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França abraça a Copa e crianças tomam conta do estádio na abertura

Renata Mendonça

08/06/2019 05h04

No dia que antecedeu a abertura da Copa do Mundo feminina na França, muito se questionou a respeito do "clima de Copa". Essa foi uma das perguntas mais repetidas  na coletiva de imprensa do comitê organizador local e da Fifa sobre o início do torneio. O questionamento vinha porque, realmente, quem andava pelas ruas de Paris poderia passar um dia todo sem "saber" que a cidade sediaria o Mundial das mulheres. Poucos anúncios, cartazes ou sinalizações sobre a maior competição de futebol feminino do mundo.

Se faltou o "clima" às vésperas da estreia, o dia da abertura não deixou a desejar em absolutamente nenhum aspecto. Ok, talvez o que poderia ter sido melhor seria a organização para a imprensa no estádio – era apenas um raio-X para a entrada de todos os jornalistas – centenas – e isso atrasou demais o processo.

Mas se queriam "clima de Copa", isso não faltou para quem esteve nas redondezas do Parc des Princes nesta sexta-feira. Até mesmo no metrô, a caminho do estádio, cruzamos com algumas mulheres que puxaram gritos no vagão em apoio à seleção francesa, uma das favoritas a essa Copa. E mais perto do estádio, começaram a aparecer  os inúmeros torcedores franceses, com os rostos pintados com as cores da bandeira do país, cantando juntos a Marselhesa.

Foto: Dibradoras

Só que não eram simplesmente torcedores. Eram crianças. Muitas crianças. Meninas e meninos que se multiplicavam por onde passávamos. Na primeira esquina do estádio, um grupo de torcedoras cantava empolgada "Allez Les Bleus". Dando mais alguns passos, uma mãe com suas duas filhas completamente uniformizadas para o jogo. Mais à frente, as meninas de 3 e 6 anos com as unhas e rostos pintados com as cores da França. "Elas não dormem há dois dias ansiosas por esse jogo". Na fila para a entrada, um pai aproveitou a oportunidade da Copa do Mundo para levar sua menina de 8 anos pela primeira vez ao estádio. Ela estava de calção, meião e camisa da França. "A gente comprou o ingresso há 4 meses, então ela estava na expectativa há muito tempo. Nesta semana, só falou disso. Acho que é um momento importante para as mulheres no futebol e é muito bom ver isso acontecendo aqui", afirmou o pai da garota.

O clima frio e chuvoso da cidade não afastou os torcedores. O estádio estava completamente lotado, mas o que mais chamou a atenção foi justamente a presença de tantos torcedores "mirins". Em alguns momentos, sobressaíam os gritos de torcida deles é delas na arquibancada, uma atmosfera bem diferente da Copa da Rússia no ano passado. Não é que não existam crianças nos estádios no Mundial masculino, mas a presença delas é bem menos perceptível do que foi nessa abertura do torneio das mulheres. Para a editora do France 24, Kethevane Gorjestane, que também esteve na Copa do ano passado, o ambiente da competição feminina está mais "amigável e convidativo" para famílias e crianças.

"A gente consegue ver muitas famílias, tem mais mulheres, muito mais crianças. Acho que a Copa feminina tem essa característica de um ambiente mais amigável, mais confortável pra todos eles", opinou a jornalista.

"Tem outra coisa também, que na Rússia a gente teve muito problema com os homens invadindo o vídeo, te assediando. Aqui está claro, pelo ambiente, que isso não vai acontecer", completou.

Kethevane Gorjestane, editora da France 24 (Foto; dibradoras)

Estádio lotado

O público total do Parc des Princes nesta sexta foi de 45.261 pessoas. Todos os ingressos para a partida foram esgotados logo nas primeiras horas de venda no início do ano. A expectativa dos torcedores era grande para acompanhar a seleção francesa de perto.

O time comandado por Corinne Diacre é um dos favoritos do torneio e fez valer a fama diante da Coreia do Sul: 4 a 0, fora o show dentro de campo e também na arquibancada. Ao final, as jogadoras chegaram a dar uma volta no campo todo para agradecer o apoio da torcida.

"Nós temos um ótimo time, acho que temos boas chances desta vez. Um time que joga em casa sempre acaba se fortalecendo por isso, então acho que dá para acreditar que podemos ser campeões", afirmou um torcedor francês na entrada do estádio.

Encher os estádios era um dos objetivos da Fifa com essa Copa. Ela já conseguiu garantir isso em 10 jogos que estão com as entradas esgotadas. A informação passada nesta semana foi de que 950 mil ingressos foram vendidos. A expectativa é que o Mundial da França supere o recorde do Canadá, quando 1,35 milhão de pessoas foram aos jogos.

"Vai superar com certeza. Eles dizem que na próxima semana já terão ultrapassado esse número", disse a jornalista francesa Kethevane.

Jovens brasileiras também marcaram presença na abertura (Foto: Dibradoras)

Visibilidade

O que já dá para dizer sem medo de errar é que essa é a Copa do Mundo feminina com a maior visibilidade da história. A quantidade de jornalistas que lotaram o Parc des Princes na abertura deram o tom. Eram centenas de amontoando na fila horas antes do jogo tentando entrar no estádio – a situação ficou complicada por ser apenas um raio-X para tantos ali.

"Para você ter ideia, em 2015, quem transmitiu a Copa feminina aqui foi um canal menor. Eles pagaram 800 e poucos mil euros pelos direito. Em 2019, a maior TV da França está transmitindo. Eles pagaram mais de 10 milhões para isso. Só esse comparativo da mudança de valor de quatro anos para cá já te diz o quanto essa Copa será um marco", explicou a editora do France 24.

A audiência da abertura já deu mostras de que o evento será um sucesso. Segundo dados da Fifa, quase 10 milhões de pessoas estavam ligadas no canal que transmitia o jogo. Foi uma audiência recorde que teve quase 11 milhões de espectadores no pico.

No Brasil, a Band teve número expressivo de audiência com a transmissão da abertura e a hashtag #FIFAWWC ficou na primeira posição dos trending topics do Twitter. Além dela, outras palavras que remetiam ao jogo entre França e Coreia também ganharam destaque na rede social.

 

Para além da mídia, outra coisa que chamou a atenção foi a presença dos patrocinadores ao redor do estádio. A Fifa montou uma espécie de "fan zone" ao lado do Parc des Princes onde havia stands da Kia, da Qatar Airways, Coca Cola e outros patrocinadores que promoviam atividades para os torcedores por ali. Uma forma de aproveitarem a exposição que a Copa está trazendo.

"É a mídia que traz visibilidade e é a visibilidade que traz patrocínio. Acho que é isso que está acontecendo agora, você pode ver a quantidade de jornalistas e TVs e isso gera atrativo para as marcas", analisou a jornalista francesa.

A julgar pelo primeiro dia, a Copa do Mundo da França já é definitivamente um marco.

 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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