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Como um Gre-Nal resgatou confiança do Inter e o fez brigar pelo título

Renata Mendonça

22/08/2018 10h07

Foto: AGIF

O ano de 2018 não começou fácil para o Internacional. Vindo de uma campanha instável na Série B – que acabou sem o título da segunda divisão -, o time ainda tentava se encontrar quando o ano começou e já, de cara, sofreu um baque no Campeonato Gaúcho: uma derrota acachapante para o maior rival, Grêmio, por 3 a 0, que acabou eliminando o Colorado da competição muito antes do que o esperado, nas quartas-de-final.

Não havia ninguém em sã consciência que apostasse que o Inter brigaria pelo título do Campeonato Brasileiro. Até o mais fanático dos torcedores estava um pouco cético quanto ao desempenho do time no ano.

Mas veio aí um divisor de águas no momento em que ninguém esperava. Um Gre-Nal na Arena do Gremio naquele que era um dos melhores momentos do Grêmio e um dos piores do Inter. O Tricolor havia acabado de golear o Santos por 5 a 1 jogando um futebol envolvente e bonito de se ver, enquanto o rival colorado não fazia gols há quatro jogos, figurava na 13ª colocação e somava duas derrotas, um empate e somente uma vitória no Brasileiro. A partida terminou em 0 a 0, que foi considerada uma vitória para Inernacional.

Segundo quem acompanha o Inter de perto, esse jogo acabou sendo determinante para o que aconteceria daí para frente com o Inter no campeonato. Foi ele o ponto de partida para uma sequência de dez jogos invicta que gerou a arrancada do time na tabela para galgar hoje a vice-liderança com méritos.

"O Gre-Nal do 0 a 0 foi determinante pro Inter. Não só tecnicamente, taticamente, mas animicamente. Porque o Inter veio de uma eliminação no Gaúcho, aí o Grêmio era campeão estadual, campeão da Libertadores, da Recopa, e o Inter vinha de um ano que tinha disputado a Série B. Então era tudo dando certo para o Grêmio e tudo dando muito errado pro Inter. Aquele 0 a 0 levantou o ânimo do Inter mais do que qualquer outra esfera", opinou a jornalista da Rádio Gaúcha, Renata de Medeiros.

(Foto: Ricardo Duarte/Internacional)

"Aquele jogo foi essencial para virar aquelas páginas negativas de insucessos e a partir dali começar um novo trabalho, principalmente de respaldo ao Odair Hellmann. Ali acho que rolou a confiança que ele precisava para manter a convicção de trabalho que ele tinha para o resto da temporada."

A expectativa para esse Gre-Nal era a pior possível, e o receio maior era de uma nova goleada, como a de 3 a 0 do Gaúcho. No entanto, o Inter se postou muito bem em campo, marcando pressão na saída de bola do Grêmio e não deixando o rival entrar na área com facilidade. Os jogadores gremistas saíram de campo dizendo que o Colorado havia "se portado como time pequeno". Mas o Inter sabia que aquele jogo era capaz de colocá-lo em busca de algo realmente grande, como a liderança do campeonato.

Foi aí que o time de Odair Hellmann engatou uma sequência impressionante: seis vitórias e quatro empates, e pulou da 13ª colocação para figurar entre os quatro primeiros da tabela.

A reconstrução do time no meio da temporada também teve a participação de outro Gre-Nal – aquele que gerou eliminação, mas resgatou confiança.

"Apesar da direção colorada não falar abertamente, Odair Hellmann estava com o cargo a perigo depois dos 3 a 0 para o Grêmio no Gaúcho. A demissão do treinador foi cogitada e condicionada à volta, no Beira-Rio. Os 2×0 do Inter em casa – ainda que classificando o Grêmio – parece ter sido um divisor de águas", afirmou Amanda Munhoz, do jornal Zero Hora.

"A partir disso, além da autoestima e os retornos de Damião e Pottker, Odair conseguiu o encaixe do time, a começar pela defesa. Desde então, o sistema defensivo do Inter é um dos menos vazados da temporada. A saída de bola qualificada começa lá na zaga, com Cuesta aparecendo frequentemente em passes precisos para lançamentos para o ataque", avaliou a jornalista.

A manutenção de Odair Hellmann no comando foi o que deu fôlego para o Inter seguir o ritmo de trabalho em busca dos bons resultados, que não demoraram a vir no Brasileiro. O resgate da confiança com aqueles dois Gre-Nais deram o ânimo que o time precisava para poder ir mais longo no Brasileiro – e a participação de três jogadores nisso têm sido essencial dentro de campo.

Nico López tem assumido protagonismo nesse Inter (Foto: Reprodução Twitter)

Dourado, Edenílson e Patrick. Esse é o trio que tem feito a diferença no organizado time do Internacional.

"O esquema do tripé no meio-campo, com Dourado, Edenilson e Patrick, dá a segurança e qualificação da bola ir ao ataque. Iago na esquerda, um lateral bem ofensivo, acaba se consolidando na posição por conta da efetividade de Moledo e Cuesta na defesa", observou Amanda.

E a novidade do ano foi o destaque de Nico López no ataque. O jogador estava no clube desde 2016, mas ainda não havia se firmado entre os titulares. Neste ano, com D'Alessandro machucado, ele virou a opção de Odair e passou a ter excelentes atuações. O segredo, conforme contam as jornalistas que acompanham o Inter, foi também uma conversa com o executivo de futebol, Rodrigo Caetano.

"Ele revelou numa coletiva que uma conversa com Rodrigo Caetano foi muito importante para que ele rendesse o que o torcedor sempre esperou que ele entregasse ao time. O executivo de futebol veio com mentalidade diferente e implementou isso no time", ressaltou Renata.

"A individualidade do Nico López passou a sobressair depois que o uruguaio passou por um trabalho em conjunto da comissão e direção, o que explica o seu bom momento", disse Amanda.

Camilo comemora gol que colocou Inter na liderança temporária do campeonato no fim de semana (Foto: Ricardo Duarte/Internacional)

As duas ressaltam o trabalho de Rodrigo Caetano na busca por reforços importantes para o Inter – como o lateral Zeca e o atacante Guerrero, recém-chegado. Com isso, o trabalho de reconstrução do clube que caiu para a segunda divisão em 2016 e ainda teve um ano difícil em 2017, com troca de direção e de praticamente um time inteiro, se consolida em 2018 com essa campanha impressionante em busca do título da Série A, que não vem desde 1979. Nenhuma equipe vinda da Série B conseguiu resultados tão expressivos logo no seu primeiro ano de volta à elite.

No entanto, no âmbito do Inter, todo mundo evita falar sobre qualquer conquista neste momento.

"Acho que a vaga da Libertadores já tá mais encaminhada. Era um sonho distante pro torcedor no início do ano, era quase utopia, e agora virou realidade", disse Renata de Medeiros.

"Acho que ainda é cedo para pensar em título, ainda por cima quando se vê o São Paulo na frente, com apenas uma competição no ano a disputar. Claramente, tem chance a título. Mas precisa manter a regularidade do primeiro turno. A chegada de Guerrero, se encaixar no esquema do Inter, pode facilitar a campanha do tetra", finalizou.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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