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Com Cristiane e Andressa, Itaú investe em campanha feminina para o futebol

Roberta Nina

05/06/2019 12h46

Frame da campanha #EuTorçoPorTodas com Cristiane e Andressa Alves para o Itaú (Foto: Divulgação)

Era uma terça-feira comum, sem nenhum jogo marcado para acontecer no Estádio do Pacaembu em São Paulo. Mas dentro das instalações do local, dois grandes nomes do ataque da seleção brasileira feminina se preparavam para estrelar uma campanha publicitária às vésperas do embarque para a concentração do time em Portugal.

Cristiane Rozeira chegou mais rápido do que Andressa Alves, que desembarcou no Brasil dias depois de disputar a final da Champions League pelo Barcelona contra o Lyon. Do jeito que chegou no Aeroporto de Guarulhos, a atacante se dirigiu ao Pacaembu: cansada, com sono, mas preparada para estrelar o filme da campanha #EuTorçoPorTodas, que tem como objetivo convidar o público a buscar informações sobre as jogadoras e refletir sobre a importância de conhecer e torcer por todas as nossas seleções de futebol.

"Esse apoio é super importante. Estamos em 2019, já passou da hora, né?! Estou muito feliz pelas campanhas que as meninas vêm participando tanto no Brasil como na Europa. Essa Copa do Mundo vai ser histórica e também a mais difícil de ganhar", revelou Andressa Alves ao blog no dia da gravação. "A gente fica feliz de ver as marcas quererem fazer comerciais com a gente, era tudo que sempre pedimos. Elas fazem com o masculino e queríamos que fizessem conosco também, estou muito feliz", concluiu.

O filme foi criado pela agência Mutato e tem como gancho a falta de visibilidade sofrida pelas jogadoras. A partir de uma narração sobre a busca por reconhecimento e valorização, são exibidos detalhes do rosto de duas mulheres – sem que se mostre, a princípio, suas identidades. Andressa e Cristiane são finalmente reveladas quando vestem a camisa da Seleção. Ao final, as atacantes aparecem se preparando para uma partida e repetindo mensagens que incentivam o público a conhecer mais de perto suas conquistas.

As jogadoras em ação no Pacaembu (Foto: Divulgação)

Um detalhe muito bacana da produção do filme é que ele foi pensado e executado por mulheres, como Nathália Capistrano do Amaral, Creative Lead da Mutato e Luiza Villaça, Diretora de Cena da Produtora Cine. Era sob o comando delas que a equipe de cinegrafistas e demais profissionais trabalharam por mais de dez horas para que a peça publicitária ficasse pronta. 

"Já tinha trabalhado em algumas campanhas e concorrências dentro do universo de esportes, mas ainda não tinha colocado nenhuma no mundo, infelizmente! Ainda mais um filme que tivesse esse recorte, falando sobre mulheres no futebol e com atletas que merecem tanto essa visibilidade estrelando. Essa campanha foi pensada por uma equipe majoritariamente feminina e priorizamos que o filme também fosse dirigido por uma mulher para conseguir levar para as cenas toda essa mensagem de protagonismo que o futebol feminino está carregando", afirmou Nathalia.

Cristiane durante as filmagens em São Paulo com a diretora Lu Villaça (Foto: dibradoras)

Luiza também não tinha conseguido trabalhar em campanhas onde mulheres eram protagonistas no contexto esportivo. "Eu gosto de usar a comunicação para falar de assuntos relevantes como a causa feminina. A publicidade tem um poder muito grande de disseminar ideias e causas e há tempos eu tentava emplacar um projeto como esse. Quando apareceu esse roteiro de Itaú eu fiquei doida para fazer de uma forma poderosa e mostrar o tamanho dessas gigantes", afirmou em exclusividade ao blog.

Juliana Cury, superintendente de Marketing do Itaú – que patrocina as equipes masculina, feminina e de base da seleção brasileira de futebol desde 2008 – afirmou que fazer um filme contemplando diretamente o futebol feminino era um desejo da empresa desde 2017, quando foi lançado o filme "Sonhos", que teve como narrativa base a paixão de uma garotinha pelo futebol.

Depois disso, a empresa se dedicou a fazer um material à altura, contemplando as particularidades da modalidade e entenderam que seria necessário realizar uma pesquisa com as pessoas envolvidas no assunto.

Com o apoio de consultorias da Studio Ideias, que realizou um projeto em parceria com a consultoria 65/10 – especializada em assuntos do gênero feminino, a pesquisa para falar do assunto começou. "Falamos com atletas, jornalistas do universo feminino, mulheres que jogam por hobby e torcedoras, da qual surgiram diversos insights", contou Juliana que também frisou que o projeto foi construído com foco em dar centralidade a vozes femininas.

"Foi liderado por mulheres do Itaú, com pesquisa focada em mulheres, e todas as etapas de aprovação foram realizadas por mulheres. Não faria sentido na hora da filmagem não termos uma mulher na direção. Ficamos muito felizes com o olhar que a diretora Lu Villaça deu para o filme – sua vivência, além de ser importante para o conteúdo, deixou as atletas mais à vontade e próximas da equipe durante a gravação", concluiu.

"É mais fácil bater um pênalti."

Essa foi uma das frases ditas por Cristiane durante as inúmeras repetições de cenas que precisou fazer madrugada a dentro. Como tudo aconteceu no Pacaembu, usando a estrutura de vestiário e gramado, as atletas estavam imersas em um ambiente que conhecem bem. E isso ajuda bastante na hora de se soltarem e fazerem o que não estão acostumadas.

"Eu entendo que estar em frente as câmeras não é nada fácil. E, infelizmente, elas não estão acostumadas a fazer campanhas publicitárias – o que é um péssimo sintoma, uma vez que os jogadores de futebol masculino são garotos propaganda de inúmeras marcas", observou Luiza.

Cristiane durante as filmagens do filme #EuTorçoPorTodas (Foto: dibradoras)

Apesar de cansativa, a campanha foi muito especial para todos que se envolveram na ação. "Tudo pareceu conspirar para que a campanha realmente acontecesse. O estádio tinha uma única data disponível que era exatamente quando as duas jogadoras estariam na cidade, antes que viajassem. E até a lua cheia apareceu no céu das filmagens e acabou entrando até na montagem final", recordou Nathalia.

"O roteiro fez muito sentido para mim desde quando chegou. Eu sabia que eu queria falar sobre aquilo. Quando as jogadoras chegaram no set quis ter uma conversa bem informal para perguntar também o quanto fazia de sentido para elas. E o retorno que tive delas me deixou ainda com mais certeza da mensagem. Estávamos tratando de uma verdade latente para elas", pontuou a diretora Luiza.

Visibilidade também pós-Copa

Às vésperas de uma Copa do Mundo ou de uma Olimpíada, é comum que haja uma visibilidade maior para a causa do futebol feminino. Mas a onda sempre bate tardia, quase com o jogo começando e depois que acaba o campeonato, todo o discurso se dissipa, isso é um fato.

Andressa Alves na campanha do Itaú (Foto: Divulgação)

Para além dos grandes eventos, Fernanda Guimarães, VP de Criação da Mutato, destaca o grande momento da modalidade no país como um impulsionador da mudança de olhar para o futebol de mulheres. "Acreditamos que 2019 será um marco na maneira como olhamos para futebol feminino, saindo do papel de coadjuvante e se consolidando como assunto central. E para que esse protagonismo seja legítimo, é importante que se exponha a ferida dessa longa trajetória de luta por reconhecimento".

Cristiane na campanha do Itaú (Foto: Divulgação)

Além de campanhas, a empresa também apoia projetos de iniciação esportiva que ensinam futebol a crianças e adolescentes no país – todos eles com ações para meninas. Também estão desde 2018 trabalhando com o Museu do Futebol na exposição "CONTRA-ATAQUE! As Mulheres do Futebol", que fica em cartaz até 20 de outubro e tem o Itaú como principal patrocinador.

"O futebol como esporte é uma paixão nacional e isso é incontestável. Este ano, com o Mundial Feminino, acreditamos ser essencial potencializar a comunicação em torno da Seleção Feminina, dando espaço para que essas mulheres sejam vistas e reconhecidas como as verdadeiras craques que são. É uma sequência da narrativa já iniciada anteriormente, que continuará a ser trabalhada no futuro", reforçou Juliana.

Frame da campanha do Itaú com Andressa Alves (Foto: Divulgação)

A diretora Lu Villaça ressaltou a existência de uma barreira de gênero que impede que alcancem visibilidade. "O esporte – especialmente o futebol, no Brasil – é um espelho e um influenciador da sociedade. O fato do futebol feminino ter ainda que lutar tanto reflete a desigualdade do espaço para a mulher em tudo e, ao mesmo tempo, ao ganhar visibilidade, essas mulheres incríveis e grande atletas podem ajudar a educar no caminho para essa sociedade onde a mulher é reconhecida, aceita e respeitada. Eu acredito demais no poder educador do esporte, e acredito muito no futebol feminino brasileiro como mensageiro, como transformador."

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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