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Em constante evolução, Inglaterra chega como favorita na Copa da França

Roberta Nina

31/05/2019 11h57

Campeãs da She Believes Cup (Foto: © Getty Images)

Terceira melhor seleção do mundo segundo o Ranking da Fifa, a Inglaterra disputará em 2019 sua quinta participação em Mundiais. Na última edição as inglesas surpreenderam e só não foram finalistas da Copa no Canadá por circunstâncias do jogo: um gol contra nos acréscimos da partida contra o Japão acabou com o sonho das Lionesses que terminaram a competição com uma medalha de bronze.

Mas agora, quatro anos depois, o English Team comandado por Phil Neville chega como uma das grandes favoritas ao título, embaladas por torcedores de seu país – entre eles, a Família Real Britânica – e com uma significativa cobertura da imprensa local.

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Da proibição ao crescimento

Assim como aconteceu no Brasil, as inglesas também sofreram com a proibição da prática esportiva. Em 1969, fundaram uma associação para divulgar a modalidade com o objetivo de pressionar o fim do veto e organizar uma seleção. Deu certo, mas a proibição só caiu dois anos depois, em 1971, 50 anos após ter sido estabelecida.

Falando em Copas do Mundo, a Inglaterra nunca havia vencido um único jogo eliminatório em todas as três Copas que participou – 1995, 2007 e 2011 (nas outras, não conseguiu nem se classificar para a disputa). Ela até passava da fase de grupos, mas as quartas eram sempre fatais.

Em 2015, as britânicas não estavam em uma chave fácil. Ao lado de França, Colômbia e México seria um desafio e tanto chegar às oitavas-de-final, mas elas conseguiram. Perderam da habilidosa França na estreia, mas venceram México e Colômbia e depois derrubaram a forte Noruega em um jogo emocionante de virada por 2 a 1. Era a primeira vitória em fase eliminatória. Ali, a seleção inglesa começou a mostrar a que veio.

Inglaterra comemorando a vitória contra o Canadá em 2015 (Foto: © Getty Images)

Bateram o Canadá – donas da casa – nas quartas-de-final diante de uma torcida local empolgante. Venceram por 2×1 e alcançaram uma classificação inédita para a semifinal. Mas aí veio o atual campeão, Japão, e ainda assim a Inglaterra não se intimidou. Fez um jogo de igual para igual, que contou com boas polêmicas com a arbitragem e pênaltis inexistentes, mas que as japonesas certamente não esquecerão. As atuais campeãs do mundo passaram sufoco. O que aconteceu com aquele time, que sempre foi o "cavalo paraguaio" do futebol feminino? A eliminação veio nos acréscimos, quem diria, com um gol contra da própria Inglaterra, marcado pela inconsolável L. Basset, que chorou como criança após o apito final por ver seu sonho acabando ali.

Por muito pouco, a Inglaterra, nunca antes na história desse (ou de qualquer outo país) temida no Mundial Feminino, não foi finalista desta Copa ao lado dos Estados Unidos. Cavalo Paraguaio? Zebra? Nem um pouco.

O pontapé para a mudança

Foi no dia 31 de julho de 2012 que as coisas começaram a mudar no futebol feminino da terra da Rainha. E com um empurrãozinho do Brasil. Bastou uma vitória por 1 a 0 sobre a temida seleção brasileira na Olimpíada de Londres, diante de uma multidão de 70 mil de pessoas, para o país enxergar uma grande oportunidade de mudança.

Até que o renegado futebol feminino atrai audiência, perceberam eles – foram mais de 4 milhões de pessoas assistindo ao jogo no país só pela BBC One. Até que tem gente interessada nele, constataram – 70 mil pelo menos, nesse caso.

(Foto: © Getty Images)

Esse foi o pontapé inicial para a revolução no futebol feminino britânico. Governo e federação (FA) se uniram e lançaram um plano chamado Game Changer (Mudança de Jogo, na tradução livre) com o objetivo de fazer o futebol feminino se tornar o 2º esporte mais popular do país em cinco anos – atualmente, futebol, críquete e rugby (todos masculinos) estavam à frente dele.

Estratégia e investimento: a chave para o sucesso

O plano era (é) ambicioso, mas a estratégia por trás dele também. A ideia é agir em três frentes: (I) investir no desenvolvimento do futebol feminino entre as crianças; (II) fortalecer a liga local e a seleção; (III) e aumentar a base de torcedores.

(Foto: Reprodução/Manchester City)

De 2012 pra cá, a liga britânica (Women's Super League), que tinha oito times até então, hoje tem duas divisões com 12 equipes. Três anos atrás, só quatro times de camisa britânicos tinham uma equipe feminina: Arsenal, Everton, Liverpool e Chelsea. Hoje, são pelo menos oito que vieram dos tradicionais clubes ingleses masculinos – os mesmos quatro de antes, além de Manchester City, Sunderland, Birmingham, Aston Villa, Millwall e Manchester United.

Além disso, a temporada de 2018-2019 da Women's Super League (primeira divisão) é a primeira em que todos os times são considerados profissionais, com todas as atletas se dedicando exclusivamente ao futebol. E mais: o campeonato cresceu tanto que hoje já conta com um patrocínio milionário da Barclays. E para coroar o bom trabalho que tem sido feito, no ano passado a final da FA Cup teve recorde de público em Londres, com 45 mil pessoas no estádio e mais de 2 milhões de pessoas assistindo ao jogo pela BBC.

Com um campeonato local mais consolidado e uma nova legião de torcedores, faltava então construir uma seleção forte. E para isso, a FA investiu em um grande centro de excelência para formar jogadoras (es) e técnicas (os) que, no futuro, poderão estar brilhando com o English Team. O St George Park, centro nacional de treinamento do futebol inglês, foi inaugurado em outubro de 2012. Ele custou 105 milhões de libras e abriga todas as seleções inglesas, masculinas e femininas de todas as categorias, com uma estrutura impecável.

Fran Kirby, camisa 10 (Foto: Nathan Stirk/Getty Images)

Embaladas pelo investimento na modalidade, pelo apoio significativo por parte da imprensa e dos torcedores e pelo ótimo futebol apresentado, o time inglês chega à França com status de favorita ao título. A maioria das jogadoras convocadas jogam na liga local e entre os destaques estão a capitã Steph Houghton e as ataques Fran Kirby, que esteve entre as 15 jogadoras que concorreram ao prêmio Bola de Ouro em 2018, e Toni Duggan, centroavante do Barcelona.

As Lionesses estão no grupo D e estreiam no dia 09 de junho contra a Escócia. Na sequência, jogam contra a Argentina no dia 14 e Japão no dia 19 de junho.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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