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Primeira mulher a se ‘formar’ treinadora pela CBF vive estreia na Copa

Roberta Nina

15/11/2018 23h37

Luizão e Débora: treinador e auxiliar da seleção feminina sub-17 (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)

A seleção sub-17 do Brasil entra em campo nesta sexta-feira para enfrentar o México às 18h (horário de Brasília) em Maldonado, no Uruguai. A equipe comandada pelo técnico Luizão Ribeiro empatou com o Japão em 0x0 na primeira partida do Mundial da categoria.

Assim como na sub-20, o time brasileiro conta com o auxílio de uma mulher na comissão técnica para treinar e preparar as jovens promessas do nosso futebol. É Débora Ferreira, que ocupa o cargo desde março de 2017 e é a primeira mulher a concluir o Curso de Licença Pro ministrado pela CBF – com duração de dois anos e o único que capacita completamente quem deseja comandar equipes profissionais do país.

Para chegar neste nível, a treinadora concluiu os cursos de Licença C, B e A. Também é é habilitada pela Federação Holandesa e pelo Curso de Gestão da FIFA. "Eu sempre era a única mulher nos cursos que fiz para técnicos de futebol. Hoje, nas licenças da CBF, já tem mais de 10 mulheres. Está crescendo".

De acordo com o novo regulamento estabelecido pela CBF, a partir de 2019, aqueles que quiserem trabalhar como treinadores (as) deverão obter licenças de especialização na área. A CBF oferece os quatro cursos desde 2015 (licença C, B, A e Pro).

Débora, a única mulher a concluir a Licença Pró da CBF (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Segundo levantamento feito pela Folha de S.Paulo em 2017 (confira aqui), apenas nove treinadores que passaram por times da Série A do Brasileiro no ano passado estariam aptos para cumprir a nova exigência: Marcelo Cabo, Roger Machado, Eduardo Baptista, Claudinei Oliveira, Jair Ventura, Vagner Mancini, Fábio Carille (o único com Licença Pro), Zé Ricardo e Milton Mendes. Alguns deles já concluíram ou estão próximos de finalizar cursos de nível suficiente para comandar equipes profissionais.

História 

Antes de ocupar esse posto, Débora começou sua relação com o futebol jogando pelada nas ruas da Zona Leste de São Paulo com os meninos. "Eu era muito ruim, sempre era a última a ser escolhida para compor os times e falei pro meu pai que queria aprender a jogar futebol porque odiava ser excluída. Aí meu pai disse pra eu brincar na rua e aprender com meus amigos e assim tudo começou", revelou Débora às dibradoras durante o podcast gravado na Central3, em junho de 2017 (você pode ouvir aqui)

A carreira profissional de Débora foi muito curta. Durante a adolescência, ela jogava durante as férias e recebia somente quando disputava campeonatos. "Com 17 anos eu joguei o Paulistana e só recebia uma ajuda de custo, cerca de R$ 200. Falei pro meu pai que não queria mais seguir nessa vida, mas o futebol voltou e eu não fugi", contou.

Débora cursou Educação Física com o intuito de ensinar a prática. A primeira oportunidade surgiu logo no início do curso, quando ela coordenou uma equipe de futebol masculino em um projeto social da Universidade. Depois de formada, passou em três concursos públicos para trabalhar como professora.

(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Foi trabalhando na Secretaria de Esportes e Lazer da Prefeitura de São Paulo que o futebol retornou para sua vida. "Meu diretor disse na época que eu deveria treinar uma turma de basquete e escolher uma outra modalidade. E assim escolhi o futebol", recordou.

Desde 2013, Débora cursou as licenças necessárias na CBF e aproveitou o momento para fazer networking, conhecer pessoas e buscar oportunidades na área técnica. Além dos cursos, Débora fez alguns estágios e, um deles, foi com a treinadora Emily Lima, em 2015, quando ela comandava o São José.

Débora no Curso de Licença C da CBF (Foto: Facebook)

"A chance (para trabalhar com a sub-17) surgiu por conta de um conjunto de fatores, acredito. Um pouco do contato com as pessoas do curso, depois no estágio com a Emily e aí na hora que viram meu currículo, acredito que acabaram me dando uma oportunidade por tudo isso", afirmou.

Mundial no Uruguai

Com a conquista do Sul-Americano da categoria, em março, o Brasil se classificou para a Copa do Mundo Sub-17 que está acontecendo no Uruguai. A preparação do time durou mais de sete meses e, ao longo deste ano, oito convocações foram feitas, segundo informações da CBF.

Brasil campeão do Sul-Americano Sub-17 (Foto: Fernanda Coimbra/CBF)

Nesses meses, a Sub-17 participou do Torneio BRICS, enfrentando a Rússia, Índia, China e África do Sul em partidas amistosas. Foi campeã com três vitórias e um empate. Na reta final dos treinamentos, enfrentou a seleção de Camarões e venceu a partida por 6×0.

"Nossa preparação para o Mundial foi consistente e baseada em cima do que planejamos para a preparação do Sul-Americano. E parte daquilo que conseguimos alcançar no Sul-Americano, ajustamos o que era necessário e potencializamos a preparação. Fizemos um treinamento em Águas de Lindóia com todas as jogadoras que foram campeãs, avaliamos as melhores preparadas e definimos o grupo para o Mundial", afirmou Débora às dibradoras.

Entre as 21 jogadoras que foram convocadas para o Mundial, apenas quatro não disputaram o Campeonato Sul-Americano. Algumas delas foram descobertas por meio de projetos sociais realizados em diversas partes do Brasil com apoio das Prefeituras locais, como acontece com as equipes da Chapecoense e do São José, por exemplo.

"Outra maneira fundamental que nos ajudou bastante a descobrir meninas de outros estados foi a parceria com o CBF Social. Eles realizavam jogos em diversas regiões do país e levavam as comissões da Sub-20 e Sub-17 feminina para realizar seletivas. Dali surgiram muitas meninas, não só diretamente para a nossa seleção, mas também para outras convocações de seletiva, como aconteceu em junho. De lá, a gente conseguiu encontrar meninas que hoje fazem parte da seleção que está disputando o Mundial", contou.

O CBF Social foi criado em junho de 2015 para fomentar ações de responsabilidade social por meio do esporte. Emily (atacante da Chapecoense), Isabela (zagueira da Chapecoense), Yasmin (zagueira da Chapecoense) e a goleira titular Mayara (do Imperial) são as jogadoras que foram descobertas por meio da iniciativa.

(Foto: Divulgação FIFA-Getty Images)

Para Débora, o maior desafio do time nessa competição era o jogo de estreia contra o Japão. "Na nossa visão, era o jogo mais difícil, por ser o primeiro jogo, por ser um time da nossa chave e por ser o Japão, uma equipe de grande tradição no futebol feminino. Daqui pra frente, os outros desafios serão as formas diversas de estruturas táticas e estratégias de outros países que não estamos acostumados a jogar."

Independente do título, as jogadoras contam com oportunidade incrível de disputar uma Copa do Mundo com todo apoio e estrutura necessários para entrarem em campo. E claro, nessas horas, o apoio da família também é importante. Alguns parentes das jogadoras viajaram para Montevidéu para acompanhar a competição e torcer por elas.

Famílias acompanhando a seleção sub-17 no Uruguai (Foto: CBF)

"Pra todas elas, (estar no Mundial) é uma conquista. No Sul-Americano, três famílias acompanharam as jogadoras e agora temos, mais ou menos, 10 pais e alguns outros ainda estão pra chegar", contou Débora.

Julia, meio-campista da seleção, em entrevista à CBFTV, ressaltou a importância de jogar a Copa do Mundo e contar com o apoio da família. "É uma sensação incrível representar uma nação inteira em um Mundial muito difícil, com meus pais assistindo e o Brasil inteiro torcendo. É uma motivação a mais saber que os pais estão apoiando. Por onde a gente vai, eles estão apoiando, seja longe ou perto, eles estão do nosso lado. É uma sensação indescritível", disse a meio-campista.

Para Débora, a oportunidade de fazer parte da comissão técnica em um Mundial Sub-17 é importante para "fazer a diferença". "De alguma forma, é uma chance de mostrar a capacidade que uma mulher tem de ajudar e desenvolver o futebol no nosso país e também poder ajudar a equipe e o futebol feminino a alcançar valores, dentro e fora de campo", afirmou.

(Foto: CBF)

Preparada e qualificada, Débora tem o sonho de atuar como treinadora e, de fato, está cada vez mais se aperfeiçoando em busca de seu maior objetivo. Em entrevista ao nosso podcast, a treinadora falou sobre esse desejo: "Para mim, as coisas funcionam passo a passo. Primeiro, eu queria uma oportunidade e ela apareceu. Estou fazendo meu melhor para atingir a expectativa daqueles que me deram a oportunidade. E depois, penso se vou treinar uma equipe, ou se vou ser auxiliar em uma nova categoria. Não almejo o lugar de ninguém, mas penso em futuramente ser treinadora de uma equipe profissional, seja masculina ou feminina", revelou.

O sonho de Débora é um pouquinho nosso também, ainda mais quando ela se refere em querer atuar no futebol feminino com toda a estrutura que ele merece. "Meu sonho mesmo é atuar num time profissional mesmo. Sei que as parcerias existem e farão parte da minha empreitada, mas o que eu desejo mesmo é um dia chegar num clube grande e me dizerem: esse é o departamento de futebol feminino, esse é seu material, essa é sua equipe técnica, vamos pro jogo, tem 10 mil pessoas na arquibancada para assistir ao jogo e te cobrar."

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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