho feito, principalmente na base do futebol feminino nos Estados Unidos, as americanas sempre chegam como favoritas ao título da Copa do Mundo. E elas não fogem desse status, pelo contrário. Quando Sauerbrunn foi questionada ainda no segundo jogo por um repórter francês sobre qual era o objetivo delas na competição, ela nem acreditou. "Conquistar o título. Você está brincando? Nós viemos aqui para ganhar", disse ela.

A técnica Jill Ellis também falou disso na coletiva de imprensa após a vitória sobre as inglesas. Ela reforçou que os Estados Unidos pensam sempre em um jogo após o outro sem perder de vista o foco e o grande objetivo da competição: o título.

Ellen White também deixou seu deboche imitando a comemoração de Rapinoe no gol de empate (Foto: Fifa)

"Estamos aqui para uma só coisa, é isso. Não é para ficar dando ouvidos a coisas inventadas e ruídos externos. Estamos aqui para uma coisa: para conquistar o título", disse Jill Ellis.

E, por enquanto, elas estão sendo muito bem-sucedidas na missão. Mesmo enfrentando adversários muito difíceis na reta final – a Espanha nas oitavas, a França, dona da casa, nas quartas e a Inglaterra na semifinal -, vencendo todos por 2 a 1, os Estados Unidos chegaram a mais uma decisão impondo o melhor de seu jogo: muita intensidade, eficiência e qualidade técnica.

"Nós não tivemos a rota mais fácil nesse campeonato. E acho que nós tivemos muito barulho ao redor desse time, só que isso não afetou a equipe. Então acho que nós estamos apenas bebendo esse chá", brincou Alex Morgan na explicação sobre sua comemoração no segundo gol americano nesta terça.

Foto: Reuters

Elas definitivamente não tiveram um caminho fácil e mostraram sua qualidade até aqui. A conclusão por enquanto é que vai ser difícil bater esse time americano. Se é arrogância ou não, o fato é que elas se preparam muito e merecem ocupar o lugar onde estão.

Histórico dos EUA nas Copas femininas:

1991: campeão
1995: semifinais
1999: campeão
2003: semifinais
2007: semifinais
2011: final
2015: campeão
2019: final

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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