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Quem é a 1ª mulher a presidir um clube da elite do futebol na Argentina

Roberta Nina

17/09/2018 11h34

(Foto: Germán García Adrast)

Pela primeira vez na história do futebol de elite argentino, uma mulher será eleita como presidente de um clube de primeira divisão. O nome dela é Lucía Barbuto e, aos 33 anos, assumirá o comando do Banfield a partir de outubro.

A eleição para a escolha do novo presidente acontecerá no dia 06 de outubro. Sem oposição para enfrentar no próximo pleito, Lucía se apresenta como candidata única e assumirá a presidência da equipe que ocupa a 9ª posição do Campeonato Argentino, em campanha com duas vitória, um empate e uma derrota em quatro jogos. "Tenho a responsabilidade de potencializar os acertos no futuro. Nosso objetivo é que o Banfield seja o melhor clube do país", afirmou em entrevista.

O Banfield é um clube de muita tradição no futebol argentino e um dos mais antigos do país. Foi fundado em 1896 e tem feito campanhas razoáveis nos últimos anos.

Em entrevista ao jornal argentino Clarín, Lucía declarou que a paixão pelo time veio de família e que cresceu acompanhando o time do coração. "Não existe um Barbuto que não seja fã do Banfield e é assim que vai ser geração após geração. E acho que nasci no campo. Vinha com meu pai desde que era uma garotinha, depois comecei a trazer minha irmã", revelou.

(Foto: Clarín)

Além de torcer, sentiu a necessidade de participar ativamente do clube e foi assim que começou a fazer parte de um grupo de dirigentes comandado por Eduardo Spinosa – atual presidente – há mais de 10 anos.

Na gestão presidencial de Spinosa – que durou seis anos – Lucía atuou como contadora. Além da formação em contabilidade, irá se graduar em obstetrícia em poucos meses. "O Banfield será meu bebê", contou ao Clarín.

Com o anúncio feito, grandes nomes ligados ao futebol parabenizaram Lucía pela conquista. Julio Falcioni (treinador do Banfield), Darío Cvitanich (jogador do Banfield), Juan Pablo Sorín (ex-jogador que defendeu Argentino Juniors, River Plate e o Cruzeiro aqui no Brasil), Christian Gribaudo (dirigente do Boca Juniors) e Chiqui Tapia (presidente da Associação de Futebol Argentino) são alguns que se manifestaram em suas redes sociais.

Os clubes também se apoiaram a nova presidente: Belgrano, Club Atlético Unión, Rosário Central e o Newell's Old Boys são alguns deles.

Assim como todas as mulheres torcedoras, Lucía também passou por diversas situações onde precisou "provar" que gostava e entendia de futebol tanto quanto os homens. "No bairro ou com os amigos, ainda é evidente que a nossa opinião não parece ser a mesma que a dos homens. Durante anos, quando falava que torcia para o Banfield e gostava de futebol, me perguntavam coisas como 'quem é o camisa nove de tal equipe', me faziam um teste. Para nenhum homem fazem isso", declarou ao caderno de esportes do portal Todo Notícias. 

(Foto: Reprodução/Todo Notícias)

Dentro do clube, Lucía declarou não sofrer nenhum tipo de discriminação, mas sabe que na nova posição, poderá enfrentar resistência. "No Banfield, particularmente, não me senti discriminada. Quase todos os nossos funcionários são mulheres e, se você for ao estádio, perceberá que somos mais e mais. Existem muitos fãs e parceiros que colaboram. Eu entendo perfeitamente que esse ambiente é liderado por homens, mas aqui não aconteceu comigo e é por isso que posso estar à frente desse time de homens que sejam meus pares. Eu me sinto respeitada e não recebemos uma queixa de nenhuma das meninas que trabalham conosco", afirmou ao Clarín.

Além de Lucía

Há registros de outras mulheres que comandaram times de futebol na Argentina. A única mulher que presidiu um clube da primeira divisão foi Natividad Gallego de Marcovecchio. Sem eleição, em maio de 1971, ela assumiu o Club Atlético Platense após renúncias do presidente e do vice-presidente.

(Foto: Reprodução/Magicas Ruinas)

Além de Natividad, Edith Pecorelli foi eleita e presidiu o Temperley em 1995, Gladys Ruifernández comandou o San Martin de Burzaco entre os anos de 2003 e 2008, e Valeria Cisneros se tornou presidente da Central Ballester em 2011, aos 34 anos. Estes clubes faziam parte da segunda divisão do campeonato argentino.

Com a aprovação do atual presidente e de todos que fazem parte do clube, Lucía assumirá o posto no dia 06 de outubro e sabe que servirá de exemplo para tantas mulheres ao redor do mundo. "Não posso negar que não tenha machismo. Digamos que o ambiente seja 'um pouco' machista, para ser boazinha. Mas o Banfield entendeu que estamos enfrentando uma mudança de era, que a sociedade está se movendo nessa direção e, neste clube, somos pioneiros em dar um passo adiante. E se tudo for desenvolvido pelas formas normais no Conselho Eleitoral e eu me tornar presidente, isso significará uma mudança importante. E tenho esperanças de que será uma fonte de inspiração para muitas outras mulheres dirigirem seus clubes", afirmou ao Clarín.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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