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Comentários sobre álbum da Copa mostram que futebol feminino incomoda

Renata Mendonça

30/04/2019 04h00

Foto: Dibradoras

Na última sexta-feira, a fabricante de álbuns licenciados da Fifa, Panini, lançou a edição da Copa do Mundo de futebol feminino deste ano, que acontece na França a partir de 7 de junho. A repercussão foi muito grande – e muito positiva -, mas também despertou os comentários "de sempre" daqueles que dizem "não gostar do futebol feminino".

São os famosos "ninguém liga para futebol feminino". Ou a turma daquele repetitivo "o futebol feminino é chato". Mas, ao se darem ao trabalho de comentar em todas as postagens relacionadas ao álbum da Copa feminina, mostram exatamente o oposto disso. Afinal de contas, se todo esse pessoal não se importasse mesmo com o futebol feminino, será que iriam perder um tempo precioso da vida para demonstrar seu desinteresse em forma de comentário?

Já dissemos aqui que é fato que, atualmente, as mulheres que gostam e se interessam por futebol ainda são minoria. Também dissemos que isso é fruto da falta de incentivo a elas para que se envolvam nesse universo. Mas a gente não vê essa maioria de mulheres desinteressadas por futebol comentando matérias para dizer que ele "é chato", que "ninguém liga". Também não lemos coisas como "parem de nos empurrar esse futebol de tudo quanto é jeito" vindo de mulheres em posts sobre esse esporte bretão.

E, no entanto, basta qualquer mínima menção ao tema futebol feminino em qualquer matéria, que haverá uma certeza: o comentário dizendo "ninguém liga para futebol feminino" e "futebol feminino é chato". É só fazer o teste nas postagens deste blog. Todo e qualquer texto que, de alguma forma, trata do futebol delas, sempre tem um grande número de comentários sobre o "quão chato" é esse tal futebol feminino. Só não dá para entender por que, então, as pessoas seguem clicando no post para comentar algo sobre o qual elas não têm qualquer interesse. É fazer questão de ir perder tempo – mas é também dar audiência para aquilo que dizem que "não dá audiência". E o interessante é que esse álbum da Copa feminina despertou a reação de todos esses lados: dos que ficaram empolgados com a oportunidade de colecionar as figurinhas do Mundial delas, e dos que fazem questão de comentar em cada post sobre a edição para dizer que "ninguém vai ligar para isso".

Só no post divulgado pelo próprio UOL Esporte em sua página no Facebook, são mais de 7,6 mil curtidas e algumas centenas de comentários. Discussões muitas vezes longas entre seguidores que queriam fazer valer o ponto de que "ninguém quer saber de futebol feminino". E tem uma estratégia muito boa para aqueles que não querem. Que é simplesmente não ler sobre, não assistir, não comprar o fatídico álbum. A lógica deveria ser simples. Para fazer a comparação mais simplificada do mundo: se você não gosta de jiló, não há nada mais interessante a se fazer que simplesmente não comer jiló. Você não precisa sair aos quatro cantos do mundo gritando sobre o quanto jiló é ruim, é péssimo, ninguém gosta. Não precisa discutir com quem gosta de jiló argumentando que "ninguém se interessa por jiló". O seu problema, ou melhor, a sua solução é pura e simplesmente não comer jiló.

Por algum motivo, a discussão com o futebol feminino não acaba aí. Não há o lado que gosta e o que não gosta. Há o lado que gosta e o que não gosta, porém tenta convencer todo mundo de que não tem por que gostar. E aí todo esse pessoal que não gosta traz os argumentos clichês sobre o nível do jogo, que é lento, que não tem graça, que precisa diminuir o gol, o campo, o tempo, e o que mais puder diminuir, sem ter visto um jogo de futebol feminino, sei lá, desde a última Copa ou a última Olimpíada – até porque, infelizmente, não teriam muito onde ver mesmo, já que são pouquíssimos os jogos televisionados.

Vamos simplificar nossas vidas. Ninguém é obrigado a gostar de nada. Então, para os que não gostam de futebol feminino, a solução é simples: é só não comprar o álbum. As mulheres resistiram até mesmo a uma proibição por lei por quatro décadas e não pararam de jogar. Vocês acham mesmo que elas vão parar por causa de vocês?

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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