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Incêndio no Flamengo: o que a gente aprende com uma tragédia no futebol

Renata Mendonça

09/02/2019 04h00

Foto: Vinícius Castro / UOL

Futebol é um jogo que envolve rivalidade, adversários, vitórias e derrotas. Mas que também – e, principalmente, – envolve vidas. Como aquelas 10 vidas que se foram de maneira tão trágica no incêndio que aconteceu no Ninho do Urubu nesta sexta-feira.

É como se diz e se repete exaustivamente por aí: não é só um jogo. Futebol envolve sonhos. Como os daqueles garotos de 14 e 15 anos que dormiam no CT de um dos maiores clubes do Brasil sonhando em um dia poder fazer um gol no Maracanã lotado com a torcida do Flamengo gritando seu nome.

E futebol, acima de tudo, envolve seres humanos, que, independentemente das camisas e escudos que vestem, têm sob eles um coração que bate em uníssono quando tragédias assim acontecem. Esse futebol, que tantas vezes é violento, cheio de ódio e irracionalidade, num momento como esse revela suas maiores virtudes: a união, a empatia, a solidariedade. 

Foto: AGIF

Poucas horas depois que a notícia do incêndio e das vítimas que ele causou foi confirmada, Fluminense, Vasco e Botafogo, os principais rivais do Flamengo, fizeram manifestações de consternação e fizeram eles próprios o pedido para que a rodada de semifinais da Taça Guanabara fosse cancelada. Nunca foi tão rápido colocar os principais representantes de clubes e federações sentados em volta de uma mesa para chancelar a decisão mais óbvia: não havia clima para futebol no fim de semana.

O presidente vascaíno, Alexandre Campello, decretou luto de 3 dias no clube, cancelou todas as atividades e colocou à disposição do maior rival duas assistentes sociais e uma psicóloga para ajudar no atendimento às famílias das vítimas. O Fluminense também decretou luto pelo mesmo período e cancelou as atividades do dia. O Botafogo não foi a campo e fez orações pelas vítimas no clube, além de também ter decretado luto oficial e baixado a bandeira em General Severiano a meio mastro em homenagem aos que se foram na tragédia.

As manifestações não ficaram somente nos clubes do Rio de Janeiro. Os principais times do Brasil manifestaram solidariedade ao Flamengo e até mesmo alguns clubes internacionais usaram as redes sociais para demonstrar apoio num momento de tanta tristeza. 

Assim como aconteceu no desastre aéreo que vitimou 71 pessoas (incluindo quase o time inteiro da Chapecoense) em 2016, mais uma vez o futebol se une para compartilhar a dor do rival. Tragédias como essa nos fazem lembrar sobre o que é esse esporte por essência: é sobre sonhos, sobre seres humanos, sobre sentimentos. E por mais que tenham suas diferenças, todo clube de futebol tem tudo isso em comum também.

Foto: Divulgação Vasco

As vidas e os sonhos que foram perdidos no Ninho do Urubu são como as que moram no alojamento do Vasco, do Fluminense, do Botafogo, ou de qualquer clube do Brasil. Um acontecimento tão trágico desperta na hora em todos nós o sentimento de "poderia ter sido comigo". A empatia que está tanto em falta no futebol (e na sociedade, em geral), aquele exercício de se colocar no lugar do outro, sempre vem à tona em situações de profunda tristeza que nos chocam e abalam, como essa. 

Uma tragédia que gerou solidariedade e mobilizou o mundo inteiro a prestar homenagens. Que fez com que um taxista vascaíno se oferecesse para trabalhar de graça durante toda a sexta-feira para transportar os familiares das vítimas para onde eles precisassem. Que teve um jogador da base do Vasco comparecendo ao Ninho do Urubu para consolar as famílias de vítimas que eram seus amigos.

Que gerou manifestações de apoio até mesmo das torcidas organizadas rivais, como a Young Flu, que postou em suas redes uma mensagem de solidariedade destacando: "em uma sociedade cada vez mais individualista, declaramos que o amparo deve estar acima de qualquer rivalidade". A Força Jovem, do Vasco, também prestou condolências, enquanto a Torcida Jovem do Botafogo ofereceu solidariedade aos familiares.

Esse é o lado do futebol que sempre deveria prevalecer. O lado humano, que está acima de qualquer divergência clubística. É em um momento trágico e triste como esse que lembramos que, dentro de campo, futebol é, sim, só um jogo, mas fora dele há muito mais EM JOGO. Há vidas, sonhos, e um amor que, por mais irracional que se faça parecer, é capaz de reconhecer no outro uma dor que poderia ser a sua. Então para além dessa tragédia, vamos sempre nos lembrar que futebol é muito mais para unir do que para separar. Dias assim nos ensinam que a rivalidade é só um detalhe – a essência desse esporte vem do amor que ele desperta acima dela. 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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