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Filha de Pelé faz documentário sobre luta das jogadoras de futebol no mundo

Renata Mendonça

03/12/2019 04h00

Foto: Divulgação Global Goals Impact Games

A filha mais velha de Pelé lançará em 2020 um documentário sobre a história de luta das jogadoras de futebol ao redor do mundo. Kely Nascimento está produzindo um filme que tem como base a história de Laís Araújo, uma jovem brasileira que agora está nos Estados Unidos perseguindo o sonho de jogar bola, e o próprio "rei do futebol" é um dos produtores executivos da obra.

Se no Brasil, Pelé não é tão reconhecido por defender causas das minorias, a filha dele é ativista convicta pela igualdade de gênero e leva o pai junto para reforçar a importância dessa luta.

"Ele é um dos nossos produtores executivos. Eu disse que ele tem que apoiar, vamos ver se ele faz isso (risos)", respondeu ela quando perguntamos qual seria o papel de Pelé na divulgação do filme. Kely reforçou que seu pai é um homem de uma geração mais conservadora e que é preciso entender as dificuldades dele em se posicionar sobre algumas questões por conta disso. "Ele nasceu na década de 1940, as coisas hoje são bem diferentes do que eram naquela época. Ele tem alguns pensamentos do tipo 'o mundo é assim mesmo', mas sim, eu tenho sido bem clara com ele sobre a importância da participação dele para promover essa ideia e espero que vocês me ajudem a não deixá-lo escapar", brincou. 

Kely é embaixadora da "Global Goals World Cup" e, nos Estados Unidos, criou o projeto "Mulheres Guerreiras do Futebol", que inclui o documentário e uma campanha global em parceria com a ONU para reforçar a causa da igualdade de gênero no futebol. Conhecemos o trabalho dela durante nossa visita aos Estados Unidos para participar do programa do governo americano chamado "International Visitor Leadership Program" na área de empoderamento da mulher pelo Jornalismo Esportivo.

A ideia do filme veio bastante inspirada na história de Laís, uma garota da periferia de Salvador que sempre jogou futebol com os meninos e sonhava em ter uma oportunidade de vestir a camisa da seleção brasileira. Ela teve muitas portas fechadas ao longo da vida, mas conseguiu ser aprovada em um time universitário dos Estados Unidos, na Universidade da Flórida e é lá começou a construir sua carreira. Ela foi capitã da seleção sub-20 no Mundial de 2016 e, atualmente, está jogando na Austrália, uma das ligas que mais têm investido no futebol feminino.

A partir da história dela, o documentário viaja para Inglaterra, Itália, França e Tanzânia – além do Brasil – e vai retratando a realidade de luta das mulheres no futebol. Há também a participação de grandes nomes do futebol mundial, como Julie Foudy, campeã olímpica e mundial pelos Estados Unidos, Marta, seis vezes melhor do mundo, Billie Jean King, lendária jogadora de tênis, e também outros grandes nomes do futebol masculino, como o próprio Pelé e também Neymar.

"A paixão que elas têm pelo futebol não é muito diferente em cada um dos países. As dificuldades de uma menina que quer jogar futebol são parecidas também. Mas acho que a coisa mais legal é que a gente se surpreendeu muito com o sentimento que encontramos nessas meninas. Eu esperava encontrar muita raiva nelas e uma certa frustração pela realidade que elas vivem. E tudo o que encontramos foi gratidão. Em todos os lugares que passamos, encontramos muito esse sentimento de gratidão pela trajetória que elas construíram", afirmou Kely.

Laís Araújo, jogadora que saiu de Salvador para buscar uma carreira fora do Brasil, é a personagem principal do documentário (Foto: Divulgação)

Visitando instalações de clubes como Santos, Manchester City, PSG, Juventus e Orlando Pride, entre outros, o documentário trata sobre as barreiras que ainda existem para o futebol feminino e a diferença de tratamento com relação ao futebol masculino. Em muitos lugares, a estrutura de treinos para as mulheres era bastante precária.

"Falando do lado negativo, houve muitos lugares que nós vimos homens que trabalham na área de assessoria do clube com um nível alto de resistência ao futebol feminino, uma certa irritação até, uma atitude indignada de ter de lidar com um time feminino. Ainda hoje ter que ver isso é muito triste", contou a filha de Pelé.

"Por outro lado, há alguns caras que acabam tendo que cuidar do futebol feminino na assessoria porque foi o que sobrou pra eles. E alguns realmente abraçam a causa. Um deles até falou: 'com o time masculino é muito fácil, eles fazem propaganda para eles mesmos. Mas o time feminino não. Toda vez que eu consigo uma nota pra elas no jornal, eu quero brindar com champagne"'.

Kely Nascimento e a produtora executiva do filme, Susie DeLellis Petruccelli, saíram em busca de pessoas que aceitassem bancar o projeto e conseguiram a verba necessária. Agora, o objetivo é lançar o produto antes da Olimpíada de 2020 para aproveitar um momento em que se está falando muito sobre futebol feminino. A cineasta acredita no poder das redes sociais para ajudar na conscientização sobre a importância da igualdade de gênero também no esporte.

"Por muitos anos, foram muitas pessoas incríveis em lugares isolados do mundo lutando para que mulheres tivessem os mesmos direitos no futebol que os homens têm. O direito de conseguir construir uma carreira jogando o esporte que elas amam. É o momento de usar os recursos que temos para mostrar essas pessoas, uni-las e criar um movimento com elas", reforçou.

 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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