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Grávida de 8 meses, técnica leva Chelsea a título com recorde de público

Renata Mendonça

06/05/2018 17h58

Emma Hayes, grávida de 8 meses, comemora o título com as jogadoras (Foto: PA)

Aos 41 anos, Emma Hayes está grávida e muito perto de dar à luz gêmeos – ela completou já 33 semanas e está no oitavo mês de gravidez. E antes mesmo dos bebês nascerem, já tem um grande motivo para comemorar: Hayes conquistou neste sábado seu segundo título da FA Cup à frente do Chelsea Ladies, a equipe de futebol feminino do Chelsea.

O jogo foi no lendário estádio de Wembley e contou com um recorde de público para o futebol feminino em competições nacionais na Inglaterra. Um total de 45.423 pessoas preencheram as arquibancadas para acompanhar Arsenal Women 1 x 3 Chelsea Ladies, 10 mil a mais do que o registrado na final do mesmo torneio no ano passado, quando o Manchester City foi campeão.

Mais de 45 mil pessoas estiveram em Wembley em recorde de público do futebol feminino (Foto: Divulgação FA)

Mas um dos grandes destaques do jogo foi mesmo a presença de Emma Hayes no gramado comemorando o título com suas jogadoras. Ela deixou seu assistente Paul Green à beira do campo porque teve recomendações médicas para "pegar leve" nessa reta final da gravidez. No entanto, ela conversou com as atletas no intervalo do jogo e seu papel foi fundamental na conquista – e principalmente na reconstrução do time feminino do Chelsea nos últimos seis anos.

Ela chegou ao clube em 2012, após ter acumulado experiência como assistente no Arsenal e depois como técnica do Chicago Red Stars nos Estados Unidos. À época, a equipe dos Blues vinha de um campeonato ruim na WSL1 (a Women's Super League, primeira divisão do Campeonato Inglês de futebol feminino), acumulando uma sequência de 10 derrotas em 12 jogos. E Emma Hayes veio para estabelecer outra conquista também fora de campo – por algum tempo, ela foi a única mulher a comandar uma equipe de futebol feminino no torneio.

Foto: DIvulgação Chelsea

Mas com um trabalho feito a longo prazo, Hayes conseguiu levar as "ladies" do Chelsea ao topo. O primeiro título veio na temporada 2014-2015 com a conquista da FA Cup, derrotando na fase final o Arsenal por 2 a 1, o Manchester City por 1 a 0 e depois o Notts County na final por 1 a 0 com o público de 30.710 pessoas em Wembley.

Em 2015, ela também conquistou pela primeira vez a WSL1, depois no ano passado levantou mais uma taça, desta vez a do torneio interino da WSL criado durante a mudança do calendário da principal competição inglesa no futebol feminino e, neste ano, levou o time à inédita semifinal da Champions League, perdendo apenas para o já tradicional Wolfsburg, um dos maiores campeões do torneio continental.

Mas Emma Hayes não gosta de se ver como um "exemplo a ser seguido" apenas por ser mulher. Ela quer ser reconhecida como boa técnica que é.

"Vocês me chamam de exemplo por eu ser mulher. Claro que eu quero influenciar outras mulheres no futebol, mas eu quero ser reconhecida por ser boa técnica taticamente, por formar um bom time, por conseguir tirar o melhor das minhas jogadoras, que estão disputando título ano sim, ano não", afirmou à BBC.

"As coisas ficam mesmo mais difíceis quando não há muitas de nós fazendo isso (sendo técnicas), mas temos que acabar com a conversa específica sobre gênero. Eu apenas me vejo como técnica de futebol e só", concluiu.

Mas há uma representatividade ainda melhor na conquista de Hayes que é justamente o fato de ela estar grávida de 8 meses e, ainda assim, trabalhando a todo o vapor. A gravidez costuma ser vista como empecilho para as mulheres no mercado de trabalho, e a treinadora também defende seu direito "biológico" de ser mãe, mesmo num campo de futebol.

"Para mim, é importante que as pessoas percebam que a gente pode fazer as duas coisas (ser técnica de futebol e estar grávida). E é meu direito biológico, eu ainda posso levantar da cama e ir para o trabalho todos os dias. É importante para minha mente e para minha saúde me manter trabalhando, só preciso fazer as coisas certas e dormir direito", disse.

Foto: Divulgação Chelsea

Emocionada com o título, Hayes ainda elogiou a performance de sua equipe, que em nenhum momento se deixou "intimidar" pelas adversárias.

"Essa conquista foi melhor do que a primeira, porque dominamos o jogo todo. A última coisa que eu precisava era de um jogo nervoso nessas circunstâncias, e eu nunca me senti tão relaxada em uma final em toda a minha carreira", avaliou.

"Fico feliz com o recorde de público e mais ainda que as pessoas que vieram presenciaram uma partida de alto nível de futebol."

O recorde de público também satisfez a diretora de futebol feminino da Federação Inglesa, Sue Campbell.

"É uma excelente prova de que o futebol feminino está crescendo em todos os aspectos. Quando eu estava chegando em Wembley, vi muitas famílias, crianças, pais, gente de todas as idades vindo. E é isso que queremos", afirmou.

A Federação Inglesa criou um plano para o desenvolvimento do futebol feminino em março do ano passado chamado "The Gameplan For Growth" e tinha por objetivo melhorar a participação e os desempenhos das equipes dentro de campo nos próximos quatro anos. Uma das metas é dobrar o número de mulheres jogando e de torcedores nos estádios até 2020.

"O momento está sendo construído antes do que qualquer um de nós poderia prever e temos que aproveitar isso. Precisamos consolidar esse crescimento", finalizou.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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