Em novo ciclo, basquete feminino disputa sul-americano visando Tóquio-2020
A seleção feminina de basquete entra em quadra no dia 30 de setembro para disputar o Campeonato Sul-americano de 2018 que será realizado em Tunja, na Colômbia. Na fase de grupos, a seleção brasileira enfrentará as equipes do Paraguai, Chile e Venezuela.
O Brasil – que é o maior vencedor do torneio, com 26 conquistas – já está em preparação desde 10 de agosto, com comissão técnica e atletas convocadas realizando treinamentos para brigar pelo título que pode garantir classificação para a Copa América (campeonato classificatório para os Jogos Olímpicos do Japão, em 2020).
Uma importante presença feminina desempenha papel fundamental na comissão técnica brasileira. Sob o comando do treinador Carlos Lima, a ex-jogadora Adriana Santos ocupa o cargo de gerente técnica da equipe e é responsável por fazer a ponte entre clubes e Confederação, cuidando também da parte administrativa e de planejamento.
Além disso, a ex-atleta tem um elo muito forte com as jogadoras e seu principal papel é entender as necessidades do elenco e ser uma porta-voz das atletas, ouvindo as impressões de cada uma delas no dia-a-dia.
Adriana, ao lado de Paula, Hortência, Alessandra, Janeth e Marta, conquistou os maiores títulos do basquete feminino brasileiro. Começou a praticar o esporte aos 12 anos, em São Bernardo e tem passagens por grandes clubes como BCN, Uniban, Guaru, Leite Moça, Sport Recife, Arcor, Microcamp, Unimep, e também fora do país, atuando pelo Lattes Montpellier (França), Lugo e Rivas Futura (Espanha).
A ex-jogadora defendeu a seleção brasileira de 1991 a 2002, participando das principais conquistas da modalidade como o Pan-Americano de 1991 em Cuba, o Mundial de 1994 na Austrália e as duas medalhas olímpicas: prata em Atlanta (1996) e o bronze em Sidney (2000).
Adriana encerrou sua carreira como atleta em 2010, aos 39 anos, defendendo a equipe Unimed/Americana e, na sequência começou a treinar as categorias de base do mesmo clube até chegar na gestão da equipe, em 2012. "Nunca sonhei em trabalhar na gestão, eu queria ser técnica", afirmou em entrevista às dibradoras.
"Eu não tinha noção de nada, fui aprendendo no dia-a-dia e fui gostando. Já havia feito cursos na França durante o período em que morei lá e estava grávida. Como não podia jogar, fui convidada para trabalhar por sete meses no Centro de Formação em Toulouse, na França. Além dos treinos, participava da parte de organização das atividades de treinamento e ali não era um Centro de Formação voltado só para o basquete, mas sim para todos os esportes", contou Adriana.
Histórico
Depois de toda a crise que passou o basquete nos últimos tempos, com problemas de gestão e corrupção dentro da própria CBB (Confederação Brasileira de Basquete), a categoria que mais sofreu com renovação e busca de novos talentos foi a feminina.
Após a conquista do bronze no ano 2000, as jogadoras começam a sair do Brasil por falta de oportunidades. Os títulos importantes não foram o suficiente para fazer a modalidade crescer. "Difícil falar o porque, mas as medalhas estão aí, a história tá aí pra gente provar o que aconteceu. Mas aqui no Brasil a gente não tinha patrocínio, a gestão era horrível, não tínhamos trabalho de base", recorda Adriana.
"Depois de Sidney, a gente não encontrava equipes para jogar aqui no país, começou uma debandada, a maioria das atletas foi para fora. Eu fui a primeira jogadora brasileira a atuar na França."
Adriana recebeu o convite para trabalhar na CBB em 2016, às vésperas dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. "Quando cheguei em janeiro, tinha seis meses para organizar o time para a Olimpíada. Tínhamos verba, mas não conseguíamos marcar jogos contra outras equipes porque todo mundo já tinha o cronograma fechado. Com meus contatos, marquei amistosos contra Cuba e contra a França. Tentamos fazer a melhor programação possível", afirmou.
Como gerente técnica da seleção, Adriana já conhecia as atletas – chegou a trabalhar com algumas delas quando estava em Americana – então conseguiu desempenhar seu novo papel de maneira bem tranquila. "Tento proporcionar tudo de melhor para que elas possam treinar bem. As jogadoras precisavam de alguém para falar em nome delas", revelou.
Em meio ao turbilhão que passou a entidade e diante de tantas trocas no comando técnico, a seleção brasileira fez uma péssima campanha nos Jogos do Rio, em 2016 (sem passar da fase de grupos) e depois na Copa América no ano seguinte. Na ocasião, o Brasil perdeu a disputa do terceiro lugar para Porto Rico e ficou fora do Mundial pela primeira vez em 58 anos. Aí então, o sinal de alerta da modalidade foi ligado.
A LBF (Liga de Basquete Feminino) se fortaleceu e, na edição de 2017 começou a ter mais visibilidade e dar mais oportunidades para que novas jogadoras surgissem. "Se você não tiver um campeonato forte, acontece o que aconteceu com a gente que fomos jogar fora. Com um campeonato competitivo no país, a tendência é melhorar o basquete feminino", afirmou a ex-jogadora.
Sul-americano
Entre as 15 selecionadas para os treinamentos visando o Sul-americano há um equilíbrio entre as jogadoras que atuam no Brasil e no exterior. Oito atletas disputam ligas estrangeiras em países como Argentina, Espanha, Portugal, França e Estados Unidos. Há também o equilíbrio necessário entre as mais experientes (Isabela Ramona, Babi Honório e Clarissa) e as novatas, como as pivôs Stephanie Soares e Kamilla Cardoso.
Do grupo, duas atletas defenderam o time campeão da LBF – o Vera Cruz/Campinas – na temporada de 2017/2018: a armadora Babi Honório e a pivô Gil Justino – que foi convocada para o lugar da experiente Damiris. Do vice-campeão, Sampaio Basquete, Tati Pacheco compõe a equipe brasileira atuando como ala.
Entre as jogadoras convocadas, algumas ausências serão sentidas, como a da jovem de 18 anos, Izabela Nicoletti. A ala-armadora que defende a equipe Florida State University, sofreu uma lesão no joelho que também a deixará de fora de toda a temporada norte-americana universitária.
Além de Izabela, Damiris Dantas, pivô de 25 anos, também desfalca a equipe brasileira por conta de uma lesão no tornozelo direito. Damiris também joga nos Estados Unidos, pelo Atlanta Dream.
Apesar de ser o maior campeão da América do Sul, Adriana prefere cautela ao cravar favoritismo. "É um novo ciclo e estamos com força total. Mas lá na minha época, quando a gente não estava com força total, ganhávamos mesmo assim. Hoje em dia, a gente não ganha mais se não estiver bem preparado", afirmou.
"As atletas tem consciência de que precisamos estar bem e fazer uma boa preparação. Estamos entre as potências sul-americanas, junto com a Argentina e com outras equipes que subiram muito de produção, como a Venezuela e a própria Colômbia", ressaltou Adriana.
A seleção defende uma hegemonia de 32 anos na competição. Desde 1986, foram 16 títulos seguidos – o último foi conquistado há dois anos, na Venezuela.
As brasileiras convocadas para os treinamentos visando o Sul-americano são:
Armadoras: Babi Honório (Vera Cruz/Campinas), Lays da Silva (São Bernardo/Instituto Brazolin/Unip) e Tainá Paixão (Las Heras-Argentina)
Alas: Isabela Ramona (Valencia/Espanha), Izabella Sangalli (Club Tomás de Rocamora/Argentina), Jaqueline de Paula (Basketball Santo André/Apaba), Raphaella Monteiro (União Sportiva/Portugal), Tati Pacheco (Sampaio Basquete) e Thayná Silva (São Bernardo/Instituto Brazolin/Unip)
Pivôs: Clarissa dos Santos (Lyon Asvel/França), Érika de Souza (Perfumerías Avenida/Espanha), Kamilla Cardoso (Hamilton Heights/Estados Unidos), Stephanie Soares (ADC Bradesco), Nádia Colhado (Uni Girona/Espanha) e Gil Justino (Vera Cruz/Campinas).
Os treinamentos em Campinas seguem até dia 27/8 (segunda-feira). No dia seguinte, a delegação brasileira embarca para a Colômbia com 12 jogadoras. A Seleção está no Grupo A e estreia no dia 30, às 19h45 (horário de Brasília), contra a Venezuela.
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