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Sem surpresas, Taubaté chega à semifinal inédita do Paulista Feminino

Roberta Nina

15/09/2018 04h00

(Foto: Rafael Citro/SEEL/AD/ECTaubaté)

Olha lá, o Taubaté é semifinalista do Campeonato Paulista de Futebol Feminino, mas que surpresa, não? Surpresa nenhuma. O feito de chegar tão longe é inédito, mas a modalidade feminina existe no clube há mais de 20 anos.

"Isso começou com meu pai, em 1997, jogando os campeonatos regionais. Meu pai era funcionário da Prefeitura e com o apoio deles, nosso projeto foi ganhando corpo e em 2010 começamos a jogar outros campeonatos, como o Paulista, por exemplo", afirmou Arismar Júnior, treinador do time semifinalista do Paulistão, às dibradoras.

Arismar tem 34 anos, é formado e pós-graduado em Educação Física e treina a equipe feminina do Taubaté desde 2010. De forma modesta, com pouco investimento financeiro, o Taubaté enfrenta agora, dentro de campo, o maior de seus desafios: a semifinal contra o Corinthians, neste final de semana, no Joaquinzão, estádio do time do interior de São Paulo.

Arismar treina a equipe feminina do Taubaté desde 2010 (Foto: Rafael Citro/SEEL/AD/ECTaubaté)

O trabalho do Taubaté tem crescido bastante. Segundo Arismar, nos últimos cinco anos disputando o campeonato Paulista, o "Burro" – como é conhecida a equipe – se classificou três vezes para as outras fases do campeonato.

E muito dessa evolução acontece graças ao apoio da Prefeitura de Taubaté que, em parceira com o clube, proporciona às jogadoras bolsa-auxílio, bolsa-estudo e alojamento. "A grande maioria dos clubes do interior contam com esse apoio de suas prefeituras. Se não fossem elas, não teríamos futebol feminino", afirma Arismar.

O Taubaté tem seu estádio próprio e com o crescimento do futebol feminino já começaram as reformas de um campo já existente e que será dedicado apenas para os treinamento e jogos do futebol feminino – como se fosse um CT. "Tudo isso é mérito. Esse novo espaço vai ter escolinha e já contamos com academia, médicos. O novo espaço para o futebol feminino treinar será proporcionado pela Secretaria de Esportes em parceria com a gente."

(Foto: Rafael Citro/SEEL/AD/ECTaubaté)

Ao contrário da maioria dos clubes, o futebol feminino no Taubaté é muito bem estruturado e as categorias de base são responsáveis por abastecer o elenco principal. "Nós temos sub-15 e sub-19 no clube, uma parte do meu elenco é formado todos os anos aqui. Tenho atleta de 19 anos que já foi campeã por três vezes dos Jogos Abertos da Juventude – como se fosse um campeonato estadual da categoria", conta o treinador.

Arismar relembra que em 2015 o time se classificou no Paulista com uma equipe relativamente forte, mas em 2016 o elenco foi desfeito. Clubes como Corinthians, Sport Recife e Cresspom de Brasília levaram atletas do Taubaté para seus times. Com isso, o time interiorano precisou começar um novo trabalho em 2017.

Camila Ambrósio (Audax), Rebeca Adina (Sport), Giovanna Campiolo (Corinthians) são alguns exemplos de atletas que estavam no Taubaté e hoje defendem outros clubes.

As atletas que conseguiram o feito inédito de disputar uma semifinal neste ano são remanescentes do trabalho anterior. "Ano passado, a minha atual goleira tinha 19 anos, as duas zagueiras e laterais tinham 18 e permaneceram aqui. Trouxemos apenas quatro atletas pra compor o elenco. É uma equipe muito jovem que veio por meio de seletivas. A gente apostou nelas e fizemos o trabalho crescer. O que está acontecendo hoje é fruto do trabalho que idealizamos pensando em médio a longo prazo", revelou Arismar.

(Foto: Rafael Citro/SEEL/AD/ECTaubaté)

O treinador reconhece o trabalho da Federação Paulista de Futebol e classifica a gestão como pioneira. "A FPF faz um trabalho de vanguarda, ela está na frente dos outros. Ela é muito organizada, investe nas categorias de base e no profissional. Então, muito do que está acontecendo com o futebol feminino de Taubaté é resultado do trabalho contínuo que a Federação Paulista faz", argumenta Arismar que também valoriza o empenho da diretora de futebol feminino, Aline Pellegrino. "É uma atleta que saiu do campo e virou uma gestora muito séria e comprometida".

Aline-Pellegrino (Foto: FPF)

Com o apoio da Federação, Arismar também pode estudar e concluir o curso de Licença B de Treinador na CBF. "A Federação subsidiou 50% do curso pra mim. Tive esse suporte deles e o curso agregou muito para a minha profissão", contou.

PRÓXIMO ADVERSÁRIO: CORINTHIANS

Para superar o Corinthians na semifinal de ida e volta, o time taubateense tem estudado muito o adversário, mas Arismar afirma que sua equipe não joga somente de maneira defensiva e apostando em apenas uma bola. "Como eu tenho um elenco muito jovem, eu não posso tentar jogar igual para igual com as outras equipes. Tenho que tentar vencer de outras formas. Hoje, eu priorizo a marcação por zona do que a individual e tento ganhar um combate com o apoio de duas ou três atletas", contou o técnico.

"O Taubaté não joga por uma bola, ele joga sem a bola nos pés. Acredito que não preciso ter a bola nos pés pra jogar, e as atletas entendem isso. Não importa se o adversário tem 60 ou 70% de posse de bola, desde que ele não crie oportunidades de gols. E quando a bola está nos nossos pés, sempre busco criar chances ofensivas. E aí eu busco usar o que minhas atletas tem de melhor em campo. Acho que tá aí o resultado, né?", argumenta o técnico.

O gol de Mylena Carioca (ao centro) contra a Ferroviária: o mais importante da história do clube (Foto: Rafael Citro/SEEL/AD/ECTaubaté)

Arismar também elogia a aplicação tática das jogadoras que confiam muito na proposta de trabalho. "Acho que, em campo, as mulheres são mais guerreiras do que os homens. São mais aguerridas, elas conseguem passar por barreiras com mais facilidade do que os homens."

A vitória contra a Ferroviária que garantiu a classificação ao Burro para as semifinais no início de setembro marcou muito o treinador. "Essa vitória em casa, por 1×0, com gol aos 42 minutos do segundo tempo foi, sem dúvida a mais importante do Taubaté em 21 anos".

E para coroar a ótima fase, a torcida também tem abraçado o time e o apoio é constante, dentro e fora de campo. "A nossa cidade tem 200 mil habitantes, não é tão pequena, mas é bem estruturada. Por onde passamos, as atletas estão vivendo um momento de status que nem imaginavam que iriam ter. São reconhecidas, as pessoas pedem pra tirar foto."

(Foto: Rafael Citro/SEEL/AD/ECTaubaté)

Sem nenhuma surpresa, portanto, o Taubaté enfrenta o time do Corinthians neste domingo, às 10h, no Joaquinzão. "Não foi nenhuma surpresa. Se em 2016/2017 não tivessem levado todas as minhas atletas, eu teria feito, talvez, o mesmo feito de agora. Nada aconteceu por sorte, é um momento que construímos. Vamos continuar confiando no nosso trabalho. Estamos prontos pra ter um ótimo jogo contra eles", finaliza o treinador que tem como plano de carreira continuar trabalhando com o futebol feminino.

Na outra semifinal, o Rio Preto recebe o Santos neste sábado (15/9), às 15h. Os jogos de volta acontecem na próxima semana (dias 22 e 23/9).

Acompanhe as semifinais do Campeonato Paulista de Futebol Feminino pelo Facebook e Youtube da FPF com narração, comentários e reportagens feitos por MULHERES!

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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