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Itália combate violência doméstica no futebol e dá exemplo ao Brasil

Roberta Nina

23/11/2018 14h41

(Foto: Juventus FC via Getty Images)

Neste final de semana, todos os jogos da Serie A – primeira divisão italiana – mostrarão seu apoio ao Dia Internacional do Combate à Violência Contra a Mulher, que é celebrado no dia 25 de novembro. E para fortalecer a luta, os jogadores do Calcio entrarão em campo com os rostos pintados de vermelho e vestindo camisas da campanha

Além disso, durante as partidas de sábado à segunda-feira, os telões eletrônicos dos estádios irão transmitir o vídeo da ação. Os atletas também foram encorajados a postar fotos nas redes sociais em apoio à campanha usando a hashtag #unrossoallaviolenza (um cartão vermelho para a violência).

A iniciativa – que já foi realizada no ano passado – acontece em parceria com a WeWorld Onlus, uma organização não governamental italiana que está há 20 anos defendendo os direitos de mulheres e crianças do mundo. "Esta campanha, juntamente com a Serie A, nos ajuda a fortalecer nossa voz em oposição à violência contra as mulheres, porque a conscientização e a prevenção são as principais ferramentas que temos para combater esse fenômeno", disse o presidente da WeWorld Onlus, Marco Chiesara ao Diário AS. 

O apoio por parte dos jogadores foi imediato. Nomes que fizeram história pela seleção italiana como Franco Baresi, Alessandro Costacurta e Francesco Toldo levantaram a bandeira da campanha. "Violência é um problema cultural. Para resolver esse problema, nossos filhos precisam aprender os valores certos e precisam mostrar respeito ", disse o ex-goleiro Toldo.

Regina Baresi – capitã da equipe feminina da Inter de Milão e sobrinha dos exs-jogadores Franco e Beppe Baresi – também é uma das porta-vozes da iniciativa. Em seu Instagram, a jogadora divulgou uma foto ao lado do tio Beppe reforçando a importância do movimento.

 

Visualizar esta foto no Instagram.

 

Io e @beppebaresi ci uniamo a @weworld.onlus e @seriea per dare #unrossoallaviolenza sulle donne. 🌹

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Campanhas similares no Brasil

Por aqui, diferente do que acontece na Itália, as campanhas de conscientização contra a violência doméstica são realizadas pelos clubes – e não pela CBF, que organiza o campeonato nacional.

Geralmente, os times do Brasil usam o Dia Internacional da Mulher para promover o tema. Em 2017, a campanha #VamosMudarOsNumeros realizada pelo Cruzeiro em parceria com a ONG AzMina, conquistou o Leão de Bronze na categoria "Media" (meios de comunicações) no Festival Internacional de Criatividade de Cannes, considerado um dos principais eventos de publicidade do mundo.

(Foto: Thiago Parmalat/Light Press)

Os números das camisas usadas pelos jogadores durante a partida contra o Murici-AL no dia 08 de março do ano passado, estampavam as estatísticas sobre a realidade das mulheres no Brasil. "A cada 2h uma é morta", "A cada 10 jovens, 8 sofreram assédio", "A cada 11 minutos, um estupro", "Apenas 9 em cada 100 deputados", "Salários 30% menores" foram alguns problemas destacados.

Este ano (também no Dia Internacional da Mulher), durante o clássico mineiro entre Atlético-MG e Cruzeiro, o Galo criou a campanha #NaoSeCale e, com a presença ilustre de Maria da Penha – responsável por batizar a lei que pune os agressores – apoiou a campanha de combate e denúncia contra a violência doméstica.

O Corinthians desenvolveu a campanha #RespeitaAsMina que incluiu diversas ações como frases estampadas na camisa, distribuição de tatuagens temporárias para a torcida, destacando a mensagem "Não é Não". Os times masculinos e femininos entraram em campo juntos reforçando a luta contra o assédio e a violência contra a mulher.

No Brasil, as vítimas de violência doméstica crescem a cada ano. Segundo dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, só em 2017 foram registrados 164 casos de estupro realizados POR DIA, totalizando mais 60 mil no ano.

Além disso, cerca de 193 mil mulheres registraram queixa por violência doméstica no ano passado. Isso totaliza 530 mulheres que acionam a Lei Maria da Penha por dia, ou 22 por hora.

A conscientização por parte da população em torno deste tema deve ser constante, não somente em datas comemorativas. No futebol – esporte que atinge todas as faixas etárias e gêneros – o combate à violência contra a mulher tem que ser diário e nos pequenos gestos do dia-a-dia.

Assim como a CBF incorporou a luta contra o racismo em seus campeonatos, as mulheres não podem mais serem ignoradas. Grande parte da população brasileira é formada por mulheres e o número de torcedoras que acompanham seus times de futebol nos estádios do país cresce a cada ano. O #RespeitaAsMina tem que acontecer todo dia e em todo lugar!

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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