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Torcedor solitário do Vitória prestigia acesso das Leoas à Série A1

Roberta Nina

04/07/2018 13h55

Gabriel, o torcedor visitante e solitário que viu o Vitória vencer o Internacional no Beira-Rio (Foto: Kadu Brandão/EC Vitória)

* Por Juliana Lisboa.

Os baianos tiveram muito o que comemorar neste 2 de julho, dia da Independência da Bahia. E não apenas pelo jogo do Brasil (que classificou a seleção para as quartas de final da Copa do Mundo) cair no feriado, o que já seria de bom tamanho. Mas porque, no final de semana, foram duas conquistas esportivas muito relevantes para a terrinha.

Numa delas, o atual campeão olímpico, Robson Conceição, dominou o nicaraguense Carlos Osorio e venceu com facilidade, desta vez por nocaute técnico, sua oitava luta como profissional no boxe e começa a sonhar com a chance de disputar o cinturão mundial da categoria -60 kg.

E noutra, no futebol, as jogadoras do Vitória conseguiram uma virada heróica de 2 a 1 em cima do Internacional, em pleno Beira Rio, e conquistaram, de uma vez só, a vaga na final do Brasileirão A2 e o acesso à Série A. Os gols das leoas foram marcados por Cris e Taiana (pênalti), e Moretti marcou para as coloradas.

Mas uma coisa que chamou atenção na partida, além do alto nível da disputa, foi um torcedor rubro-negro. Gabriel Gonzaga foi quem povoou, sozinho, a arquibancada da torcida visitante do Beira-Rio e testemunhou o retorno do seu time à elite do futebol feminino brasileiro.

A imagem desse torcedor solitário foi registrada pela equipe de comunicação do Vitória e circulou pelas redes sociais do clube até que ele fosse 'encontrado' depois da partida.

Gabriel é baiano, professor de história e faz mestrado na UFRGS, no Rio Grande do Sul. Ele resolveu assistir à partida porque é algo que ele sempre faz quando o Vitória joga em Porto Alegre como visitante. E, quando soube que a equipe feminina decidiria a vaga na final com o Inter, pensou: por que não?

(Foto: Kadu Brandão / EC Vitória)

"Então, desde que o Vitória criou um time feminino, tenho me preocupado em acompanhar também. Esse ano, principalmente, quando o Vitória parece estar investindo mais no time. Por isso saí de casa cedo pra aproveitar o dia e depois ir pro jogo", disse.

Na arquibancada ele correspondeu, gritou durante todo o jogo e apoiou tanto as meninas que ganhou um vídeo de agradecimento das jogadoras, gravado pela capitã Isabela:

"O vídeo da Isabela mexeu muito comigo. Senti como uma aproximação com o time, sabe? Nunca tinha passado por isso, mesmo com futebol masculino. Seria legal se isso fosse política do clube. Principalmente com torcedores fora da Bahia, que tem a oportunidade de ver seu time poucas vezes por ano", disse Gabriel.

Se já é difícil ver torcida mandante nos jogos femininos, imagina a de visitante. Por isso não é exatamente uma surpresa que o Beira Rio sequer tivesse destrancado os portões de acesso da torcida visitante para a partida. No Twitter, Gabriel fez um "lance a lance" da sua briga com a equipe do estádio até conseguir a liberação. Uma breve novela com um final feliz.

"O pessoal achou que eu tinha arrombado o portão, mas não foi assim! Eu já sei onde é o espaço de visitante no Beira Rio. Daí eu cheguei uns 30 minutos antes e tava fechado. Falei com os seguranças e eles falaram que iam liberar. Daí foi aquela confusão porque ninguém tinha chegado ainda. Eu fiquei lá esperando e eles abriram. Mas estava tudo fechado na torcida visitante, inclusive os banheiros. Abriram tudo pra mim", contou.

Vale ressaltar que a partida foi na tarde do sábado, no meio de outro jogo importante: Portugal e Uruguai, que definiam uma vaga nas quartas de final na Copa do Mundo.

A leoa Taiana marcou o gol da virada no Beira-Rio (Foto: Reprodução/Twitter E.C Vitória)

Prioridade? O Vitória, claro. "Não me arrependi, os dois times eram muito bons, tecnicamente foi um jogo muito bom de assistir", mostrando que jogão de bola não é só no Mundial masculino.

Campanha histórica

Invictas no Brasileiro A2, com 100% de aproveitamento fora de casa e apenas três gols sofridos durante o campeonato inteiro (ostentando a melhor defesa do torneio), as leoas da Barra chegam na decisão com moral. A campanha irrepreensível neste ano mostra o quanto a modalidade foi repensada de 2017 para cá.

(Foto: Kadu Brandão/EC Vitória)

No ano passado, o Vitória venceu o Campeonato Baiano pela primeira vez e foi convidado a participar da Série A. Foi rebaixado sem conseguir vencer sequer uma partida. Mas as mudanças neste ano foram mais em planejamento e estrutura do que no elenco, já que 16 jogadoras do ano passado continuaram na equipe.

Após conquistarem o acesso, as Leoas vão em busca do título contra o Minas Icesp-DF (Foto: Reprodução/Twitter E.C Vitória)

"Estou muito orgulhosa das minhas meninas!", vibrou a coordenadora de Esportes Olímpicos do Vitória, Many Gleize. "Depois de um Brasileiro desastroso em 2017, com 12 derrotas e dois empates em 14 jogos, reformulamos o departamento no meio do ano passado, nos planejamos e começamos a trabalhar para a construção de um 2018 vitorioso. Em nove jogos, são seis vitórias e três empates", completou.

As leoas do Vitória vão ainda brigar pelo título do campeonato com o Minas Icesp, equipe de Brasília.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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