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Marta, 14ª vez no prêmio da Fifa: 'Ousadia é a mesma da menina de 17 anos'

Renata Mendonça

07/08/2018 11h09

Marta, a maior artilheira do Brasil (Foto: Divulgação/CBF)

Desde que surgiu no futebol, Marta chamou a atenção do mundo todo pela sua habilidade no drible, velocidade no ataque e ousadia para surpreender sempre as adversárias. Foi isso que a fez virar profissional ainda aos 14 anos de idade, disputar sua primeira Copa do Mundo aos 17 e logo já ser indicada pela primeira vez ao prêmio de melhor jogadora do mundo da Fifa.

Hoje, aos 32 anos, ela chega a sua 14ª indicação. Somente uma vez ela ficou fora da lista das 10 melhores do mundo – e por cinco vezes consecutivas, esse prêmio foi conquistado pela brasileira. O que mudou de lá até aqui? Pouca coisa, conforme ela disse às dibradoras.

"É lógico que a gente muda depois de tantos anos no futebol. Mas não a essência, o jeito de jogar, os objetivos e desafios são os mesmos daquela garotinha que tinha 17 anos na primeira vez que foi indicada até agora. A vontade de querer estar sempre mostrando seu melhor, a ousadia de partir para cima é a mesma", afirmou.

Apesar da campanha ruim da seleção brasileira no Torneio das Nações na semana passada, Marta foi mais uma vez um dos destaques, e mostrou que seu fôlego está em dia – não foram raras as vezes em que ela se multiplicou em campo, aparecendo na área do Brasil para defender e logo reaparecendo no campo de ataque para fazer o que sabe melhor. Na partida de estreia contra a Austrália, foi da camisa 10 toda a jogada do gol da seleção (que acabou derrotada por 3 a 1), e contra o Japão, Marta deixou o dela na vitória por 2 a 1. A campanha do Brasil terminou com a goleada para os Estados Unidos por 4 a 1 e, ainda assim, a craque brasileira se mostrava incansável dentro de campo.

Agora, o próximo desafio – para além dos amistosos – será a Copa do Mundo de 2019, na França. Pela 5ª vez, ela vestirá a camisa amarela em um Mundial com o sonho de, quem sabe, conseguir o título. Mas pela evolução das equipes, ela sabe que essa não será uma tarefa fácil.

"A evolução é nítida em todos os sentidos. Fisicamente, tecnicamente, taticamente. Mas acho que hoje em dia as atletas estão entendendo melhor a questão tática. Hoje em dia está um pouco mais acirrado a questão de apontar uma ou outra (favorita). Antigamente era sempre EUA ou Alemanha, hoje eu coloco algumas outras seleções que têm crescido muito e estão mostrando um potencial. A gente se coloca também entre elas porque a gente vai sem dúvida fazer o possível e o impossível para estar ali", finalizou.

Foto: Divulgação Fifa

A conversa com a melhor de todos os tempos aconteceu um dia antes da goleada para os Estados Unidos no Torneio das Nações. Leia a entrevista completa:

~dibradoras: Você foi indicada pela 14ª vez ao prêmio da Fifa. O que acha que isso representa para as mulheres e para o futebol feminino?

Marta: A gente procura sempre dar continuidade, é um trabalho que eu já faço há muitos anos. Tem temporadas que a gente vai bem, tem outras que não, mas o objetivo é sempre estar no topo, entre as melhores. Isso representa sem dúvida algo muito motivacional. Assim espero que as pessoas vejam isso como uma motivação para seguir em busca dos seus objetivos.

~dibradoras: Nos últimos 15 anos, você só ficou fora dessa lista uma vez. E a primeira vez que apareceu nela você tinha apenas 17 anos. O que mudou no seu estilo de jogo desde então? No que a Marta de hoje, com 32 anos, é diferente daquela de 17?

Marta: É lógico que a gente muda depois de tantos anos no futebol. Mas não a essência, o jeito de jogar, os objetivos e desafios são os mesmos daquela garotinha que tinha 17 anos na primeira vez que foi indicada até agora. Mas acho que o diferencial é que hoje em dia talvez a gente pense um pouco mais, com mais experiência, nas jogadas. Nem sempre dá para ir lá no fundo todas as vezes que a gente recebe uma bola, já tem a dificuldade maior pelos anos que já passaram. Mas a vontade de querer estar sempre mostrando seu melhor, a ousadia de partir para cima é a mesma. Talvez um pouco mais de experiência agora por tantos anos dentro do futebol.

Marta disputará pela 5ª vez a Copa do Mundo em 2019

~dibradoras: O futebol feminino tem evoluído muito nos últimos anos. O que você mais percebe que mudou dentro de campo nas características (táticas e técnicas) das equipes desde que vc começou a jogar até aqui?

Marta: Eu acredito que a evolução é nítida em todos os sentidos. Fisicamente, tecnicamente, taticamente. Mas acho que hoje em dia as atletas estão entendendo melhor a questão tática e as outras coisas complementam, mas destacaria a questão tática. A individualidade também aparece um pouco mais, a ousadia está em uma constante no futebol feminino, não é mais algo só das brasileiras, em todas as outras equipes a gente também vê uma evolução nisso.

~dibradoras: No ano que vem, ao mesmo tempo que a seleção feminina disputará a Copa do Mundo, a masculina disputará a copa América aqui no Brasil. Como você vê essa "competição" que muitas pessoas criam entre a seleção feminina e a masculina (usando os feitos de uma pra diminuir a outra, por exemplo) e como seria possível evitar isso em 2019 num momento em que ambas deveriam ter atenção?

Marta: Acho que essa competitividade de comparações com seleção feminina e masculina fica mais da parte dos fãs, do público. Acho que acima de tudo, nós brasileiros temos que ter orgulho pelas nossas seleções e torcer tanto para a feminina, quanto para a masculina, para que a gente possa conquistar os títulos e o destaque. Não deveria existir esse tipo de comparação porque todos nós somos brasileiros e a gente tem que torcer para os brasileiros de modo geral.

Marta foi eleita 5 vezes melhor jogadora de futebol do mundo entre 2006 e 2010 (Foto: Reprodução)

~dibradoras: Quais seleções vc aponta como favoritas à Copa do ano que vem?

Marta: Hoje em dia está um pouco mais acirrado a questão de apontar uma ou outra. Antigamente era sempre Estados Unidos ou Alemanha, hoje eu coloco algumas outras seleções que têm crescido muito e estão mostrando um potencial. A própria França que vai jogar em casa, a Austrália que tem uma equipe muito forte, a Inglaterra, enfim. Canadá e Suécia também. A gente se coloca também entre elas porque a gente vai sem dúvida fazer o possível e o impossível para estar ali.

~dibradoras: Como você avalia o Torneio das Nações (que está na segunda edição) e a participação brasileira?

Marta: Esse torneio nos Estados Unidos é uma oportunidade para a gente poder testar outras atletas, atletas que nunca tinham jogado uma partida contra Estados Unidos, Austrália, e hoje a gente está tendo oportunidade de ver essas meninas aqui, de avaliar, por ser um torneio fora da data Fifa, acho que a seleção tem essa oportunidade de trazer outras atletas. Dá oportunidade a elas, o Vadão tem essa opção de poder testar essas novas meninas para que a gente possa já chegar ano que vem com grupo bem forte e trabalhar em cima disso para chegar bem no Mundial.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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