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Após recordes de audiência em 2020, futebol feminino vira aposta para TVs

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04/01/2021 20h19

Foto: Rodrigo Coca / Agência Corinthians

Primeiro, a expectativa era de que 2020 fosse um ano de crescimento exponencial para o futebol feminino. Depois de um 2019 histórico, registrando recordes de audiência com a transmissão da Copa do Mundo feminina na Globo, e com uma Olimpíada em vista, a previsão era a mais otimista possível por um grande crescimento da visibilidade para as mulheres em campo.

Mas aí veio a pandemia de coronavírus que parou o mundo e as perspectivas ficaram bem mais baixas. Realizar um campeonato, diante dessas circunstâncias, já seria uma vitória. Mas não é que o ano terminou com novos recordes a serem comemorados? Com o Brasileiro feminino, a Band registrou números de audiência impressionantes para o horário "nobre" do domingo (entre 20h e 22h). Os picos foram de 5 pontos, segundo o colunista de TV do Uol Esporte, Gabriel Vaquer, uma audiência somente registrada anteriormente nesse horário pelo Pânico na TV.

Com os jogos sendo mostrados também nas redes sociais, o Twitter teve um público acompanhando o Brasileiro feminino de 2020 três vezes maior do que no ano anterior. Mais de 5 milhões de pessoas assistiram aos jogos em 2020, contra 1,5 milhão em 2019. O engajamento nas conversas sobre o campeonato também aumentou 40%.

Foto: Bruno Cantini / Agência Galo

Nos estaduais, foi a vez do Facebook mostrar o potencial da modalidade transmitindo todos os jogos do Paulista feminino com uma picos de dezenas de milhares de pessoas simultaneamente assistindo. Na reta final, as TVs entraram em cena, com a Cultura e o SporTV, que também obtiveram bons números nas finais.

O Gaúcho feminino teve o Gre-Nal decisivo transmitido pela RBS TV pela primeira vez, e a audiência triplicou o que geralmente registrava para o horário. Em Minas, a final entre Atlético-MG e Cruzeiro foi exibida em TV aberta e repercutiu bastante com as mulheres disputando um título pela primeira vez no Mineirão reformado.

Foto: Mariana Capra/Divulgação Inter

Além das competições nacionais, houve transmissão até mesmo do futebol feminino internacional. A ESPN exibiu as semifinais e final da Champions League das mulheres e viu os jogos virarem um dos assuntos mais comentados do Twitter. Na final do Brasileiro feminino, a repercussão foi equivalente, quando o canal ganhou os direitos de TV fechada e transmitiu os dois jogos entre Corinthians e Avaí Kindermann.

Mesmo sem os Jogos Olímpicos de Tóquio, o futebol feminino conseguiu mostrar seu potencial em 2020. Se antes, o que se via era um "boom" de muita gente interessada em acompanhar jogos durante grandes eventos, e o tema cair em esquecimento depois dele, desta vez foi diferente. Claro que o engajamento não é comparável ao de uma Copa do Mundo transmitida pela Globo (como a de 2019), mas a repercussão dela gerou mais interesse das mídias em darem visibilidade ao futebol das mulheres e, com mais jogos exibidos, mais gente passou a se interessar em acompanhá-los.

O resultado foi tão expressivo, que a modalidade virou aposta para muitos canais em 2021. Os direitos de transmissão do principal campeonato (o Brasileiro feminino) são da Band até 2022, mas segundo informações adiantadas por Gabriel Vaquer no UOL, a Globo está na briga para exibir jogos das mulheres aos domingos pela manhã.

A Band, inclusive, investiu em transmissões exclusivamente femininas no ano passado contratando pela primeira vez uma narradora – Isabelly Morais – e pretende manter o investimento no futebol das mulheres.

Equipe 100% feminina na TV Bandeirantes: Alline Calandrini, Milene Domingues e Isabelly Morais (Foto: Reprodução/Instagram)

Já a ESPN, assim como faz no masculino investindo no futebol internacional, quer fazer o mesmo com o feminino. Após a boa repercussão dos jogos exibidos em 2020, a Disney já mapeia outras competições para apostar suas fichas nas mulheres. Atualmente, a emissora já tem os direitos da Champions feminina, da Copa da Rainha e Supercopa feminina da Espanha, e da FA CUP.

"Teremos uma série A1 ainda mais forte tecnicamente do que foi em 2020, e estamos com uma expectativa muito grande para a definição dos clubes classificados para a série A2, partindo das competições estaduais de 2020. Com o calendário cheio, as atletas e os clubes têm a possibilidade de manter as atividades por um período maior e, assim, o nível técnico das competições crescem, o interesse do público, dos patrocinadores e entramos em um ciclo virtuoso. Sendo assim 2021 tem tudo para ser mais um grande ano para o Futebol Feminino Brasileiro", disse às dibradoras Aline Pellegrino, diretora de competições femininas da CBF.

Diante disso, o cenário de 2021 é novamente muito promissor para o futebol feminino. Com os Jogos de Tóquio programados para acontecer entre julho e agosto, a expectativa é que mais uma vez as partidas da seleção feminina registrem recordes de audiência – em 2016, dois jogos delas figuraram no top 10 das transmissões mais vistas dos Jogos do Rio. E o crescimento durante a Olimpíada deve respingar em mais visibilidade para os campeonatos locais.

Com mais espaço na mídia, o futebol feminino começa a atrair mais patrocinadores e investimentos. Não à toa, em 2020, o Campeonato Brasileiro ganhou dois patrocínios (Guaraná Antártica e Riachuelo). Caso a Globo entre na jogada para transmitir os jogos, o interesse das marcas deverá ser ainda maior.

É como sempre dissemos aqui. Não adianta dizer que "ninguém quer ver futebol feminino" se as pessoas nunca tiveram sequer a chance de querer, já que os jogos não eram exibidos. Com os campeonatos na TV, temos uma boa amostra de que há bastante gente interessada em assistir às mulheres em campo. E quem não gosta sempre terá a opção de mudar de canal.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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