A 'intrusa' no banco da comissão técnica croata na Copa do Mundo
Jogar, apitar, narrar, treinar, gerir. Ser mulher e desempenhar qualquer uma dessas funções no ambiente esportivo causa estranhamento e incômodo para muitas pessoas. Mas essa luta – que começou há mais de 100 anos quando o futebol começou a ser praticado no Brasil – vem abrindo espaço e possibilitando a participação feminina no esporte. E, nesse sentido, a Copa de 2018 tem sido um marco.
Em países europeus, a presença feminina em cargos de treinadoras e dirigentes já é um pouco mais comum, principalmente no comando de equipes femininas, mas chamou a atenção nesta Copa do Mundo da Rússia, a presença de uma loira que compunha o banco de reservas da Croácia durante o primeiro jogo da equipe contra a Nigéria.
Iva Olivari é o nome dela. Ex-tenista, agora ocupa o cargo de gerente da seleção croata, o equivalente ao mesmo cargo que ocupa Edu Gaspar na seleção brasileira. Iva tem 49 anos e trabalha desde 1992 na Federação Croata de Futebol, ocupando o cargo de gerente está há dois anos.
"O fato é que vivemos em uma comunidade bastante tradicional, onde o futebol é considerado um esporte predominantemente masculino. Mas eu há muito tempo percebi que a única maneira de mudar isso era arregaçar as mangas e provar com trabalho. Acho que hoje, no ambiente em que estou, sinto-me totalmente igual, embora o caminho para isso tenha tido muitos espinhos", alertou Iva.
Histórico e preconceito
No Brasil, registra-se que o futebol feminino chegou por volta da década de 20 e seguiu pelos anos 30 e 40 praticado apenas como lazer, aparecendo apenas em eventos beneficentes e espetáculos que atraiam grande quantidade de público.
Em 1941, o então presidente Getúlio Vargas proibiu a prática de alguns esportes para as mulheres, dentre eles, o futebol. O impedimento seguiu com o golpe militar de 1964 e somente nos anos 80 é que a pratica foi reconhecida oficialmente.
O preconceito e a proibição atrasaram a evolução do futebol feminino no país, que ainda sofre com a falta de apoio, investimento, visibilidade e desenvolvimento. Afinal, são 40 anos de atraso, são décadas que impediram a presença e o aperfeiçoamento das mulheres dentro do esporte mais amado do Brasil.
Como consequência desse preconceito e desse atraso, são poucas as mulheres que também aparecem no cenário do comando técnico do futebol. Nem como treinadoras, nem como preparadoras, ou mesmo como membro de uma comissão técnica. É muito raro vê-las ocupando essas posições. E essa ausência de mulheres no meio esportivo não acontece só por aqui, infelizmente.
Na última Copa do Mundo Feminina, realizada em 2015 no Canadá, das 24 seleções participantes, apenas oito eram comandadas por mulheres: Costa Rica, Costa do Marfim, Equador, Tailândia, Suíça, Suécia, Estados Unidos e Alemanha. À época, o Brasil inclusive viajou com uma comissão técnica inteira formada apenas por homens na seleção feminina.
Diante desse cenário, a Fifa mudou suas regras e passou a ter cotas para a inclusão de mulheres nesse meio, pelo menos nas competições de futebol feminino. A norma passou a valer a partir do Mundial Sub-17 em 2016 e exige pelo menos uma mulher na comissão técnica e uma médica viajando com a equipe.
No vôlei, o cenário não é muito diferente. Em 2017, a seleção de vôlei feminina venceu pela 12ª vez o Grand Prix, principal competição internacional. Entre as 32 equipes participantes, apenas duas mulheres comandaram as seleções do Japão e da Austrália: Kumi Nakada e Shannon Winzer, respectivamente.
Na seleção feminina de futebol, um tabu foi quebrado em 2016 quando Emily Lima assumiu o comando do time principal. Ela já havia passado pelas equipes sub-17 e sub-15 e foi a primeira mulher a comandar a seleção brasileira em todas as categorias. O trabalho dela no time principal durou apenas dez meses e após algumas derrotas contra times melhores ranqueados que o Brasil, a CBF tomou a decisão de demiti-la.
Por conta dessa decisão, algumas jogadoras pediram dispensa da seleção, entre elas, Rosana, Maurine e Cristiane –que retornou à equipe neste ano sob o comando de Vadão, o mesmo treinador que já dirigiu a seleção por dois anos, antes da chegada de Emily.
Se ainda precisamos quebrar muitas barreiras para comandar equipes femininas, imagine dentro de equipes masculinas? Iva não é treinadora e nem auxiliar técnica, mas a sua presença numa competição desse tamanho significa muito para abrir caminho a todas as mulheres que sonham e se capacitam para ocuparem cargos diretivos dentro do futebol.
Saiba mais sobre a trajetória de Iva Olivari e sobre seu trabalho na seleção croata nesta matéria produzida pelo Uol Esporte.
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