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Globo aposta em tabela de Marta com Neymar em chamada para promover 2 Copas

Renata Mendonça

10/05/2019 19h46

Foto: Getty

A Rede Globo pela primeira vez irá transmitir uma Copa do Mundo de futebol feminino. Isso não tem um significado apenas pelo ineditismo, mas também porque neste ano, e ao mesmo tempo, vai acontecer a Copa América de futebol masculino. No Brasil. A maior emissora do país encara esse torneio entre os países sul-americanos quase que como uma nova oportunidade de viver uma Copa em casa. Mas desta vez com o desafio de dividir as atenções entre a competição da seleção masculina e a competição da seleção feminina.

E pode-se dizer que no primeiro teste desse desafio, a Globo passou com sobra. A chamada lançada nesta semana para divulgar as duas coberturas com o mesmo peso, com direito a narração de Galvão Bueno e tabelinha de Marta e Neymar em campo foi um golaço da emissora.

Para quem ainda não viu, o vídeo basicamente sobrepõe imagens de jogo da seleção feminina e da masculina para simular uma tabela entre jogadores e jogadoras. Ao fundo, a narração é do principal nome da casa – que, aliás narrará o primeiro jogo do Brasil no Mundial feminino em 9 de junho, contra a Jamaica.

"Alisson começa jogando pela lateral com Mônica, passou para Gabriel Jesus, viu a Formiga. Formiga toca para Fabinho do ooooutro lado do campo. De Fabinho para Thaisa, Marta encosta, recebe, viu o Neymar entrando pelo meio. Que passe de Neymar. Fabiana recebe, vai para o cruzamento, cruzou, Neymar de novo, matou na coxa, passou por um, olha o gol, olha o gol, GOOOOOL!"

Ao final, a chamada resume: "com as duas seleções em campo, nossa emoção é em dobro. Copa América e Copa do Mundo feminina da Fifa. Duas Copas, um só Brasil".

É claro que não é o ideal ter duas competições importantes como essas acontecendo ao mesmo tempo – com as finais marcadas para a mesma data, inclusive. É muito ruim ter que dividir essa atenção, quando se poderia ter o protagonismo único de cada uma das seleções, caso os dois torneios fossem realizados em períodos diferentes. Mas é importante também reforçar uma coisa: não existe uma competição entre a seleção feminina e a seleção masculina. Apesar de muitos quererem alimentar isso, as próprias jogadoras não vêem dessa forma. Você não precisa parar de torcer para o Brasil de Tite porque quer torcer para o Brasil de Marta. É um Brasil só, na verdade.

E dentro desse conceito, é muito bonito ver essa "parceria" – que não acontece, infelizmente, na prática dentro da CBF – materializada na TV. Seria lindo que a própria confederação produzisse vídeos com uma "tabelinha" de Neymar para Marta, uma rodinha de bobo daquelas tradicionais do aquecimento intercalando Cristiane, Firmino, Andressa Alves, Gabriel Jesus e companhia. Ver isso em campo, mesmo que produzido por uma edição de TV, mostra como deveríamos ver as duas coisas: com a mesma torcida, sem competição, sem comparação. Tudo isso, afinal, é o mesmo futebol – jogado por homens ou por mulheres.

 

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Até junho!!! 💚 Te espero!

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No ano passado, durante a Copa da Rússia, voltaram a surgir os comparativos da seleção feminina com a masculina. Uma exaltação de Marta para confrontá-la com Neymar, ou vice-versa. Chegaram até a confundir o hepta conquistado pelas mulheres, que foi na Copa América, com o hexa que os homens estavam buscando, que era na Copa do Mundo. Uns usavam isso para elevar a seleção feminina, e outros para diminui-la. E Cristiane, uma das maiores artilheiras da seleção brasileira (entre homens e mulheres), trouxe exatamente essa mensagem: "não estamos de lados opostos, estamos juntos".

"Acho que não é o momento para tais comparações, até porque não queremos apenas sermos lembradas em situações nas quais o masculino esteja disputando competição. Gostaria que postagens como essas sejam lembradas em ano de Copa do Mundo feminina e muitas outras competições que disputamos, como foi a Copa América desse ano e pouco foi falado. Falo isso porque todas as vezes que o masculino disputou uma competição, sempre foi colocado um comparativo nosso com o deles. Não estamos em lados opostos, somos do mesmo país. estamos juntos levando o nome de uma nação mundo afora. (…) Nossa Copa do Mundo e Jogos Olímpicos são tão importantes e difíceis quanto a dos homens, pois enfrentamos as melhores seleções do mundo. Então, por favor, não nos diminuam. Vamos torcer muito para que nossa seleção traga o hexa e deixem os torcedores felizes e, no ano seguinte, aí sim, divulguem e acompanhem a modalidade", escreveu a atacante em seu instagram.

Foto: Reprodução

Há uma segunda chamada que começou a ser veiculada na Globo nesta semana unindo os principais narradores da casa juntamente com vozes femininas que estarão envolvidas na cobertura da Copa. Com o mesmo conceito, Luis Roberto, Cléber Machado, Ana Thais Matos e Carol Barcellos anunciam a chegada das duas Copas na TV.

"Duas Copas, duas seleções, um só país. Torça por elas, que vão enfrentar o mundo. Torça por eles, que vão encarar os melhores da América. Grite por um homem. Ou por uma mulher. Vista Neymar e Marta. Em junho Copa América, a dos meninos. E Copa do Mundo feminina, a das mulheres".

O espírito precisa ser esse. Ganharemos todos se trocarmos a competição pela união de torcidas por elas e por eles.

(E lembrando sempre que, quem não gosta de futebol feminino, não é obrigado a assisti-lo. O mesmo vale para os que não gostam do futebol masculino. Você é sempre livre para mudar de canal).

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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