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Perdido em campo, Brasil encerra torneio amistoso goleado pelos EUA

Renata Mendonça

03/08/2018 00h29

AFP PHOTO / JIM YOUNG

Mesmo já sem chances de conquistar o título do Torneio das Nações, a seleção feminina entrou em campo nesta quinta-feira para um teste importante na preparação para a Copa do Mundo do ano que vem enfrentando um de seus maiores algozes: os Estados Unidos. E com um desempenho muito ruim, a equipe brasileira acabou derrotada por 4 a 1 de virada para as americanas, que jogavam em casa e fizeram todos os gols do jogo – o único tento brasileiro foi contra, marcado pela zagueira Davidson. Foram elas que terminaram campeãs, superando a Austrália pelo saldo.

De novo com mudanças no time, desta vez o Brasil começou com a goleira corintiana Lelê em campo, que teve um excelente desempenho apesar da goleada – não fosse ela, o placar seria ainda mais elástico para os Estados Unidos. Tayla foi a novidade na zaga, enquanto Adriana jogou pelo meio ao lado de Thaísa, com Marta caindo pela direita e Debinha pela esquerda.

O jogo começou com as americanas dando trabalho à goleira brasileira avançando sempre pelo lado esquerdo – o direito da nossa defesa – e chegando com facilidade ao gol. Logo no início, após cruzamento, Ertz apareceu sozinha na área para finalizar, e Lelê tirou em cima da linha.

Sem acertar a transição entre defesa e ataque, o Brasil apostava muito em passes longos ou chutões para frente que, na maioria das vezes, acabavam com a bola dominada pelas americanas. Mas em um contra-ataque com a bola no chão, Bia conseguiu avançar pelo lado esquerdo e, quando foi cruzar para Debinha no meio, encontrou a zagueira americana Davidson, que acabou desviando para o fundo da rede. O Brasil abria o placar na sorte aos 16 minutos, quando ainda tentava atacar.

As americanas mantiveram seu estilo de jogo, apostando principalmente em bolas alçadas na área e encontrando liberdade para isso. E com tantas e tantas tentativas, o empate parecia inevitável – e veio aos 33 minutos, num cruzamento para Rose Lavelle chutar livre dentro da área, com categoria, no cantinho, sem chances para Lelê.

Pouco tempo depois, ainda houve um lance magnífico de Rapinoe driblando todo mundo dentro da área para deixar o dela – mas a arbitragem anulou.

O Brasil aceitava a pressão americana sem reagir. Não havia qualquer conexão entre defesa e ataque, e a marcação deixava múltiplos espaços para as americanas criarem.

No segundo tempo, não demorou muito para os Estados Unidos conseguirem a virada. Com menos de 10 minutos, Tobin Heath tirou a defesa brasileira para dançar e serviu Ertz, que apareceu tranquila para empurrar para as redes. O tempo todo era assim, aliás: várias jogadoras dos Estados Unidos aparecendo livres em todos os espaços da defesa do Brasil.

 

O terceiro viria em seguida. Numa excelente jogada de Morgan pelo lado direito, Heath recebeu sozinha para deixar o dela aos 16 minutos. O Brasil estava completamente perdido em campo, recuado e sem esboçar qualquer reação.

Foi então que veio o quarto gol das americanas em mais um erro descomunal da defesa brasileira. Cobrança de falta de Rapinoe e todas acompanharam a bola com os olhos, enquanto Morgan veio de trás completamente livre para marcar. Um show das americanas, que a seleção brasileira se contentava em assistir.

 

O jogo terminou assim e poderia até ter sido pior. No segundo tempo, o Brasil mal chutou a gol, não construiu jogadas e "aceitou" a derrota, permanecendo a maior parte do tempo em seu campo de defesa. É verdade que a seleção estava com desfalques – as atacantes Cristiane e Andressa Alves, além da zagueira Rafaelle e da lateral Fabi não foram liberadas pelos seus clubes para o torneio. Mas mesmo sem essas jogadoras, a atuação do Brasil ficou muito aquém do que se esperava.

Foram três jogos contra seleções de altíssimo nível no Torneio das Nações, e o Brasil sai dele com duas derrotas e apenas uma vitória. Foram oito gols tomados (três da Austrália, um do Japão e quatro dos Estados Unidos) e quatro gols marcados. E um desempenho que ficou marcado pela desorganização tática – uma defesa que deixava inúmeros espaços, e um ataque que não conseguiu encaixar por conta da dificuldade de transição das jogadas no meio-campo.

É só um torneio amistoso, é verdade – ainda que esse mesmo torneio tenha alimentado a justificativa da demissão de Emily Lima no ano passado, quando ela mal havia completado 10 meses no comando e sem nenhuma competição oficial disputada -, mas é preciso ligar o alerta da seleção brasileira. Falta menos de um ano para a Copa do Mundo, onde o Brasil enfrentará adversários muito mais difíceis do que aqueles que goleou na Copa América, então é preciso preparar o time da melhor maneira possível.

Equipes como Austrália e Estados Unidos são difíceis de enfrentar pelos poucos espaços que deixam dentro de campo e por serem muito eficientes no seu modo de jogar. O Brasil sucumbiu diante das duas, sem sequer oferecer qualquer poder de reação. O problema maior nem foram os placares (3 a 1 e 4 a 1), mas a postura em campo. A desorganização do time de Vadão em campo chamou a atenção na quantidade de erros de marcação e de passes. Agora, é a hora de rever os erros e tentar consertá-los para não correr risco de que goleadas assim se repitam em torneios para valer, como a Copa do Mundo de 2019.

 

 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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