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Rapinoe reforça que não irá à Casa Branca: 'Não lutam pelo mesmo que nós'

Renata Mendonça

27/06/2019 13h34

Foto: Reuters

A capitã dos Estados Unidos esteve presente na coletiva de imprensa oficial dos Estados Unidos no dia que antecede a partida diante da França pelas quartas de final da Copa do Mundo feminina e, antes que começassem as perguntas, fez questão de abrir com um posicionamento a respeito da polêmica envolvendo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

+ Não é só o hino: a representatividade de Megan Rapinoe vai além do campo

"Saíram muitas notícias sobre isso recentemente. Eu mantenho o que eu disse sobre não ir à Casa Branca, com a exceção do palavrão. Minha mãe ficaria muito chateada com isso", afirmou a atleta. Nesta semana, um vídeo que ela gravou em uma entrevista em maio foi divulgado e, nele, a jogadora dizia que "não iria à m**** da Casa Branca" se os Estados Unidos conquistassem o título. Isso acaba sendo um costume comum por lá, dos times campeões visitarem a residência oficial do presidente.

"Acredito que eu reagi com muita paixão (naquela entrevista), considerando o tempo, o esforço e o orgulho que nós temos por estarmos nessa plataforma. E aqui nós tentamos usar essa plataforma da melhor maneira possível, para fazer um jogo melhor, quem sabe um mundo melhor também. Então eu não acho que eu gostaria de ir e incentivaria minhas companheiras a pensar muito antes de emprestar essa plataforma para uma administração que não luta pelas mesmas coisas que lutamos", finalizou ela, reforçando que não iria mais responder questões a esse respeito para que a entrevista pudesse ser focada somente no jogo.

Não é a primeira vez que Rapinoe tem um posicionamento forte a respeito da administração de Trump. A jogadora é uma ativista LGBT e há alguns anos não coloca a mão no peito na hora do hino, como é costume dos americanos, nem canta as estrofes por não se sentir representada pela administração do país.

Foto: Reuters

"Como uma americana gay, eu sei o que significa olhar para essa bandeira e não tê-la como símbolo de proteção à sua liberdade. É algo pequeno que eu poderia fazer e planejo continuar fazendo para tentar espalhar uma discussão importante sobre isso", disse ela alguns meses atrás.

Obviamente que sua postura levanta muitas polêmicas nos Estados Unidos e, tão logo sua declaração foi divulgada nas redes sociais nesta quinta-feira, muitos americanos já começaram a atacá-la por sua postura contra o governo de Trump. O ato de não cantar o hino também é considerado bastante desrespeitoso por lá e isso faz com que a jogadora não seja uma unanimidade na torcida.

É claro que Rapinoe não vai agradar todo mundo, justamente porque ela se posiciona. Diferentemente da postura da maioria dos atletas que conhecemos, que costumam fugir de polêmicas, responder sempre o que está no roteiro, aquele blá blá blá de sempre, "vamos em busca da vitória, conquistar os três pontos, fomos felizes em fazer o gol", etc, etc, a capitã americana se posiciona. Ela fala o que pensa, defende as minorias, faz campanhas LGBT e em favor das mulheres. É tão raro ver uma atleta se posicionar desse jeito, sem medo de sofrer uma punição por parte dos órgãos superiores, sabendo seu papel de líder e usando isso em benefício da sociedade. Rapinoe usa sua imagem pública para endereçar questões importantes e isso faz com que ela seja muito mais do que uma mera "craque" dentro de campo.

A jogadora descreve a si mesma como "um protesto ambulante" e encabeça um processo judicial da seleção americana contra a Federação de Futebol dos Estados Unidos (US Soccer) pleiteando direitos e condições iguais entre as jogadoras e jogadores que representam o país dentro de campo.

Rapinoe não se vê como apenas uma jogadora de futebol. Ela entende que seu papel em uma posição de destaque como essa que ocupa é também lançar luz a discussões importantes que ficam esquecidas, como essas sobre racismo, homofobia, machismo. E para ela, emprestar o prestígio da seleção americana tricampeã mundial – podendo conquistar o tetra neste ano – para um presidente que frequentemente faz declarações racistas, homofóbicas e machistas não seria correto, nem justo. Provavelmente a maioria dos atletas do mundo não teriam a coragem que ela teve de manter suas palavras contra o presidente do país mais poderoso do mundo diante de uma coletiva de imprensa com mais de 100 jornalistas dispostos a repercutir a polêmica. Megan Rapinoe teve. Uma mulher que merece ser admirada também por isso.

 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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