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Reservas usam sacos plásticos como proteção em banco de SPFC x Palmeiras

Roberta Nina

09/04/2019 18h45

O banco de reservas do clube visitante sem estrutura no estádio de Guarulhos (Foto: Divulgação)O futebol feminino tem se desenvolvido muito nos últimos anos, mas ainda sofre com alguns problemas básicos até mesmo envolvendo os melhores clubes e campeonatos do país. Falta de estrutura, de condições de trabalho, de registro em carteira, jogos acontecendo em péssimos horários e uma mudança constante dos locais de jogo são alguns dos obstáculos para a modalidade.

É, infelizmente, até comum ver acontecer coisas como: falta de ambulância ou de policiamento em jogos, ausência de vestiário adequado para as mulheres, desmaios acontecendo numa partida às três da tarde por causa de calor excessivo em jogos do feminino ao redor do Brasil. Algumas vezes essas situações ganham os holofotes da mídia, mas na maioria elas passam batido.

Em 2015, jogadoras do Nacional se trocaram em tendas improvisadas para o jogo contra o América no Independência (Foto: Ana Paula Coelho, jogadora do Nacional)

No último domingo, chamou a atenção um problema estrutural do Estádio Municipal Antônio Soares de Oliveira, em Guarulhos, onde Palmeiras e São Paulo disputavam a 2ª rodada do Campeonato Paulista Feminino. Rivais há muito tempo no futebol masculino, o jogo marcava o encontro de duas grandes equipes que passaram anos sem investir no futebol feminino. 

A equipe mandante era o Palmeiras e o jogo precisou acontecer em Guarulhos (e não em Vinhedo onde o clube se baseou para a temporada) por falta de um atestado de engenharia, segundo apurou a reportagem com a Federação Paulista de Futebol. Sem esse documento, o jogo precisou mudar de local e o Palmeiras acabou escolhendo o estádio de Guarulhos.

O clube alviverde, porém, informou que o laudo necessário já havia sido providenciado, mas que a FPF não realizou a nova vistoria a tempo de validar novamente o Estádio de Vinhedo para o jogo contra o São Paulo. 

Assim sendo, a partida aconteceu em Guarulhos às 15h de domingo, uma hora antes do time masculino do Palmeiras entrar em campo também contra o São Paulo pela semifinal do Paulista. Segundo mostram as imagens, o banco de reservas onde a equipe visitante estava acomodada estava totalmente sem estrutura. As jogadoras precisaram improvisar uma "cobertura" com sacos plásticos e até mesmo com um guarda-chuva para evitar que se molhassem (o tempo estava chuvoso) e para garantirem o mínimo de segurança ali.

clube visitante sem estrutura no estádio de Guarulhos (Foto: Divulgação)

Além da falta de estrutura no banco de reservas do time visitante, apuramos que houve problemas também no vestiário, que segundo relatos, estava em condições precárias. O blog recebeu as imagens no mesmo dia do jogo e foi apurar com os envolvidos o que, de fato, tinha acontecido

O que diz a Federação

A FPF nos informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o Estádio Municipal Antônio Soares de Oliveira tem os laudos necessários para a realização de jogos, ou seja, ele está apto para receber todo o staff que envolve uma partida de futebol. A entidade explicou que realiza vistorias periódicas nos estádios para validar as condições dos locais e este estádio, em específico, cumpria as exigências técnicas necessárias.

Segundo a federação, após a vistoria, às vezes alguns reparos precisam ser feitos e que isso é de responsabilidade do próprio estádio. Diante da divulgação do ocorrido, a entidade diz que irá vistoriar novamente o local para que o problema seja solucionado. Caso seja identificado alguma anormalidade, é possível que o estádio seja interditado em jogos futuros.

(Foto: Divulgação)

O que diz o Palmeiras

O Palmeiras nos informou que a escolha do estádio foi feita baseada nos laudos de validação da FPF e também por uma questão logística envolvendo a equipe feminina. Segundo o clube, as jogadoras estiveram na Academia de Futebol pela manhã, tiveram contato com os atletas da equipe masculina, almoçaram por lá e seguiram para o jogo em Guarulhos. 

Para o Palmeiras, "a partir do momento que a FPF autoriza a realização do jogo no local, ela identifica que o estádio tem condições de receber as partidas". O clube reforçou ainda que os mandantes, de uma forma geral, não fazem vistorias nos outros estádios quando vão jogar fora de casa, eles apenas escolhem o local onde vão mandar suas partidas de acordo com a validação da Federação Paulista de Futebol.

Questionamos novamente a diretoria alviverde sobre o motivo de não ter realizado uma preliminar do jogo feminino antes da semifinal no último domingo (07/04) e sobre ter colocado o jogo delas no mesmo horário do masculino. A explicação foi que "seria muito complexo realizar os dois jogos de uma vez por questão de estrutura".

Elenco feminino do Palmeiras (Fabio Menotti / Agência Palmeiras)

Segundo o Palmeiras, o Allianz Parque dispõe apenas de dois vestiários e seria muito difícil organizar as quatro equipes (duas femininas e duas masculinas) no mesmo espaço e quase que ao mesmo tempo. A logística para realização do doping após as partidas também seria comprometida e, por conta dessas questões de espaço físico, não houve a possibilidade. O Palmeiras ainda afirmou que faz parte dos planos do clube realizar algumas partidas femininas dentro do Allianz Parque, mas ainda sem previsão de quando isso pode acontecer de fato. 

O estádio

O Estádio Municipal Antônio Soares de Oliveira, também conhecido por "Flamenguinho", em Guarulhos, é permissionado, ou seja, o imóvel é da Prefeitura de Guarulhos, mas o local é administrado por um gestor chamado Edson Alves Davi Filho, presidente do clube. Segundo ele, os problemas aconteceram por conta da chuva torrencial que caiu na cidade na noite anterior ao jogo. O Flamengo ainda alega que o Palmeiras não tinha sede para jogo a 10 minutos do prazo final da definição do local da partida e foi procurado pela FPF para ceder seu estádio para sediar o clássico. 

Vale ressaltar que os responsáveis por garantir a segurança da partida do Paulista feminino são a federação que organiza o torneio e o clube mandante da partida (que, nesse caso, não era o dono do estádio).

Em buscas pela internet, encontramos um Laudo Técnico de Segurança emitido pela Polícia Militar do Estado de São Paulo ao A.A Flamengo em dezembro 2017, onde as autoridades apontaram diversas irregularidades e condições precários nos quesitos de infraestrutura, monitoramento, controle de acesso de pessoas e objetos, planejamento de segurança do torcedor. Ainda assim, o parecer final do laudo aprovou o uso do estádio com restrições.

Flamengo de Guarulhos disputa o Campeonato Paulista da Segunda Divisão de 2019 e realizou seu primeiro jogo horas antes da partida feminina, no último domingo, contra o Mauá FC, também nessas condições por conta dos problemas causados pela chuva. 

Quem é culpado?

Acreditamos que, em situações assim, todas as partes envolvidas têm sua parcela de culpa. Neste caso, as atletas foram vítimas nessa situação e, de acordo com as informações que constam nesse laudo de 2017, até mesmo o acesso de torcedores no local pode ser inadequado.

O futebol feminino vive esses tipos de mazelas há muitos anos e todo esse amadorismo de clubes e federações depõem – e muito – contra o avanço da modalidade. Com situações como essa, fica difícil apresentar o futebol feminino como um produto rentável ou uma oportunidade interessante de negócio. O primeiro passo pra evoluir é assumir os erros e corrigi-los, em vez de ficar jogando a responsabilidade de um lado pro outro

(Foto: Igor Amorim/saopaulofc.net)

Dentro de campo, o Choque-Rei acabou empatado em 2×2, com gols marcados por Bianca e Carla pelo Palmeiras e por Jaqueline e Larissa pelo São Paulo. Pelo Paulista, a equipe alviverde enfrenta o Internacional de Franca fora de casa, no próximo sábado (13), às 15h. Já o tricolor, recebe a Ferroviária no domingo (14), às 15h em Cotia.

Fora de campo, seguimos torcendo e cobrando o devido respeito e condições dignas de trabalho às atletas e comissões técnicas e a estrutura necessária que o torcedor também merece.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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