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Não dá mais para frear as mulheres no futebol, diz 1ª comentarista da Copa

Renata Mendonça

21/07/2018 14h56

Foto: Reprodução Instagram

Foram necessários quase 20 anos de trabalho para que Viviana Vila chegasse à Rússia como a primeira mulher da América Latina a comentar jogos de uma Copa do Mundo na televisão. Ela começou a cobrir futebol em 1999, tornou-se comentarista em 2004 e desde então trilhou seu caminho para que finalmente esse dia pudesse chegar – e chegou. Foram 13 jogos comentados por ela in loco neste Mundial pela Telemundo, uma rede de TV americana para o público hispânico. Uma conquista que demorou a chegar, ela admite, mas que de agora em diante não tem mais volta.

 

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"Os avanços foram muito lentos, mas estão acontecendo. Acho que não dá mais para frear isso. Acho que estamos evoluindo com relação a participação feminina na cobertura, os homens nos respeitam mais, passamos muito tempo tendo que nos provar, mas estamos evoluindo", disse a comentarista argentina em entrevista às dibradoras.

Desde 2004, quando ela começou a comentar jogos em uma rádio na Argentina, Vila passou muito tempo ouvindo dos homens que "mulher não entende nada de futebol". No entanto, durante a Copa da Rússia, não ouviu nada disso, muito pelo contrário. E vale ressaltar que, com os 1000 jogos que ela tem no currículo de comentarista, fica até chato para quem quiser contestá-la nesse sentido.

"Eu ouço sempre isso, que as mulheres nao entendem nada de futebol. Antes diziam mais, hoje eles evitam dizer, mas estou convencida de que os homens que pensam assim continuam pensando assim e hoje apenas se cuidam mais para não dizer isso em público, para não parecerem antiquados. Mas eles seguem pensando isso. Está cheio de homens que pensam que nós não entendemos nada de futebol e que, como não jogamos futebol, não temos direito de opinar. Esses são os comentários que eu ouço muito. Antes era mais agressivo, porque era mais massivo também, pelo menos o que diziam em voz alta", contou Vila.

"Mas ao longo da cobertura, não ouvi nada disso. Eles se cuidaram muito, acho (risos). A repercussão da minha participação foi extraordinária e isso me deixa muito feliz, porque eu também fui com todo meu conhecimento, estudo, e também com o desafio de cumprir essa missão. E a repercussão foi extraordinária. O mundo latino, os Estados Unidos, as mensagens que recebi deles nas redes e que a Telemundo recebeu foram extraordinárias. Estou muito feliz, grata e fascinada."

Quando começou a carreira no jornalismo esportivo em 1999, Villa diz que a realidade da mulher nessa área era ainda pior. Na Argentina, era raríssimo ela encontrar outras companheiras na cobertura e, por um tempo, sua luta por espaço no esporte foi sozinha. Hoje, porém, ela enxerga uma força inigualável nas mulheres unidas por essa causa e ressalta que, nesse sentido, o Mundial da Rússia foi um marco.

Equipe da Telemundo na Rússia (Foto: Reprodução Instagram)

Primeiro porque pela primeira vez, entre as dezenas de homens com microfones na mão na tribuna de imprensa dos estádios, havia duas mulheres na mesma posição. A narradora britânica Vicky Sparks, e a própria Viviana Vila como comentarista. 

"Comentar é opinar. E isso é o que os homens nos censuram de fazer. Mas por sorte apareceu a Telemundo na minha vida, e eles foram maravilhosos no trato comigo, no respeito, profissionalismo. E na abertura que eu tive lá. Então fico muito grata e feliz por isso. Isso representa algo muito grande, representa anos de luta minha. Muitas vezes uma luta que eu fiz sozinha, mas por sorte ao longo dos anos mais mulheres se juntaram nesse desafio", afirmo Vila. 

 

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"Quando comecei, eu tive que aguentar muita coisa sozinha e não havia esse movimento de mulheres nos apoiando. Isso representa a coroação de anos de muito esforço, muito trabalho. Estou muito feliz e sei que o que virá daqui em diante vai ser muito importante não só para mim como para todas as mulheres. Sei que há mulheres que narraram também e isso me parece extraordinário. A participação das mulheres foi muito positiva e está crescendo."

Viviana começou a analisar partidas em 2004 (Foto: Arquivo Pessoal)

Na Rússia, as mulheres representaram 14% da imprensa credenciada. Parece pouco, mas já foi um crescimento significativo comparado com o últimos Mundial, quando elas eram 10%.

Para Viviana Vila, esse número tende a aumentar ainda mais no Qatar, mesmo sendo um país ainda tão restrito com relação aos direitos das mulheres.

(Foto: Reprodução Instagram)

"Acho que o Qatar vai ser difícil também porque é uma cultura com muita desigualdade de gênero. Mas acredito que vão passar mais quatro anos e as pessoas vão aceitar cada vez mais a participação das mulheres. A luta é muito árdua e longa, mas posso dizer às mulheres que já há uma porta e uma janela aberta, então vamos em frente, sim, é possível, há um caminho cheio de espinhos, mas não se chega a glória sem isso", disse, antes de finalizar: "vamos mujeres, vamos por más!" 

 

 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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