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Não foi só figurino: a importância da volta de Serena como 'Pantera Negra'

Renata Mendonça

30/05/2018 06h48

Foto: EFE

Serena Williams está de volta aos Grand Slams. A maior tenista de todos os tempos ficou mais de um ano afastada das quadras por conta do nascimento de sua filha, Alexis Olympia Ohanian Jr, e retornou com tudo ao saibro nesta semana em uma estreia com vitória em Roland Garros.

Ela que é a maior ganhadora de Grand Slams da Era Moderna, que foi campeã do Australian Open em 2017 quando já estava grávida e que já soma 23 títulos das principais competições do tênis mundial no currículo, teve sua reestreia marcada por um jogo disputado contra a tcheca Kristyna Pliskova, de apenas 26 anos (10 a menos que Serena), finalizado em 2 sets a 0 (7-6 e 6-4) para a americana. Agora a ex-número 1 do mundo (atualmente fora do ranking pelo tempo que ficou fora de quadra) enfrentará nesta sexta-feira a australiana Ashleigh Barty, de 22 anos, número 17 no ranking.

Apesar do grande marco de sua volta – ela já havia jogado dois torneios menores, mas agora retorna para as principais competições do tênis mundial – , o assunto mais comentado desde que Serena Williams pisou em quadra foi o seu uniforme. Em vez de usar a tradicional saia ou vestido que geralmente é designado para as tenistas, a americana desfilou o melhor de seu jogo em um traje de calça comprida e blusa preta.

Ela foi chamada de "Mulher Gato" por conta da roupa e, na saída do jogo, levou com bom humor as perguntas sobre seu uniforme – e citou a referência ao recém-lançado filme da Pantera Negra.

"Eu me senti uma guerreira usando isso. Uma rainha de Wakanda (citando o filme Pantera Negra) talvez?", brincou.

"Estou sempre vivendo um mundo de fantasias. Sempre quis ser uma super-heroína, e esse pode ser um jeito de conseguir isso".

Uma super-heroína real, é exatamente isso que Serena Williams demonstra ser todos os dias. Não pelo traje que vestiu em Roland Garros, mas por tudo o que já fez dentro de quadra, mesmo enfrentando todo o tipo de preconceito, os comentários pejorativos sobre seu corpo ("parece um homem", dizem), a maneira com que minimizam seus feitos (como a própria Serena afirmou em 2016, se ela fosse um homem, já teria sido considerada uma das melhores de todos os tempos há muitos anos).

E agora, no retorno aos Grand Slams, ela mostra ainda mais um de seus "superpoderes". Depois de uma gravidez difícil, das complicações que sofreu no hospital e de um ano inteiro cheio de cautela para poder aliar a vida esportiva à vida materna, Serena Williams voltou mais forte do que nunca para mostrar que: sim, é possível.

Foto: EFE

"Eu perdi as contas de quantos problemas de coágulos eu tive nos últimos 12 meses. Há uma funcionalidade para esse uniforme. É divertido, mas é útil também, para eu poder jogar sem ter problemas", explicou a jogadora.

Ignorando mais uma enxurrada de comentários sobre sua roupa e seu corpo ("como está gorda" ou "nossa, Serena precisa emagrecer" ou ainda "está usando essa roupa para disfarçar as gorduras), Serena retorna ao seu reinado mais plena do que nunca. Sem pressão, sem a necessidade de provar nada para ninguém. Apenas voltando a fazer o que mais ama. Se vai voltar a conquistar um título de Roland Garros após três anos de "jejum"? Ela responde com tranquilidade:

"Não estou colocando nenhuma pressão sobre mim mesma, como eu normalmente faço. Não sei o que vai acontecer. Estou aqui para competir e fazer o meu melhor".

O simbolismo de um uniforme

Não se trata de um modelito diferente, de um visual chamativo para marcar seu retorno às quadras. Serena viveu um drama durante sua gravidez e precisou realizar uma cesárea de emergência. Sua filha, Alexis Olympia Ohanian Jr., nasceu em setembro de 2017 e, na sequência do parto, Serena, apresentou problemas de coagulação sanguínea. A atleta já tinha um histórico desse problema e, após dar luz, começou a ter dificuldades para respirar. Ela chegou a dizer aos médicos que poderia estar com problemas de coagulação e pediu uma tomografia específica para o diagnóstico.

Num primeiro momento, a equipe médica ignorou o pedido de Serena e fez apenas um exame em suas pernas. Mas depois cederam e, com a tomografia, puderam comprovar que a tenista apresentava mesmo coágulos nos pulmões, conhecido como embolias pulmonares, conforme a americana relatou à revista Vogue.

O medicamento para conter o coágulo provocou um efeito colateral em sua cirurgia, impedindo a cicatrização do corte feito para a cesária. Ele reabriu e os médicos encontraram uma grande massa de sangue coagulado no abdômen de Serena. A nova operação foi realizada para corrigir e evitar mais coágulos.

Doze dias após o nascimento de sua filha, Serena divulgou um vídeo com momentos de sua gravidez e enfatizou as dificuldades que enfrentou no pós-parto. Seu retorno às quadras tem um valor imenso – e o uso desse novo uniforme também é simbólico por isso. Mostra toda a luta da atleta em vencer um problema de saúde, se adaptar às mudanças do corpo impostas pelo parto, se preparar fisicamente para jogar em alto nível e claro, vestir a roupa exata que tenha a funcionalidade ideal para o momento que ela vive.

"Para todas as mães que tiveram uma recuperação difícil da gravidez, aqui vai. Se eu posso fazer isso, você também pode. Amo todos vocês!". Esse foi a mensagem que a melhor tenista de todos os tempos, entre homens e mulheres, postou em suas redes sociais após derrotar a 70ª colocada no ranking WTA, Kristina Pliskova.

Seu retorno ao esporte e aos Grand Slams após um ano e meio não deve ganhar destaque somente pelo fato do uniforme ser incomum, mas sim pelo simbolismo que ele representa. A roupa da tenista foi escolhida, em primeiro lugar, pela funcionalidade, por garantir seu rendimento e, ao mesmo tempo, sua saúde. Mas é verdade que a fez sentir como uma "super-heroína" dos quadrinhos. Só que Serena é muito mais do que ficção, ela é uma guerreira de verdade. É uma vencedora e uma sobrevivente da vida real que escancarou a dor e a delícia de ser mãe e atleta. E que inspirador saber que ela venceu as barreiras impostas deixando claro que toda mulher pode, sim, ser linda, forte, atleta, e agora também mãe!

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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