Morre com Laís Elena uma parte fundamental da história do basquete feminino
Nesta terça-feira (12), a ex-jogadora e treinadora de basquete, Laís Elena, faleceu em São Paulo, vítima de um câncer de mama. É impossível não associar a história de Laís Elena com o basquete brasileiro, especialmente com a modalidade feminina.
Ela foi atleta e como armadora, fez história nos clubes por onde passou – como no Corinthians e no Santo André, onde jogou por mais de uma década – além de cravar seu nome na história da seleção brasileira.
Entre as décadas de 60 e 70, levou o nome do Brasil ao topo vencendo cinco vezes o Campeonato Sul-americano de basquete e conquistando duas medalhas de ouro nos Jogos Pan-americanos de 1967 (antes mesmo dos homens) e em 1971. Em Mundiais, fez parte do time que ganhou o bronze, também em 1971. Essa foi a primeira medalha conquistada pelas mulheres na história dessa competição
Para Katia Rubio, professora da USP, jornalista, psicóloga e autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros", a morte de Laís Helena deixa um vácuo na história do basquete brasileiro. "Sempre que morre uma pessoa de uma geração que viveu o enfrentamento do início de uma campanha, como foi o caso de Laís com o basquete feminino na década de 70, é um pouco da história da modalidade que morre em função do pouco caso que os mandatários do esporte tem pela memória do esporte pelo país. Morre com a Laís uma parte fundamental da história do basquete feminino", declarou.
Laís Elena fez história dentro das quadras jogando por 11 anos no Santo André e depois passou a treinar as equipes de base do clube em 1975. Oito anos mais tarde, chegou ao comando do time principal onde venceu o Brasileiro de 1999 e a primeira edição da Liga de Basquete Feminino (LBF), em 2011. Laís estava atuando como secretária adjunta de Esporte e Prática Esportiva desde o início da atual gestão, em janeiro de 2017.
Adriana Santos, ex-jogadora da seleção brasileira e que participou das principais conquistas da equipe (Pan-Americano de 1991 em Cuba, o Mundial de 1994 na Austrália e as duas medalhas olímpicas em Atlanta e em Sidney), lamentou o falecimento de Laís e classificou sua ex-treinadora como um ícone.
"É uma perda muito grande. Ela era uma pessoa com o coração enorme. Hoje é um dia muito triste, digo isso com o coração muito apertado. Ela nos deixou um grande trabalho que foi feito em Santo André na seleção, como atleta. Foi uma grande guerreira e lutou contra a doença. Estive com ela dias atrás no lançamento da Liga e estava ótima, pegou o microfone, falou para todos. Um grande exemplo"
Adriana também fez questão de relembrar como Laís era uma pessoa doce e muito companheira de suas atletas. "Tive a oportunidade de trabalhar com ela, foi minha técnica e fomos campeãs sul-americanas pelo clube. E além de excelente técnica, era uma pessoa que ajudava o próximo, era engraçada, uma pessoa que te dava prazer de estar ao lado e que sempre te colocava pra cima. Já vi ela fazer tantas coisas assim, como quando eu estava triste e ela me dizia: 'Magrelinha, tá cansada? Vamos dar uma maneirada'. Ela era essa pessoa que te colocava pra cima, te levava pra comer uma pizza, já fui com ela jogar bingo, ela era uma mãezona", declarou às dibradoras.
Outra lenda do basquete feminino, Magic Paula também declarou à reportagem seu carinho pela treinadora. "Jamais tive a oportunidade de ser dirigida pela Laís, mas pela declaração das jogadoras que passaram pelas mão dela, além de técnica era mãezona e formou muita gente boa na quadra e fora dela. Se eu não me engano o time de Santo André jamais ficou de fora das competições do basquete feminino desde que Laís comanda a equipe. Os altos e baixos eram muitos. Acaba equipe, começava outra e ela sempre conseguia se manter nas competições, mas sabemos o sacrifício que era. Laís era de fala franca, não levava desaforo para casa, falava a verdade e sempre para o bem do basquete que tanto amava", afirmou.
A partida de Laís é, sem dúvida, uma perda enorme para o esporte, mas seu legado e exemplo são ainda muito maiores.
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