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Últimas rodadas do Campeonato Paulista tem transmissão online 100% feminina

Roberta Nina

01/09/2018 04h30

(Foto: Rafael Citro/EC Taubaté)

O Campeonato Paulista de Futebol Feminino começou em março deste ano e já se encaminha para as fases de mata-mata. Com 13 equipes na disputa, divididos em dois grupos, apenas oito clubes (os quatro melhores de cada grupo) se classificaram para a segunda fase. São eles: Santos, São José, Rio Preto, Audax, Corinthians, Taubaté, Ferroviária e Ponte Preta.

Pensando em dar mais visibilidade ao campeonato que reúne as melhores esquipes femininas do estado, a Federação Paulista de Futebol abriu ainda mais espaço para as mulheres e desde o último final de semana (18ª rodada) passou a transmitir os jogos do Paulistão em sua página do Facebook e Youtube com narração, comentários e reportagens feitos por MULHERES!

(Foto: Reprodução/Twitter FPF)

No ano passado, a FPF já havia transmitido os jogos em parcerias com os clubes e com o intuito de seguir com a iniciativa, a Federação propôs melhorias e incluiu o projeto das transmissões na Lei Paulista de Incentivo ao Esporte para 2018.

"No ano passado, a Federação já havia transmitido alguns jogos em parceria com os clubes em uma plataforma digital. Porém, cada transmissão ficava com um padrão diferente, uma vez que cada clube usava um meio diferente para captar as imagens. Sentimos a necessidade de padronizar, talvez diminuir um pouco o número das transmissões, mas que elas pudessem ser todas iguais e com a mesma entrega", contou Aline Pellegrino, ex-jogadora e atual coordenadora de futebol feminino da FPF às dibradoras.

Aline-Pellegrino coordena o futebol feminino dentro da Federação Paulista de Futebol (Foto: FPF)

"O futebol feminino precisa de visibilidade. Sem os jogos transmitidos é muito mais difícil para as pessoas acompanharem. A cada rodada com transmissões de futebol feminino, não importa a plataforma, os números nos mostram que existe, sim, uma demanda real", reiterou Aline.

Narração feminina 

É claro que a Copa do Mundo influenciou – e muito – a ideia de que as mulheres também poderiam ter espaço no microfone, comandando uma transmissão de futebol, apoiando nos comentários e nas reportagens.

A Fox Sports 2 foi pioneira nesse sentido e deu espaço às mulheres durante o Mundial (falamos sobre o assunto aqui). Por um mês, Isabelly Morais, Renata Silveira e Manuela Avena -narradoras escolhidas no processo seletivo "Narra Quem Sabe" promovido pela mesma emissora – deram o tom feminino durante os jogos das seleções, inclusive durante as partidas do Brasil.

No Paulista Feminino, as responsáveis pelas narrações dos lances bonitos, dribles e gols são Elaine Trevisan e Camila Salvador. Ambas participaram do processo seletivo realizado pelo programa "A Narradora Lay's", exibido pelo Esporte Interativo (falamos mais sobre o programa e as vencedoras aqui).

"Receber esse convite foi muito legal! Acho que a Federação Paulista marcou um golaço em colocar em evidência o futebol feminino e abrir espaço para a mulher dentro do futebol, não só nos gramados, mas também na transmissão. Me senti privilegiada por fazer parte dessa equipe numa ação pioneira dentro da FPF. Acho que isso só tem a crescer", afirmou Elaine Trevisan às dibradoras.

Para Aline, a Copa do Mundo abriu um grande espaço para essas mulheres no futebol, mostrando que existe uma demanda pedindo maior presença feminina dentro do esporte, seja dentro ou fora de campo.

"Claro que sabemos que é mais difícil nesse primeiro momento otimizar todas essas mulheres dentro desse cenário atual do futebol em que vivemos no Brasil. Então, nada melhor do que em uma competição onde a Federação tem as transmissões e o controle, dar esse espaço à elas. Com o tempo e com mais experiência, essas meninas vão evoluir, vão se aprimorar, e naturalmente vão eliminar essa estranheza que algumas pessoas sentem ao acompanhar uma mulher narrando ou comentando", frisou.

Elaine foi finalista do programa "A Narradora Lay's" (Foto: Reprodução/Esporte Interativo)

E é assim que as mulheres vão rompendo barreiras e eliminando os estranhamentos que muitos ainda dizem sentir ao ouvir um jogo narrado na voz feminina. Não é um processo simples, afinal, são décadas de coberturas jornalísticas feitas apenas pela ótica masculina: eles narram, eles reportam, eles comentam, eles debatem.

Elaine também percebe a mudança pós Copa do Mundo refletida em seu trabalho e avalia o ano de 2018 como um marco para expansão e visibilidade da mulher na comunicação esportiva dentro do futebol. "Esse ano foi fundamental para a narração e para os comentários femininos nas transmissões. Também por ter participado do programa do Esporte Interativo tenho recebido mais convites para narrar e ganhando mais espaço até na própria emissora que eu trabalho", revelou Elaine que é funcionária da Rede Vida.

Com a crescente presença feminina dentro do cenário esportivo, a FPF inova, mais uma vez, ao perceber essa tendência e trazer mulheres para dar voz à sua cobertura.

"A aceitação tem sido fantástica, e os números mostram isso. Conversei com cada um dos clubes e com as pessoas do meio durante a primeira semana para saber qual o feedback delas. Tenho ouvido muitas coisas positivas e também muitas construtivas para que as transmissões possam estar ainda melhores. Tenho certeza que nos jogos das finais vamos ter uma grande evolução se compararmos com essa primeira rodada. É um processo natural", afirmou Aline.

Qualidade dos jogos e audiência

Ainda é comum ouvir por aí comentários que classificam o futebol feminino como chato, lento e nada atrativo. Mas quem acompanha a modalidade com regularidade começa a perceber uma notável evolução no nível dos jogos e no preparo físico das jogadoras.

Na visão de Elaine, que diz narrar e gostar bastante de acompanhar o futebol feminino, aquela época em que o futebol feminino era mal visto já acabou. "Hoje a gente vê um nível técnico muito bom, vê que as meninas já sabem ocupar suas posições, tem uma marcação definida, a qualidade do toque de bola é outra e a gente já consegue ver um futebol bonito jogado por mulheres", relatou a narradora.

(Foto: Santos FC)

É claro que, assim como acontece com o masculino, o futebol feminino também tem seus times favoritos, aquelas equipes que sempre estão ali, se destacando e brigando pelo título. A coordenadora do futebol feminino na FPF avalia esta edição do Paulista como uma das mais equilibradas tecnicamente.

"A chegada do Taubaté na 2° fase mostra bem isso (o equilíbrio técnico). E uma vitória contra a Ferroviária pode assegurar pra eles uma vaga inédita na semifinal. Sem contar que eles já conquistaram a vaga paulista para a Série A2 do Brasileiro o ano que vem", disse Aline.

(Foto: Rafael Citro/ECTaubaté)

Pensando em tornar o campeonato cada vez mais atraente, discutiu-se a possibilidade de realizar o campeonato em um grupo único, fazendo com que todos os times se enfrentem. A decisão sobre o modelo do campeonato fica a critério dos clubes e em uma votação apertada, foi decidido para este ano que o formato dos grupos seguiria igual.

"Neste  ano, durante o Conselho Técnico, foi votada pela primeira vez a proposta para que o campeonato fosse disputado em um grupo único. Creio que esse formato possa deixar a competição ainda mais equilibrada, e isso talvez seja uma tendência para as próximas edições", revelou Aline.

(Foto: SC Corinthians)

Na primeira rodada com transmissão online – que aconteceu nos dias 25 e 26 de agosto – a FPF registrou 188.394 mil visualizações pelo Facebook e Youtube.

O jogo mais assistido foi entre Corinthians 3×0 Ferroviária, com 150.097 mil pessoas acompanhando pelo Facebook e outras 1.714 pelo Youtube da Federação Paulista de Futebol. Ou seja, em um só jogo o Corinthians foi responsável por quase toda a audiência da FPF no final de semana.

Em segundo lugar ficou o jogo entre Rio Preto 1×1 Santos, com 24.095 visualizações totais.

Corinthians derrotou a Ferroviária por 3×0 na última rodada (Foto: Bruno Teixeira)

Aline revela que não há uma meta estipulada para medir a audiência, mas ter a informação dos acessos ajuda a pensar nos planos para as próximas edições. "Não colocamos meta, claro que ficamos ansiosos com os números desta primeira rodada, e são números significativos. Vai ser muito importante ter essa métrica ao final da competição, e aí quem sabe traçar algo mais audacioso para o próximo ano", afirmou.

Acompanhe os próximos jogos do Campeonato Paulista Feminino

Seja no estádio ou online, fique por dentro dos jogos que completam a 19ª rodada do Paulista Feminino neste final de semana:

01 de setembro – Sábado
15h: São José x Rio Preto – Estádio Martins Pereira (São José dos Campos)

02 de setembro – Domingo
10h: Taubaté x Ferroviária – Estádio Joaquim de Morais Filho (Taubaté)
15h: Audax x Santos – Estádio Pref. José Liberatti (Osasco)
15h: Ponte Preta x Corinthians – Estádio Nelo Bracalente (Vinhedo)

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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