Topo

Dibradoras

Quatro anos de Copa Lily Parr, a melhor copa de todas as copas

Nayara Perone

23/04/2018 16h26

Futebol, cerveja, churrasco e amizades

Sempre fui apaixonada por futebol. Não só por assistir, como para jogar.  E foi em 2013 quando me interessei em jogar uma copa com amigos do Twitter, na época chamada de Copa Trifon Ivanov. Talvez alguns já tenham ouvido falar, talvez não. Mas foi assim que entrei como uma das capitãs da Copa Lily Parr, que surgiu para que também tivesse futebol feminino.

Essa não é uma história sobre futebol apenas, ela é uma história sobre como o futebol permeia nossas vidas em todas as camadas. Como ele pode ser transformador e revelador. Às vezes a gente evita cair nos clichês, mas de fato nunca é só futebol.

A Copa Lily Parr começou em 2014 com outro nome, mas decidimos trocar para "Lily Parr" para homenagear umas jogadoras pioneiras da modalidade na história. Graças à copa eu procurei um lugar para jogar futebol, já com 25 anos. Não jogava desde a adolescência e encontrei ali uma oportunidade de voltar a praticar. E então um novo mundo começou para mim.

A primeira edição começou com 4 times femininos e contou com 36 meninas. Hoje estamos na nona edição. São 12 times, 120 meninas jogando um sábado inteiro. E tudo sem fins lucrativos. Um grande rateio de churrasco, quadras, camisas personalizadas, medalhas e tudo mais. Sem patrocínio, sem nada. É na raça e na coragem que a cada edição muita gente se dedica, rala muito e ajuda a construir uma nova Copa Lily Parr/Trifon Ivanov. E agora com o fim da Copa Trifon Ivanov, seguiremos com o futebol feminino, porque essa idéia não pode parar.

Lutamos muito para que nossa copa também fosse independente do masculino, não por rixas pessoais, mas para que pudéssemos entregar o melhor que o futebol feminino pode oferecer a todas as jogadoras que se cadastram a cada semestre. Se no passado precisei brigar por isso – e por pouco quase perco meu espaço como capitã -, vejo que hoje foi uma decisão muito acertada. A cada edição crescemos de qualidade e em quantidade.

Aqui sou eu fingindo que jogo bem. Não se iludam.

Um dos meus maiores sonhos de infância era ter um time de futebol e graças à Copa Lily Parr eu consegui ter não só um como nove times. Pelo menos 90 meninas passaram diretamente pelos meus times e eu pude acompanhar um pouco da história delas conforme os semestres se passavam.

Nossos times sempre são formados via um sorteio ao vivo na página e isso provavelmente é a parte mais legal do campeonato. Já tivemos times com 5 zagueiras, um time inteiro só de laterais e um time só de atacantes. E batizamos os times com uma paródia de times que já existem, conforme acontece também na versão masculina do campeonato. Aos meus times de todas edições, mando um grande abraço: Parithinaikos, Liverpoá, Zona Norttenham, Porto Florestal, Athletic Bilbo, Toloca, Bayern de Favela, Real Madrinks e Las Palmas pra você.

Vi de perto meninas que nunca tinham jogado bola na vida começarem a jogar semanalmente só para acompanhar a gente na Lily Parr. Vi meninas que chegaram a jogar profissionalmente dando show na quadra ao lado de outras que estavam começando agora, e ambas jogando lado a lado para tentar um gol. Vi vidas se transformando por meio do futebol. Na fase "pré-copa" desde 2014 costumávamos jogar aos fins de semana, umas dezenas de meninas apareciam e jogávamos um contra distribuindo coletes, tudo na base do rateio. Hoje, 4 anos depois, consegui fechar um treino semanal que inclui até um professor pra ajudar as novatas e dar mais condicionamento às veteranas. E essas pessoas continuam jogando até hoje e formam uma família imensa dentro do futebol. Não só nos treinos, como formando até times fora deles para disputar campeonatos mais sérios.

Mais do que treino de futebol, encontrei amizades ali. Pessoas que talvez jamais se encontrassem fora daquele ambiente se tornaram melhores amigas, formaram grupos e times que seguem até hoje. É possível dizer que muita gente chega sozinha na Copa Lily Parr, mas jamais sai sozinha. O futebol é capaz de unir as pessoas e eu acredito muito nisso.

A partir de hoje andaremos somente com nossas pernas, sem a Copa Trifon Ivanov como copa parceira. Seguiremos em 12 capitãs mais uma quantidade infinita de jogadoras e ex-jogadoras que juntas carregam a competição para vôos cada vez mais altos. Para a Copa Lily Parr, desejo vida longa. Que ela seja eterna, que a gente consiga fazer nossos rateios todo semestre e que a cada dia novas mulheres e meninas apareçam para jogar com a gente, como sempre foi. Com todos os times, de fora da cidade de SP, de todas as idades, sendo craque, sendo ruim de bola, tanto faz. Pode ser só mais uma copa qualquer de futebol para muita gente, mas só quem passou por ela sabe o quão divertido pode ser passar um dia bebendo, jogando, fazendo amizades e desfrutando o que o futebol tem de melhor. Desejo ver sempre todas juntas por uma Copa Lily Parr cada vez maior.

 

 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

Dibradoras