Topo

Dibradoras

A 3 meses da estreia, Vadão diz que seleção não está preparada para Copa

Renata Mendonça

20/03/2019 04h03

Foto: CBF

A seleção brasileira de futebol feminino estreará na Copa do Mundo deste ano, na França, no dia 9 de junho diante da Jamaica. Faltam menos de três meses para o início do torneio e apenas um encontro entre o time brasileiro (que fará dois amistosos no início de abril) antes que todas as jogadoras se apresentem no fim de maio para o Mundial.

Após as três derrotas na She Believes Cup no último mês – que, somadas aos últimos resultados o Brasil em 2018, formam a pior sequência da seleção feminina na história, com 8 derrotas em 9 jogos -, muitos questionamentos surgiram a respeito da forma com que o técnico Vadão tem armado o time. Ele que já acumula mais de três anos à frente da equipe brasileira (contando um intervalo de 10 meses entre 2016 e 2017) vive sua pior fase no cargo e chega a admitir: a seleção não está preparada para o Mundial.

"A gente precisa também falar pra mostrar uma realidade nossa. Hoje a gente não está devidamente preparado pra jogar o Mundial. Nós temos que melhorar nessas duas datas que vamos ter e, na hora que chegar o Mundial, nós temos que estar melhor", disse em entrevista ao podcast das dibradoras.

Vadão acredita que o torneio amistoso contra Inglaterra, Japão e Estados Unidos serviu para que ele identificasse o que ainda precisa ser ajustado até a Copa. Quando questionado sobre quais seriam esses ajustes, ele respondeu: "tem que ajustar de maneira geral".

Em sua primeira passagem comandando a seleção brasileira, entre 2014 e 2016, Vadão foi eliminado nas oitavas de final da Copa do Mundo, na semifinal olímpica e na disputa pelo bronze da Rio-2016. Reassumindo a equipe no fim de 2017, o treinador conquistou a vaga para a Copa e a Olimpíada garantindo o título da Copa América – competição que tem adversários bem mais fracos e que o Brasil só perdeu uma vez na história -, mas diante dos principais adversários pensando no cenário mundial, acumulou derrotas e atuações ruins. Ele reconhece também que vê o time de hoje jogando pior do que aquele que disputou a semifinal olímpica em agosto de 2016.

Seleção brasileira encerrou participação na She Believes com 3 derrotas em 3 jogos (Foto: CBF)

"Concordo que estamos abaixo. Na Olimpíada, a gente estava muito melhor. A gente tinha 10% de erro de passe na Olimpíada, hoje isso aumentou muito, está de 20% a 25% a média de erros. Nós precisamos corrigir posicionamento, entrosamento. Para deixar as meninas melhores, fatalmente nós chegaremos melhores do que estamos", garante.

Diante das críticas que recebeu pela escalação da atacante Andressa Alves na lateral, Vadão explica que precisava testar jogadoras "versáteis em várias posições". Ele se vê muito mais preparado hoje para disputar a Copa por conta da experiência que acumulou à frente da seleção feminina nos últimos anos e diz que está acostumado a pressão.

Veja os principais trechos da entrevista com Vadão:

~dibradoras: Como você avalia o desempenho da seleção feminina na She Believes Cup?
Vadão: Acho que, de um modo geral, nós fomos bem. Não conseguimos os resultados que gostaríamos, mas jogamos de igual para igual com as três seleções. Acho que contra a Inglaterra nós fizemos um primeiro tempo primoroso, depois a jogadora delas foi feliz naquele chute que ela acertou. Contra o Japão, dominamos o jogo, mas tomamos os gols em bobeadas nossas. Contra os EUA, não fomos tão bem no primeiro tempo, mas melhoramos no segundo. Lógico que os resultados não foram os que a gente esperava, mas era um risco que queríamos correr para enfrentar as melhores seleções.

~dibradoras: Nos jogos da She Believes, o Brasil apresentou uma certa desorganização, principalmente no meio-campo. A Marta e as outras atacantes precisavam buscar a bola lá atrás, porque ela não chegava, não tinha criação no meio-campo. Além disso, a atacante Andressa Alves, acabou sendo aproveitada na lateral. Como você viu isso?
Vadão: A gente estavam sem a Andressinha, contundida. Por isso que a gente tentou. Thaisa e Formiga estão acostumadas a jogar ali (no meio), mas na falta da Andressinha, a gente testou a Andressa Alves também. Eu tenho que testar, eu não estava inventando, eu estava observando, é diferente, eu tenho problemas para resolver e tenho que tentar resolver. Faltou uma ligação melhor, passe mais apurado, para colocar as atacantes em melhor condição. Só que nós não tínhamos essa atleta. Opções ofensivas apareceram, Ludmilla, Geyse, a Kerolin. Surgiram atacantes, mas no meio-campo e atrás apareceu pouco. Tivemos carência muito grande de surgimento de jogadoras.

Foto: CBF

~dibradoras: Para essa posição, tem a Gabi Zanotti, camisa 10 do Corinthians, ganhou o prêmio de Craque do Brasileirão ano passado. Tem a Marcela do Corinthians, que pode jogar ali também, tem alguns nomes. 
Vadão: Tem uma série de análises que as pessoas podem entender diferente. Se você estivesse no meu lugar, você faria diferente. Isso é normal. O dia que eu soltar a convocação final , eu tenho certeza que 4 ou 5 peças serão polêmicas, é questão de avaliação, de gosto. Isso faz parte, Tite passa por isso. Eu não acho ruim a discordância. Acho só que quando faz uma crítica forte, pode perguntar pra mim antes. Nunca neguei dar uma entrevista.

~dibradoras: Você assumiu o comando da seleção brasileira em 2014, disputou a Copa em 2015, Olimpíada em 2016, depois saiu e voltou em 2017. Como você vê a seleção comandada por você hoje em comparação com aquela da Olimpíada? O Brasil está jogando melhor ou pior?
Vadão: Acho que na Olimpíada nós estávamos melhor do que nesse momento. Acho que um dos grandes motivos era que naquela realidade, a gente tinha a seleção permanente. A gente tinha tudo, a preparação física, força, tudo aquilo que as atletas brasileiras precisavam, nós fizemos. A gente detectou as coisas, e foi trabalhando. Teve gente que ganhou 5kg de massa muscular. A gente tinha um controle muito grande. Que controle a gente tem hoje? Nenhum.

~dibradoras: Mas a seleção permanente é algo fora da realidade, não? Nenhum país do mundo faz isso, porque senão você não desenvolve a modalidade, mantém as jogadoras só na seleção, sem desenvolver o futebol dos clubes.
Vadão: Sim, concordo. Mas foi muito útil naquele momento. Mas hoje nós não conseguimos ter acompanhamento físico delas. Você pega o histórico da Fabiana, da Cristiane. Na China elas emagrecem, perdem massa muscular e se lesionaram. Aqui você tem que pegar, fazer um trabalho de fortalecimento até melhorar. A Fabiana jogou um jogo comigo nesse tempo todo. Agora estamos fazendo isso aqui, esse trabalho físico, acompanhando, monitorando as atletas para a gente chegar melhor nos próximos amistosos. Fatalmente nós chegaremos melhores do que estamos.

(Foto: Laura Zago/CBF)

~dibradoras: Você acumula a pior sequência da história da seleção feminina, com 8 derrotas em 9 jogos. Como vê essa pressão a três meses da Copa?
Vadão: O grande peso disso tudo é que o problema não sou eu, o problema é a seleção. Porque eu, particularmente, venho do futebol masculino, onde existe muita pressão, eu tenho uma carreira de 27 anos, não comecei agora, então me sinto preparado para qualquer tipo de cobrança. O objetivo é tirar o peso delas, porque acaba refletindo nelas. Às vezes a pessoa vai perdendo a confiança. Então a minha missão quanto a isso, além de melhorar parte tática, física que nós já falamos, minha missão é tirar o peso das costas delas, mesmo que venha tudo para a minha, porque eu me sinto preparado para qualquer coisa, não é novidade pra mim ser pressionado.

~dibradoras: Você vê o Brasil como favorito para disputar o título na França?
Vadão: O Brasil sempre é favorito. Porque primeiro nós temos uma equipe muito boa tecnicamente falando. Nós precisamos acertar o time, ajustar. Em condições adversas, a gente teve um ponto de equilíbrio, foi o que esse torneio mostrou pra gente. Falta muita coisa? Claro, mas a gente jogou de igual pra igual com as três seleções. Então lógico que a gente é favorito, também. Hoje são muitos (times) mais favoritos. A gente vai brigar, tem condição de brigar. Agora a gente precisa também falar pra mostrar uma realidade nossa. Hoje a gente não está devidamente preparado pra jogar o Mundial. Nós temos que melhorar nessas duas datas que nós vamos ter e, na hora que chegar o Mundial, nós temos que estar melhor.

Foto: CBF

~dibradoras: O Brasil chega para essa Copa com o peso de acumular sua pior sequência de resultados da história. Você será o primeiro técnico a comandar a seleção feminina por dois mundiais. Como você vê isso?
Vadão: Hoje estou muito melhor do que na primeira, porque eu não tinha experiência de Copa do Mundo. Não justificando, mas as derrotas a gente sabe o que aconteceu. Eu aprendi com o decorrer dos anos a não sofrer antes das coisas acontecerem. Então, por exemplo, não vou ficar pensando no que vai acontecer. O que interessa é que eu tenho que estar tranquilo pra dirigir, tenho que ter lucidez.

Ouça a entrevista completa com Vadao pela Central3

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

Dibradoras