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Futebol feminino é chato? O clássico Santos x Corinthians prova o contrário

Roberta Nina

16/05/2019 04h00

(Foto: Bruno Teixeira)

Quarta-feira, estádio do Pacaembu, três da tarde. O atual campeão paulista entrou em campo para receber o atual campeão brasileiro pela sexta rodada do Campeonato Paulista Feminino. De um lado o Santos e do outro o Corinthians. Um jogão pra ninguém botar defeito, afinal poucas pessoas assistiram a partida in loco que acabou em 3×2 para o Timão.

É de se lamentar muito que o confronto entre os melhores times do estado tenha acontecido em um horário tão ingrato. Pouquíssimas pessoas ocuparam as arquibancadas do Pacaembu para ver um primeiro tempo avassalador do Corinthians e o segundo tempo em que o Santos empatou o jogo logo nos primeiros minutos da segunda etapa, mas sofreu a virada quase no fim.

"Não deu pra respirar"

Foi assim que a narradora Elaine Trevisan definiu a partida. Ela estava em uma das cabines de transmissão do Pacaembu fazendo a narração do jogo para o Facebook da Federação Paulista de Futebol (FPF). No gramado, a sensação era a mesma e em um piscar de olhos, um lance de perigo era perdido.

O começo do jogo foi bem equilibrado. Emily Lima – treinadora das Sereias da Vila – pedia a todo instante para a equipe "subir" e pressionar a saída de bola do Corinthians. Quando o Santos começava a ir para cima, sofreu o gol do Corinthians marcado por Giovanna Crivelari aos cinco minutos de jogo, após belo lançamento de Gabi Zanotti. 

O primeiro tempo, aliás, foi todinho de Gabi Zanotti que reinava no meio-campo corinthiano. Distribuía as jogadas, acelerava o ataque e acalmava o jogo quando preciso. E o segundo gol saiu aos 32 minutos en uma roubada de bola de Giovanna que tocou para a Millene, servindo Adriana. Com ela, o Timão fez 2×0 e a camisa 16 marcou seu quinto gol assumindo a artilharia do campeonato. 

(Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/ Santos FC)

No segundo tempo a chuva também entrou em campo e, ainda assim, a bola não parou de balançar as redes. O Santos voltou botando pressão e se lançou ao ataque. Após duas tentativas – com Amanda Gutierrez e Paola Villamizar – Maria tirou o placar santista do zero após um chutaço de dentro da área, 2×1.

Três minutos depois, o empate veio com a venezuelana Paola Villamizar que, de fora da área, deu um toque por cima da goleira Lele para empatar a partida. Mesmo depois de tantas reviravoltas, nenhuma das equipes queria sair do Pacaembu sem a vitória. Isso ficou bem claro a todo instante. 

Comemoração de Villamizar após o empate (Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/ Santos FC)

Embalado pelos gols, o Santos ia pra cima, mas o Corinthians não se intimidava. Com chances criadas lá e cá, foi o oportunismo do Corinthians que levou a melhor. Após rápida cobrança de escanteio, Cacau tocou para Marcela que alçou a bola na área e lá estava ela, Gabi Nunes para cabecear para o gol. A camisa 9 do Corinthians marcou seu quarto gol na competição.

Um jogão!

"Muito feliz pelo clássico, um jogo muito bom, mas a gente mostrou que foi Corinthians, na raça. Muito feliz pelo gol e pela atuação das meninas até o fim, cada uma correu pelo time e estou feliz pela vitória", afirmou Gabi Nunes ao dibradoras.

Elenco corinthiano (Foto: dibradoras)

Cacau, que entrou no segundo tempo no lugar de Adriana, contou que o entrosamento da equipe foi fundamental para conquistar os três pontos. "Dois gols saíram assim, na rapidez e a gente se entendeu. Isso mostra também o entrosamento do grupo porque não é algo que a gente combina, acontece natural no jogo. Quando vi a Marcela se aproximando (do escanteio) e eu falei para ela: 'vai'. E foi muito rápido, a Nunes estava na área, esperta, onde faz a diferença e fez o gol", declarou.

Emily, treinadora do Santos, costuma sair rouca de tanto cobrar sua equipe em campo, mas para enfrentar o Corinthians nesse jogo, optou por jogar com o time reserva. "Sempre são muito bons os jogos contra o Corinthians  Por mais que a gente tenha feito uma opção de jogar com um time alternativo, com menos minutos jogados, elas mostraram que essa é a força do Santos, independente de quem está jogando. Conseguimos mostrar para nós mesmas que, se a gente quiser chegar, a gente chega. Saio muito satisfeita mesmo com a derrota pela força do grupo. Não deu resultado hoje, mas pode ser que dê resultado lá na frente", declarou ao blog.

Emily Lima e comissão técnica santista (Foto: dibradoras)

Para 2019, o foco do time da Vila Belmiro é a conquista do Brasileirão e Emily não esconde essa preferência. "Isso já está muito bem planejado com a nossa diretoria. Nosso objetivo é colocar o Santos novamente na Libertadores e para isso precisamos ser campeãs do Brasileiro e estar focadas", afirmou.

Para aqueles que perderam a chance de ver esse jogaço no Pacaembu, lamentamos muito. Para aqueles que insistem em afirmar que futebol feminino é chato e sem técnica, sentimos informar que estão perdendo tempo com jogos errados. Foi uma tarde de clássico com futebol em altíssimo nível.

Aos corinthianos que vivem reclamando dos jogos monótonos do time comandado por Fabio Carille, não percam a oportunidade de ver as mulheres do Timão em campo, jogando de maneira envolvente, com uma zaga sólida, um meio de campo muito criativo e uma linha de frente letal.

Próximos jogos 

As duas equipes voltam a campo pelo Campeonato Paulista no dia 26 de maio. O Santos enfrentará o Taubaté no Joaquinzão, às 15h e o Corinthians recebe a Portuguesa no Parque São Jorge, no mesmo horário.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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